36 - ABISMO

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"Em cada instante das nossas vidas temos um pé nos contos de fadas e o outro no abismo."

- Paulo Coelho



EMBRY CALL

EU SABIA QUE TINHA ALGUMA COISA ERRADA. Acordei com uma estranha sensação de desconforto às quatro da manhã e não dormi mais. Isso nunca acontece comigo, eu sempre durmo bem todas as noites. Só que hoje, eu estava inquieto demais para conseguir sequer ficar deitado. Pensei em ir para a casa de Elisa, mas ela com certeza estava dormindo.

Mais tarde, para me deixar ainda mais desconfiado, Quil estava estranhamente grudento e Emily estava de alguma forma mais atenciosa, todos estavam.

Sentei à mesa para tomar café da manhã na casa de Emily e Sam. Todos pareciam tensos e receosos com a minha presença. Estão escondendo alguns coisa de mim. Tem alguma coisa muito errada acontecendo.

Coloco meu copo sobre a mesa fazendo barulho de propósito e todo mundo olha na minha direção. Certo, consegui a atenção de todos.

_ O que está acontecendo? - Pergunto sem rodeios e a maioria consegue fingir uma expressão de confusão relativamente bem, mas o rosto em pânico de Seth entrega tudo.

_ Como assim? - Emily finge que não está entendendo do que estou falando.

_ Não venha com essa, Emily, vocês estão estranhos hoje. Quil foi me buscar em casa e não desgruda de mim como se namorássemos, você parece estar pisando em ovos quando fala comigo, nunca vi Seth tão nervoso em toda minha vida e os outros sumiram. Vocês realmente acham que vou acreditar que não tem anda de errado? - Já estou de pé com a voz elevada, meus nervos a flor da pele. Tem alguma coisa me incomodando desde quando acordei e acho que tem relação com o que estão escondendo de mim.

Eles me encaram com os olhos arregalados de surpresa.

_ Embry, calma. - Emily pede e eu olho para ela cerrando os olhos de raiva.

Mas quando encaro seus olhos olhando para mim, eu percebo ali tristeza e muita pena. Alguma coisa parece estalar no meu cérebro.

_ Aconteceu alguma coisa com a Elisa? - Questiono com urgência, a raiva dando lugar à preocupação.

_ O quê? Claro que não! - Seth responde rápido demais enquanto Quil e Emily ficam calados. Não preciso de mais nada para sair da casa apressadamente.

_ Onde você está indo, cara? - Quil pergunta quando passo pela porta, e eu simplesmente não respondo.

Corro para fora e me transformo, saindo correndo em direção à casa Swan.

_ Embry! - Escuto Emily gritando, mas não olho para trás.

Corro o mais rápido que posso. Mesmo sendo o mais rápido da matilha, fiquei surpreendido com a velocidade que consegui alcançar. Eu sentia urgência, muita urgência. Alguma coisa gritava dentro de mim dizendo que eu precisava me apressar, outra gritava dizendo que eu estava muito atrasado.

Eu corria dentre as árvores e minhas patas batiam contra o chão sem necessariamente sentí-lo, tamanha era minha ansiedade.

Quando avistei a casa da família Swan, senti o inconfundível cheiro de Elisa. Sem voltar a forma humana e sem me importar de ser visto por alguém, corri para a casa. Eu só conseguia pensar em Elisa. Ser visto como lobo ou ser atacado já eram coisas que eu não me importava naquele momento, eu só me importava com ela.

Quanto mais me aproximava da casa, mais a inquietação parecia aumentar. Quando coloquei a cabeça para dentro da sala, fiquei paralisado. Primeiro veio a surpresa, depois, como um tsunami, veio um turbilhão de emoções: medo, tristeza, culpa, incerteza, raiva, desespero. Eram tantos sentimentos que eu tinha dificuldade para identificar, eu estava me sentindo congelado.

Elisa estava deitada no chão de barriga para cima. Eu me aproximei andando de forma desordenada de aflição. Foi um pouco difícil entrar na casa com o enorme lobo que me tornei, mas isso já não importava mais.

_ Embry!? - A amiga de Elisa diz incerta se levantando do sofá, mas eu mal olho para ela. Eu estava mergulhado demais na cena terrível a minha frente para prestar atenção em mais alguma coisa.

Elisa estava com os olhos fechados. Uma enorme raiva cresce no meu peito. Comecei a gritar perguntando o que tinha acontecido e por que ninguém estava levando ela para o hospital.

Escutei o coração de Mary disparado, assim como o meu, mas me dei conta de uma coisa; eu só ouvia dois corações em uma sala com três pessoas. Olhei na direção dela assustado e ela me encarou com os olhos inchados e vermelhos.

_ Ela se foi. - Sussurrou tão baixo que parecia que estava falando para si mesma.

Tudo despencou. Eu parecia ter caído em um enorme abismo, tudo parecia assustadoramente obscuro e eu não sabia como voltar para a luz.

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