Lucien decidiu que beber toda noite para dormir não resolveria seus problemas, em vez disso pensaria neles e acima de tudo em uma solução.
Ele repassou tudo que havia acontecido em uma lista mental encarando o teto que refletia a luz amarelada da escrivaninha.
Um salto de fé.
Ele pensava isso repetidas vezes, tudo que precisava era dar um salto de fé.
Lucien estava tentando, mas confiança era algo que ele precisava pra que aquilo funcionasse.
Então naquela noite ele fez uma promessa a si mesmo.
A partir dali ele faria tudo a seu alcance para viver bem, aproveitaria todas as coisas que o pai e aquela corte tinham a oferecer.
E não se contentaria mais com migalhas, ele se doaria de corpo e alma se recebesse o mesmo em troca.
Tentaria sorrir mais e ser verdadeiro nisso.
Num desses seus pensamentos ele sentiu aquela mesma chama em seu sangue como mais cedo na luta com Elara.
Ele respirou fundo e relaxou o corpo, sua mudança começaria ali.
Ele nunca mais se esconderia, a tristeza não era seu escudo, era uma pedra no pé.
Quanto mais ele se deixava cair naquela tristeza pior ele se sentia, e muitas vezes ele se sabotava sem ao menos perceber.
Quando aquela chama apossou todo o corpo de Lucien ele sentiu os olhos marejarem e ele ergueu o braço pendendo para cima.
A ponta de seus dedos se aqueceram e era como se a Chama crescesse e pedisse para sair para fora, e quando Lucien Cedeu pequeninas brasas se acenderam.
Ele estava pasmo e sentia um alívio enorme ao mesmo tempo. Era como se seu corpo tivesse finalmente se despertado de um sono profundo, em uma carga de euforia e alegria.
Seus olhos se arregalaram um pouco e ele engoliu em seco, os cabelos ruivos jogados no travesseiro refletiam as chamas dos dedos assim como os olhos.
E então ele desejou que brilhasse, e Brilhou.
As pequenas brasas se tornaram uma corrente fina de luz solar aquecendo o ambiente.
O rosto de Lucien estava radiante, aquele salto de fé faria com que ele se descobrisse, todas as facetas dele mesmo.
E ser livre, se sentir sem remorsos ou pesos fazia com que ele quisesse se tornar luminoso também.
Feliz consigo mesmo.
Amigos e família, Lucien teria tudo isso, mas acima de tudo, Lucien tinha a si mesmo. E isso? Bastava.
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Na manhã seguinte Lucien acordou leve como uma pena.
Parte de sua angústia não vinha diretamente dele, vinha dos poderes negligenciados por tempo demais.
E agora ele entendia isso.
Ele seguiu pelo corredor indo até a sala de refeições.
Aparentemente o café tinha se tornado o ponto de encontro de todos eles.
Dessa vez Lucien decidiu se sentar ao lado de Cris e de frente a zowa e Elara, Helion ficava na ponta bem ao meio dos dois.
Mas assim que ele entrou na sala Elara já havia sentindo.
Como se uma carga de energia estivesse tentando dizer "Oi, estou aqui".
O coração dela trotou e ela remexeu o corpo na cadeira.
- Bom dia - Lucien disse com um sorriso para eles, um sorriso tão sincero que Elara sentiu um friozinho na barriga.
- Você o tem - ela disse e ele a encarou, ele tinha poderes era disso que Elara falava - eu sinto vindo de você, eu sinto você...
Ele engoliu em seco e acenou positivo.
- Oque ele tem? - o pai indagou comendo um pedaço de melão, alheio ao que acontecia.
- Poderes - Lucien disse olhando no fundo dos olhos dele buscando uma reprovação- os seus e os dela....
Ele se referia a mãe.
Helion arregalou os olhos em choque e as mãos tremeram debaixo da mesa.
Seus olhos brilharam por um lapso de momento e seus cheiro se espalhou um pouco a mais que o de costume.
Lucien que respirava com dificuldade soltou todo o ar que prendia quando Helion abriu um sorriso enorme e encantador.
Era como se sua pele assumisse uma cor viva e seus olhos transbordassem.
Elara conseguia sentir toda felicidade que vinha de Lucien e aquilo aqueceu seu coração.
Lucien havia pensado em como seria se aquilo tivesse acontecido com Beron. Diferente dos outros meio-irmãos seu poder era um pouco maior e forte, Lucien tinha o poder de um herdeiro.
Ele não aguentaria pensar no que Beron faria consigo ou com sua mãe. E por isso se sentia bem por ter reprimido aquilo por tanto tempo.
Oriana não merecia sofrer aquilo.
Helion levou a mão até seu braço em um breve contato e sorriu para ele.
- oque é meu é seu - ele tentou conter todo seu orgulho - O sol nos escolhe e nós nos entregamos a ele.
Lucien sentia um misto de adrenalina pelo momento e uma felicidade implacável vindo de um lugar tão fundo em si que era difícil explicar.
Um salto de fé, poderia mudar tudo.
- Vai precisar aprender a controlar- Disse Zowa baixinho colocando a mão em um tigela de morangos dando alguns para Cris - Tio Helion poderia te ensinar...
Um silêncio se estabeleceu ali, não desconfortável mas levantava uma dúvida no ar.
Helion esperou pela reação de Lucien.
- se você quiser - o pai disse deixando evidente que a escolha era de Lucien mas que ele se sentiria muito feliz em fazer aquilo.
Lucien piscou Levemente e encontrou os olhos de Elara que pareciam expressar um apoio gigantesco a ideia, mas que mostravam também que o entenderia se ele não se sentisse pronto para aquele passo.
E ter um direito de escolher pelas próprias ações e vontades o encheram de satisfação.
- acho uma boa ideia- Lucien respondeu dando seu melhor sorriso ao pai que acenou em concordância, e quando eles voltaram a comer ele direcionou aquele sorriso para Elara se permitindo piscar o olho metálico para ela.
Elara sentiu um arrepio se alastrar por sua coluna e apenas o encarou.
Lucien não era um ninguém ou um bastardo.
Lucien era Herdeiro de Helion, portador do sol.
Sem mais medo, sem mais se curvar.
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