CAPÍTULO 15: ENCONTRO

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10 de Janeiro de 2021 - 09:30

Rapidamente eu guardei a segunda carta com data 06/06/2000, corri na direção do celta cinza que eu havia alugado no aeroporto e comecei a dirigir para a casa de Fausto.

Após passar pelos dois mata-burros virei a direita e acelerei pela via seguindo reto por um tempo. Comecei a me lembrar de quando passava ali de bicicleta quando era criança e ia brincar na casa de Bruno, queria saber o motivo dessas memórias vindas tão repentinamente.

Eu sabia onde Fausto morava, Poente do Sul era uma cidade pequena, era só seguir reto por um tempo e virar à esquerda na casa que possuía uma rampa para uma garagem fechada por um portão branco, pelo menos era assim que estava na minha memória.

Por qual razão meu antigo professor de História seria Seis? Eu estava tão perplexo que cogitei a possibilidade dele ser o assassino, mas logo me refutei notando que não fazia sentido. Alguém frio como Seis não ficaria nervoso como Fausto estava no celular, e mesmo que ele fosse a fonte da informação sobre Josef Mengele ser derrotado quando foi exumado e não quando foi morto Fausto já estava velho e era amigo de vô Antônio a muito tempo pra fazer algo assim. A maior possibilidade era de que Seis estivesse ameaçando Fausto e fazendo-o de refém, ou algo pior, fazendo sua filha de refém.

Como essa parte de Poente do Sul era afastada da base da polícia, que ficava na parte "maior" da cidade, alguns poucos quilômetros dirigindo pela rodovia em que cheguei, e a possibilidade de haver viaturas próximas era baixa, eu resolvi ligar pra polícia agora enquanto dirigia. Pego meu celular e ao ligar ouço:

- Central de polícia, qual é sua emergência?

- Mandem uma viatura para a casa de Fausto professor de história urgentemente, ele está com a vida em risco.

- Espero que isso não seja um trote garoto.

- Você provavelmente conhece o falecido Antônio Vicent que faleceu a alguns meses, eu sou o neto dele.

- Ah Victor, me lembro de você...

- Sim eu sei, juro pela morte do meu avô que Fausto está em perigo, mande o máximo de policiais que conseguir.

Eu cortei a atendente que provavelmente ia puxar assunto sobre outras coisas, eu não tinha tempo, desliguei o telefone e dirijo em direção a rampa da casa de Fausto, deixando o carro estacionado na garagem em frente ao portão branco.

Fausto está sentado em uma pequena área coberta na frente de sua casa numa cadeira de balanço, ele é um homem de pele clara e enrugada, tem cerca de um e sessenta e cinco de altura, seus cabelos brancos caem ao redor da cabeça, que é careca em cima, usa uma blusa xadrez azul e branca, uma bermuda marrom com vários bolsos e calça um chinelo sem dedo também marrom.

Ele me aguardava de maneira paciente, nem parecia que estava em perigo agora. Eu desço do carro de maneira agressiva e Fausto diz:

- Ah, olá Victor...

- Cadê aquele desgraçado - Eu cortei sua fala enquanto abria o portão menor e entrava na casa - Cadê você Seis! - Grito expurgando minha raiva.

- Calma filho - Ele levanta rapidamente e põe a mão em meu ombro esquerdo - É melhor você se acalmar.

Aquela paz que transparecia de Fausto desapareceu quando eu encarei seus olhos, eles estavam levemente marejados e demonstravam um certo desespero, eu acalmo minha voz quando tenho a recordação: Fausto tem uma filha, e se Fausto estava ali solto a única coisa que podia estar em perigo era alguém que ele se importava, eu respiro fundo e digo baixo e devagar:

- O que ele fez? - Coloco as mãos em seus ombros caídos e encaro ele no fundo dos olhos - O que ele quer de mim aqui?

- Eu acho que você entendeu rápido de mais filho - Percebo que há pessoas do outro lado da rua na calçada, e alguns vizinhos encaram o portão da casa que é de grades, então estão todos olhando pra mim - Você realmente é inteligente como seu avô dizia.

- Ele foi morto por esse cara Fausto, não cite meu avô assim - Eu tiro as mãos de seus ombros e permaneço parado, eu não queria que mais ninguém se machucasse, então sabia que eu era um peão ali, precisava seguir ordens - O que quer que eu faça?

- Siga-me - Ele me guia para a sala de sua casa, com dois sofás de dois lugares, uma mesa de centro e uma grande TV pendurada na parede - Fique a vontade, vou buscar um café.

Fausto antes de fazer o que disse aponta na direção da mesa onde há um papel dobrado só então ele segue para a cozinha. Eu rapidamente pego o papel, abro e vejo que nele está escrito:

"Ele está nos fundos dentro da despensa com minha filha Melissa, por favor faça o que ele disse e não chame a polícia..."

Uma pontada vem em meu peito.

"...não diga nada, ele parece estar em todos os lugares."

Aquela carta parecia fazer mais sentido agora. A onisciência do espaço-tempo, então realmente Seis possuía uma habilidade dessas, por qual motivo vô Antônio tinha essas cartas? Como ele sabia disso? Por que Seis matou justamente meu avô?

Enquanto as perguntas fervilham em minha mente eu escuto Fausto me chamar na cozinha num tom exatamente igual ao que ele estava no celular. Eu sigo até lá, uma cozinha pequena, uma mesinha com quatro cadeiras, um balcão e atrás dele um fogão, após alguns segundos Fausto permanece parado e diz:

- Sente-se aqui - Ele pega a garrafa de café, serve um pouco num copo e me entrega enquanto eu me sento numa das cadeiras da mesinha - Eu queria me desculpar, mas eu não tive escolha.

- Não fale mais, você pode estar em perigo.

- Eu não me importo, eu vou morrer de qualquer jeito, foi o que ele disse - Ele vem em minha direção rapidamente - Salve-a.

Nesse instante algo vibra e aparece atrás de Fausto, como se surgisse em pleno ar, uma figura que ao ver de relance usava um capuz e um grande manto preto cobria todo o seu corpo, a única coisa visível era uma corda amarrada em sua cintura. Numa velocidade indescritível, quando a pessoa se moveu para o lado eu vi seu rosto, ou melhor, sua máscara, era a exata mesma máscara que eu havia visto naquele projetor, era Seis ali na minha frente.

Eu corri me levantando na direção de Fausto, mas Seis segurava uma faca de cozinha grande em suas mãos enluvadas, numa força e num corte liso Seis corta o pescoço de Fausto que cai tremendo no chão numa densa poça de sangue.

Eu corro na direção de Seis tentando dar um soco mas ele desaparece, eu sabia onde ele estava, ele estava fazendo a filha de fausto de refém. Eu corro na direção da despensa nos fundos da casa e abro a porta com agressividade. A filha de Fausto era uma menina de treze anos com pele clara e olhos azuis, usava uma blusa vermelha e um short jeans.

- Solta ela! - Grito - Por que está fazendo isso? Você quer a mim não é?

Seis segurava a faca suja de sangue na garganta da garota, permanecendo estático.

- Finalmente nos encontramos Victor Vicent, tenha mais calma - Diz o desgraçado com aquela mesma voz robótica irritante.

A Sexta PeçaOnde histórias criam vida. Descubra agora