De cabeça pra baixo

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Estava de volta a minha rotina e tentava está ocupada o máximo possível para não pensar no problema que tinha causado ao dormir com Daniel. O que era irônico já que foi a tentativa de encerrar os problemas. Viver é cansativo. Estava tão distraída perdida em meus pensamentos que acabei derramando café em um senhor.

__ me desculpe eu...

__ está cega? - ele estava furioso e o que poderia fazer a não ser me  desculpar?

__ me desculpe. Foi erro meu.

__ óbvio que foi erro seu. Olha só minha camisa? - ele mostrou sua camisa social branca que estava manchada de café.

__ desculpe senhor, posso lhe recompensar com um café?

__ não já tenho suficiente - respirei fundo para não perder a paciência com o senhor que estava sendo muito rude, mas a culpa era minha.

__ então o que posso fazer pelo senhor? 

__ uma camisa nova para ir ao trabalho que tal? - até que ele não estava pedindo tanto já que praticamente o tinha escaldado com café quente. Antes que ele falasse algo mais Eli veio ao meu socorro apaziguar a situação.  

  Pensar em  como minha vida estava um desastre não estava funcionando, o trabalho era o único lugar em que podia ser normal como qualquer outra pessoa trabalhando, sem perguntas irritantes sem pessoas me jugando por fazer merda atrás de merda. Meu trabalho era meu céu. Mas hoje não estava funcionando também, os acontecimentos eram muito recente e não parava de pensar na expressão vazia de Paulo ao confessar que dormir com Daniel. Respirei fundo, literalmente minha vida era um caos. Entrei na cozinha com o resto do café que tinha sobrado na xícara após ser derramado em cima do cliente.

__ desastre? - perguntou Kátia quando entrei já prevendo o que havia acontecido.

__ sim, eu não sei o que está acontecendo comigo essa semana. Já é a terceira vez que derramo algo em um cliente. - bufei.

__ algo me diz que tem a ver com sua viagem. - ela sempre adivinhava ou era obvio demais.

__ não sei o que fazer. Como você concerta  algo que é impossível?

__ sempre á uma solução.

__ a solução é não ter cometido esse erro. Não é como pudesse voltar no passado.

__ então só á uma coisa a fazer.

__ e qual é?

__ esquecer e seguir em frente. - bufei. __ eu sei que não é fácil, mas quantas vezes você fez isso? você consegue. - ela sorriu me dando encorajamento. 

   Na verdade eu nunca segui em frente, essa história de seguir em frente nunca funcionou comigo, o passado sempre volta para me assombrar e isso é uma droga, como iria simplesmente seguir em frente se não tinha sido a única a se machucar minha vida estava de cabeça para baixo. Estranhamente me sentia nostálgica, minha vida estava voltando ao inferno que a  anos atrás era e isso não era bom.  O expediente acabou e estava me sentindo um pouco anestesiada com tudo. Não estava cansada fisicamente, mas sim mentalmente esgotada. Quantas provas mais teria que passar para chegar a chegada da maratona que minha vida estava sendo? Eli foi para sua casa e eu segui caminhando devagar, mas quando menos esperei estava parada de frente a porteira da casa. Tomei um banho assim que pisei em casa e aquela sensação estranha não saia de mim. Jack não estava em casa, talvez estivesse trabalhando até tarde na faculdade então tentei me distrair com a tevê o que não estava dando muito certo. Jack sempre era minha distração mesmo quando ele só estava lá estudando era divertido o ver tão concentrado sem piscar por minutos. Mas agora a única coisa que estava me chamando atenção era a porta do quarto que usávamos como deposito. Era isso que iria fazer já que estava me sentindo tão nostálgica iria me aventurar no passado. Assim que abri a porta o cheiro denunciava que a muito tempo não vinha sido aberto e ao ligar as luzes também havia muitas teias de aranhas. Passei pelas caixas em empilhadas e parei quando vi em uma das caixas escrito COISAS INÚTEIS  com certeza eram minhas coisas. Peguei a primeira caixa de três que estavam empilhadas e me joguei no chão para provar o sabor doce da nostalgia. A primeira coisa que tirei foi um um celular de brinquedo das meninas super poderosas. Fala sério isso é que é inútil. Próximo um chaveiro da docinho das meninas super poderosas, outro uma pequena toalha das meninas super poderosas, qual era meu problema com as meninas super poderosas? Não lembrava de ser tão infantil. E o próximo um bolo mofado com a cara da docinho derretida. Brincadeira não era para tanto. Literalmente coisas inúteis. Joguei a caixa de lado e peguei a próxima caixa e o primeira coisa que tirei foi uma sai xadrez que me lembrava perfeitamente dela, amava essa sai no tempo de escola, era praticamente minha farda, nem lembrava que existia ainda. Feliz com a descoberta vesti a saia que cabia mas não fechava, obviamente meu corpo não era o mesmo dos meus dezesseis anos, mas ainda assim ficava boa. Um suspensório tinha  pon pons em forma de caveira e minhas meias arrastões com estrelas, acho que meu estilo era um pouco extravagante na adolescência. Quando percebi estava ridícula com toda aquelas coisas velhas e algumas pequenas, mas estranhamente me sentia bem com elas. A próxima caixa tinha escrito em letras grandes COISAS DO PEDRO sentia que não devia reviver aquelas lembranças por mais boas que fossem, mas ainda sim eram dolorosas, sendo eu uma masoquista por natureza não pude evitar abrir a caixa e encontrar cada objeto que tinha me presenteado ou me deixado após partir. E lá estava sua jaqueta preferida que  o deixava com um ar de bad boy que mesmo depois de morto seus pais não fizeram nenhuma  cerimônia quando tive a ousadia de a pedir para mim. Sua paleta azul do violão, um globo de neve que me deu em meu aniversário de 14 anos, um boneco do Home simpson, seu primeiro demo autografado, seus desenhos do dia a dia e seus milhares de cartões de aniversário e datas comemorativas. Era impossível um pequeno caroço não se formar em minha garganta. Ele era o meu melhor amigo, parceiro e meu amor, era perfeito. Por que as coisas não podem ficar como estão em vez de mudar?

Uma Garota nada Perfeita -  O RecomeçoOnde histórias criam vida. Descubra agora