Alívio

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Eu apenas chorei durante a noite. Nem sei em que momento peguei no sono, apenas acordei e estava no chão do quarto envolta de coisas de Pedro. Estava no casulo que era a jaqueta de Pedro. Respirei fundo antes de levantar. Estava exausta. Levantei e assim que coloquei a mão na maçaneta ouvir vozes abafadas. Abri a porta devagar. Daniel e Jack estava na sala.

- Ela não é uma criança. Ela não é frágil como você pensa. - falou Jack.

- Não é? Eu a conheço melhor que ninguém seu idiota. - rebateu Daniel.

-Não é o que parece. - pigarreei e eles olharam para mim.

- O que está acontecendo?

- Você não disse que ela estava no trabalho? - Daniel parecia com raiva.

-Grande diferença. - Jack revirou os olhos. Espera? Ele revirou os olhos? Meu Deus! O que estava acontecendo aqui?

- Com licença, mas daria para vocês me explicarem o que está acontecendo aqui? - eles finalmente pareciam se dar conta de que eu estava na sala.

- Seu hóspede estava preocupado com você. - Jack pegou sua bolsa e saiu porta a fora. O quê?

- O que você fez a para tirar ele do sério? - Daniel fez cara de ofendido.

- Eu não fiz nada, ele que é todo irritadinho. - eu gargalhei.

- Isso é alguma piada? Jack irritadinho? Ele é a pessoa mais pacífica que conheço. - ele sorriu.

- Ele pode ser tudo, menos pacífico. Acho que ele está te enganando direitinho. Só toma cuidado com esse cara.

- Eu tenho que tomar cuidado com você. - ele suspirou.

- Depois não diz que não avisei. - ele saiu arrastando a perna com dificuldade até o quarto. "Eu merecia. Era só o que me faltava."

Eu não tinha entendido nada do que tinha acontecido. Só me ocupei em chegar ao trabalho, sentia que ainda precisava conversar com Eli. Assim que cheguei no trabalho não a confrontei, eu não faria isso dessa forma. Esperei até a saída para que pudéssemos conversar civilizadamente.

- Posso falar com você? - ela olhou em direção a estrada. Ela havia voltado para seu antigo prédio.

- Pode. - ela suspirou.

- Eu sei o que aconteceu. - ela pareceu chocada por alguns segundos, mas se manteve em silêncio. - Talvez você esteja com raiva, magoada agora, mas eu só queria te dizer que você pode contar comigo entende? Eu sei que não sou a melhor amiga para se ter, mas eu posso tentar ser uma amiga sabe...- eu mesma não sabia o que estava falando. Eu nem sabia o que era ter amigas. Ela permaneceu em silêncio. - E não fique chateada com Paulo por ter me contado, eu praticamente o forcei a dizer para mim. Não que isso ajude muito...- ela sorriu. Eu não esperava ela sorrir.

- Tudo bem. Quer tomar sorvete? - eu estava surpresa agora.

Pegamos um táxi e chegamos no centro da cidade. E na primeira sorveteria sentamos e pedimos milkshake. Então ela começou a falar.

- Eu não estou magoada ou chateada com Paulo. Só que depois de tudo que aconteceu...- ela olhou ao redor da sorveteria onde havia apenas um casal afastado de nós. - Eu sinto que não mereço ele.

- O quê? Não diga isso! Você merece muito mais que o Paulo quer te oferecer.

- Eu não sei. Talvez seja normal para você ter amigo como Paulo, mas não para mim. Eu sou pobre e sempre fui. A maioria dos meus problemas seria facilmente resolvido pelo dinheiro, mas com ele eu sinto que vou ser um estorvo, ele está constantemente querendo mudar meu estilo de vida. Mas eu não sou casada com ele. Sou apenas alguém que ele gostou? E se ele não me quiser no dia seguinte? Estarei acostumada a tudo aquilo, mas não poderei nem o ter nem nada, vou está muito ferrada. - eu não sabia que era assim que ela sentia. Era tão horrivelmente triste. Eu sempre que precisei ir para algum lugar nunca houve obstáculos. Apesar de ter uma vida de merda, dinheiro nunca foi um problema, ao contrário sempre foi cercado dele, o dinheiro sempre era o problema.

Uma Garota nada Perfeita -  O RecomeçoOnde histórias criam vida. Descubra agora