Uma Garota nada Perfeita - O Recomeço

Ano Novo

Cheguei na casa de minha irmã, e ela me esperava apreensiva. A única coisa que fiz foi abraça-la e chorar descontroladamente. Não estava pronta para desabafar, depois de um dia cansativo de uma viagem de seis horas. Ela me deu um desconto por um dia, mas deixou claro que no outro dia não teria escapatória, teria que contar tudo que estava acontecendo.

E no dia seguinte foi o que aconteceu, ele não deu desconto para minhas olheiras e cara inchada por passar a noite chorando, e lembrando o rosto desolado de Daniel na rodoviária. O que me irritava e me deixava mais para baixo, o fato dele estar longe e ainda me afetar. E quando finalmente desabafei para Letícia, desabei diante dela que prometeu que o mataria. A decepção era tão clara em seu rosto que quase me arrependi por ter contado. Ela apostava auto em Daniel, ela realmente pensou que ele seria a pessoa a tirar da minha vida de escuridão, mas infelizmente ela estava errada. Ela o xingou e o ameaçou de todas formas possíveis, estava enfurecida com a situação, com Daniel, Andréia por me ter feito passar mais uma merda, e comigo por não ter lhe contado antes para dar um chute nas bolas de Daniel, nada que já não fiz.

A dois dias da véspera de ano novo não mostrei disposição para um "ano novo" e Leticia quis cancelar a festa, não fazia sentido cancelar uma festa porque eu estava de coração partido, então a convenci que iria ficar bem, que não importava o que aconteceu eu iria passar por cima, como  todas as outras vezes, mais que isso, dessa vez faria o possível para supera-las. Ela tentou me animar de todas as formas, desde as compras no mercado, comprando o que eu mais gosto até uma noitada de filmes, sorvete de chocolate para afogar as mágoas o que não ajudou. Mas tentei deixar meu mal humor de lado por ela estar se esforçando tanto. Na véspera a ajudei, no banquete e ela descontraia enquanto convizinhamos, ela me lambuzava de farinha de trigo enquanto preparávamos o bolo. Acabamos fazendo a maior bagunça na cozinha e quando Marcos o marido de Leticia chegou com as bebidas nos  flagrou em meio a briga de farinha, ele só nos olhou por um momento e riu, mas ao deixar as bebidas no balcão deu um leve beijo nos lábios brancos de Leticia a fazendo o abraçar e o sujar e então acabamos nos três, sujos de farinha e uma cozinha para limpar. Foi bom para distrair de Daniel e seus olhos tristes que me imploravam para que ficasse. Ficasse com ele. Não posso suportar lembrar de Daniel a cada minuto. Não só dele, mas dos meninos. Me pergunto o que estarão fazendo a essa hora. Em uma festa de arromba na casa de Paulo? Só faz dois dias que estou longe deles e estou morrendo de saudades de todos eles.

Subi para um banho, e tentei o máximo possível tirar toda a farinha de mim. Voltei limpando o pequeno rastros que deixei a ir ao banho. Quando cheguei na cozinha Leticia ainda estava limpando com seus cabelos brancos em um coque bagunçado.

- Não vai tomar banho? - falei olhando para seu estado fantasma.

- Quero primeiro terminar de limpar.

- Você acha que ainda tem farinha em algum lugar? - ela me olhou atenta e procura com os olhos algum sinal de farinha.

- Um pouco na orelha - falou apontando para minha orelha esquerda.

- Acho que vou tomar outro banho depois. Esfreguei tanto e parece que não sai - ela riu. Peguei um pano e comecei a ajudar a limpar.

- O papai não vai vim essa noite - disse  depois de um tempo.

- Não? Por que? - perguntei um pouco decepcionada.

- Parece que houve um imprevisto. E ele não vem - soou um pouco  triste.

- O que aconteceu? É algo sério? - perguntei preocupada.

- Ele não disse. Mas pediu para não ficar preocupada. Sabe como ele é. Pensa que não nos preocupamos com ele, é cabeça dura. Me lembra alguém - disse olhando para mim.