SÃO MUNDOS DIFERENTES ||Embry Call||

5 - AMIZADE

"Amizade nunca foi sobre troca de favores. Amizade é relação fraterna entre irmãos de laços sanguíneos ou não. Amizade é ajudar sem querer reciprocidade, é acolher sem querer abrigo... automaticamente essas coisas acontecem quando se encontra um verdadeiro amigo."

- Rogério Macena

Enquanto lavava a louça com Bella, fiquei pensando sobre uma coisa que estava me incomodando há um tempinho. Onde está Renée? Se ela é minha mãe, por que não veio me ver ainda? Por que não recebi nenhuma ligação dela desde quando acordei?

_ Bella? - Chamo, enquanto coloco a última colher no escorredor.

_ Hum? - Olha para mim, esperando eu continuar. 

_ Onde está a Renée? Se ela é nossa mãe, por que não me ligou ou veio me ver? - Pergunto enxugando minhas mãos em um pano cinza, que ficava perto da pia exatamente para isso.

Bella tirou o peso do corpo de seu pé esquerdo e colocou sobre o direito. Um claro sinal de desconforto.

_ Podemos falar sobre isso depois. - Abaixa o olhar, tentando fugir do assunto.

Esse comportamento de incômodo me deixa ainda mais curiosa.

_ Não. - Dou um passo a frente e cruzo meus braços. - Eu quero saber agora. Por que Renée não veio nem me ligou?

Isabella desvia o olhar e morde o lábio inferior, percebi que ela faz isso quando não sabe como agir ou está incomodada. 

_ Não tente me enrolar. - Advirto. - Eu quero saber. Fale, por favor.

Ela me olha de cima a baixo. Quando percebe que não vou ceder, dá um longo suspiro pesado.

_ A verdade é que... - Eu incentivo ela com o olhar. - A verdade é que você não é filha da Renée. - Fala rápido.

_ O quê? - Balanço minha cabeça confusa. - Como assim?

_ Você é filha apenas do Charlie. - Diz baixo.

_ Certo. Sou sua irmã só por parte de pai então. - Compreendo pensativa. - Então onde está minha mãe biológica? - Pergunto curiosa.

Bella me olha aflita.

_ Ela... Ela morreu. - Sussurra. - Você veio para Forks alguns dias após a morte dela. Ela estava muito doente, por isso você não veio antes. - Sua explicação termina em um fio de voz.

_ Que triste. - Falo depois de ficar calada alguns segundos. - É estranho eu não me sentir muito triste? Eu me sinto triste por saber que uma pessoa morreu, mas não me sinto triste o suficiente para alguém que perdeu a mãe. - Revelo sem-graça. - Isso é estranho? - Sinto uma pontada de culpa.

_ Claro que não. - Bella nega meu questionamento. - Você não se lembra dela ainda, então é normal não sentir tristeza por perdê-la. - Diz com a voz calma.

_ Verdade. Faz sentido. - Concordo, ainda sentindo culpa.

_ O que foi? - Isabella pergunta quando ver meu olhar confuso.

_ Se não morávamos juntas, por que o tal do Jacob chamava nós de Tênis e Cadarço?

Bella rir.

_ Você é bastante observadora. - Fala divertida. - Sempre viemos para Forks juntas, exceto quando sua mãe faleceu. Assim, toda vez que ele nos via, estávamos grudadas, literalmente. - Rir com alguma lembrança.

_ Como assim literalmente? - Junto minhas sobrancelhas confusa.

_ Nós sempre andamos de mãos dadas, desde crianças. - Bella dá de ombros e eu sorrio.

_ Gostei disso. Parece um tipo de fraternidade inabalável. - Sorrio ainda mais e minha irmã faz o mesmo.

_ E é. - Afirma. - Somos uma fraternidade inabalável. - Completa com um terno sorriso.

Passei o dia todo conversando com Bella sobre a nossa infância e adolescência. Meu coração ficou quentinho ao escutar sobre tudo que vivemos juntas. Somos irmãs e amigas, isso me traz um sentimento de segurança enorme. Quando acordei no hospital sem reconhecer ninguém, fiquei preocupada com o que eu teria que enfrentar totalmente sozinha. Agora eu sei que não vou precisar fazer nada sozinha, porque eu tenho alguém para me apoiar. Eu tenho uma amiga, uma irmã. Essas palavras são tão adoráveis e aconchegantes. 

_ Está tudo bem? Você está calada. - Bella chama minha atenção, tirando-me do meu devaneio.

Sorrio docemente para ela.

_ Claro. Só estou pensando no quanto eu sou sortuda. - Falo animada, fazendo-a soltar uma risada nasalada.

_ Você está extremamente otimista. Isso é bom. - Diz sorrindo.

_ Eu me sinto tão feliz por ter uma família, que parece que é a primeira vez que tenho uma. - Falo olhando ao longe, através da janela do quarto de Bella. 

Enquanto eu pensava sobre o que acabei de dizer, sinto uma fisgada na lateral da minha cabeça.

_ Você não é nada minha. - Uma garota fala acima de mim com o braço direito levantado. - Eu não sou sua irmã. - Grita extremamente irritada e eu sinto o medo daquela memória. 

_ Eu sinto muito, Mariah. Não vou mais falar que você é minha irmã. - Minha voz sai embargada. 

_ Ótimo! É bom você não se atrever a me irritar de novo. - Diz ríspida e dá um tapa no meu rosto. 

Ela me lança um olhar cheio de raiva e se vira passando pela porta. 

Olho ao redor, vendo que estou em um quarto cheio de camas. Encosto na que estava mais próxima e coloco minhas mãos sobre meu rosto, começando a chorar no chão frio. 

_ Elisa!? Elisa? - Sinto mãos nos meus ombros. Abro meus olhos, que nem percebi quando fechei, e vejo uma Bella preocupada me encarando. - O que está acontecendo? 

_ O quê? - Pergunto confusa, saindo do transe. - O que aconteceu? - Encaro minha irmã e percebo que minha voz sai trêmula. 

Bella me olha em choque.

_ Eu que pergunto. Você fechou os olhos do nada. Depois começou a tremer e chorar. - Diz quase surtando. - Você está bem?

Nesse momento, passo a mão no meu rosto e percebo que ele está molhado. Cruzo minhas mãos rapidamente ao ver elas tremerem. 

_ Eu estou bem. - Minha voz sai embargada. - Você tem certeza que eu não fui adotada? - Pergunto lembrando das várias camas no quarto.

_ Tenho. - Olha para mim confusa. - Por que está perguntando isso? - Franze a testa de preocupação. 

_ Nada. Eu estou um pouco confusa e cansada. - Balanço minha cabeça, sentindo uma leve dor com o movimento. 

Bella se levanta, coloca as mãos nos meus ombros e me inclina na direção da cama.

_ Você precisa descansar. - Explica quando olho para ela sem entender seu gesto. - Durma um pouco.

Forço meu tronco para me manter sentada.

_ Mas Jacob vai chegar. - Protesto, lembrando dela falando que o nosso amigo de infância viria nos visitar. - E aqui é seu quarto. - Cruzo meus braços. 

_ Você pode dormir aqui. E, quando Jake chegar, eu te chamo. Agora você precisa dormir um pouco. - Diz ainda me forçando em direção à cama. 

Quando estou deitada, bufo irritada e ela rir.

_ Durma bem. - Diz me embrulhando com um cobertor macio e quente. 

Sorrio fechando meus olhos. Adormeço rapidamente, escutando seus passos enquanto ela sai do quarto.