19 - SANGUE

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"Tudo que queria era que as lágrimas de sangue escorressem pelo ralo e minha mente manipulasse o assassinato."

- Sávio Santos




MEU CORPO TODO ESTÁ TREMENDO. A vozinha racional na minha cabeça grita para eu correr dali o mais rápido possível, mas o meu coração não pode deixar minha irmã e meu pai. Vou me afastando lentamente andando para trás com a respiração ofegante, enquanto a mulher sorrir para minha maldosamente. O mais assustador é que ela se aproxima de mim sem nenhuma pressa. Ela sabe que vai me alcançar, não importa o que eu faça para me livrar de suas garras.

_ Senhora, está tudo bem? - A voz soa do telefone.

_ Preciso de uma ambulância. - Grito o mais alto que posso para não ter chance da pessoa não me escutar. Mas antes que eu possa dar o endereço, a criatura aparece na minha frente em um piscar de olhos. Dou um grito agudo e me afasto. Na pressa de me manter longe daquele ser horripilante, caio sentada no chão.

_ Fica longe de mim. - Grito desesperada, mas ela não se importa com o meu desespero. A mulher apenas continua se aproximando com um sorriso maligno nos lábios descoloridos.

_ Você não tem chance de escapar. - Rir ruidosamente e se lança contra mim. Ela começa apertar meu pescoço, mas para quando escuta uma voz fria atrás de si.

_ Eu quero ela viva por enquanto. - Meus olhos se arregalam em choque. É a mesma mulher que falou que iria me matar no meu sonho.

_ Vejo que lembra de mim, querida. - Sorrir de um jeito estranho enrolando uma mecha de seus cabelos ruivos nos dedos. - Você tentou acabar com os meus planos. Mas parece que não deu muito certo. Não é mesmo? - Solta uma risadinha maldosa. - Vejo que já cuidou da família inútil dela. - Diz olhando para o lado de fora da casa.

_ Claro, minha senhora. - A criatura de olhos cinzas sorrir orgulhosa.

Meus olhos se enchem ainda mais de lágrimas e eu desvio o olhar daquela cena horrível.

_ Você é nojenta. - Falo entredentes e em um tom baixo.

A ruiva e a morena se viram para mim.

_ O que você disse? - A ruiva questiona com um olhar venenoso.

Mesmo com medo, levanto meu queixo e repito em alto e bom som.

_ Você é nojenta. - Grito a plenos pulmões. - Mata sem ressentimento algum e se vangloria das conquistas que não são suas. Você não é capaz de fazer nada com suas próprias mãos, então usa criaturas mais medíocres que você. Na verdade, você não é medíocre, você está abaixo de medíocre. - Dou-lhe um sorriso de escárnio, olhando-a nos olhos. A raiva brilha no seu olhar, mas ela parece controlar bem.

_ Você será a próxima que irei matar sem ressentimento algum. - Seu olhar cheio de desprezo me fita intensamente. - Vamos. - Fala com a mulher de cabelos castanhos e faz um portal no meio da sala.

_ Você não queria me matar? - Pergunto irritada e ela me encara sem expressão.

_ Calma, vai chegar sua hora. - Sou capaz de ouvir sua risada até o portal se fechar.

Olho para o sangue nas minhas mãos trêmulas e dou um grito estridente e cheio de dor.

Eu perdi minha família de novo. Por quê? Por que todos que amo me deixam? Por que isso acontece comigo? Por que não posso ter uma vida normal como uma pessoa normal? Por que tudo ao meu redor desmorona e eu fico debaixo dos destroços sem conseguir respirar?

Sinto um gosto ácido na minha boca e minha visão fica embaçada.

Eu não aguento mais isso. Eu não suporto mais perder tantas pessoas.

Abro meus olhos com a respiração descompassada e olho ao meu redor freneticamente. Estou no meu quarto sob minhas cobertas quentinhas. Levanto-me em um pulo e desço as escadas correndo. Fico paralisada quando vejo meu pai sentado na cozinha tomando café com uma torrada.

_ Papai? - Chamo baixo, mas alto o suficiente para ele ouvir.

Ele me olha claramente surpreso.

_ Você disse "papai"? - Sua voz soa incrédula e meus olhos enchem d'água ao vê-lo ali vivo e bem tomando café da manhã. - Você está bem, Elisa? Por que você está chorando? - Ele se levanta rapidamente e se aproxima de mim com as sobrancelhas franzidas de preocupação. Eu abraço meu pai apertado e ele demora um pouco para processar o que está acontecendo e me abraçar de volta.

_ Você está bem. Você está bem. - Sussurro entre lágrimas.

Ele afaga minha cabeça sem jeito.

_ Está tudo bem, Elisa? - Pergunta quando eu me afasto dele.

_ Sim. - Sorrio. - Eu só fiquei muito feliz em te ver. - Respondo sorridente e ele continua me analisando. - Estou bem. Mesmo. Sonhei que você e Bella tinham morrido, então fiquei muito feliz quando te vi bem. - Admito.

Meu pai sorrir mais relaxado e me dá um beijo na testa.

_ Bom, estamos todos bem. - Garante e eu assinto sorrindo.

_ Onde está Bella?

_ Deve estar se arrumando para sair com o namorado. - Responde voltando para a mesa.

_ Até mais tarde, papai. Bom trabalho. - Digo quase saltitando de alegria.

_ Ela falou mesmo "papai". - Escuto ele sussurrando ainda chocado e dou uma risadinha subindo as escadas.

Encontro Bella no quarto penteando o cabelo e abraço ela por trás.

_ Está tudo bem? - Pergunta preocupada.

_ Está. Só quero ficar assim pouquinho. - Sussurro fechando meus olhos e sentindo o cheiro de morango vindo do cabelo da minha irmã. Suspiro de alívio quando ela coloca as mãos sobre as minhas. Ficamos assim por um longo momento.

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