Capítulo 1 - Um Poema

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ARABELA


- Oi mãe – eu começo em voz baixa me sentando na raiz mais alta da árvore enquanto me encolho dentro da jaqueta quentinha – Tenho muitas coisas para lhe contar, mas acho que gostaria de saber primeiro sobre o seu filho encrenqueiro que acabou vencendo uma das competições mais vistas pelo mundo. Sim, ele sabe que a senhora não gosta disso, mas ele teima em dizer que é do instinto dele.

Faço uma pausa vendo alguns pedestres passarem pela frente de casa conversando baixinho entre si. Minhas mãos tocam o couro da capa do livro e eu aperto em torno de minhas mãos enquanto puxo uma respiração.

- Enfim – recomeço pigarreando – Ele está bem, só com alguns machucados em cima de machucados já antigos. Quanto a mim? Bom, eu continuo tentando não matar o sr. Seymour, não mãe, não o prefeito, Phillip é totalmente diferente do filho galanteador dele – suspiro e sinto o ar gélido bater em mim me fazendo me encolher ainda mais – Hoje eu descobri que vou ter que ir com ele até Paris, eu sei que é uma péssima ideia, mas Phillip me pediu muito educadamente e lhe devo muito por todos os anos que me deixou trabalhar com ele.

Encosto a cabeça no tronco da árvore e fecho os olhos tentando apreciar o silêncio. O sol mal pode ser visto agora, deixando uma breve linha na rua indo embora com o seu calor.

- Se lembra quando você me pediu para tentar ser gentil? Acho que continuo tentando desde aquele dia, mas é difícil quando ele teima em me olhar daquele jeito, como se eu fosse algo a ser temido ou sei lá – faço uma pausa mordendo o lábio inferior – Acho que essa ideia de viagem não é muito legal quando se pensa em com quem está indo

Abaixo o olhar para o livro em minhas mãos e dou um sorriso quando passo pelas folhas amareladas em meu colo

- Hoje eu trouxe um poema novo – falo com a voz embargada – Achei enquanto lia em uma biblioteca na cidade. Tenho certeza que a senhora irá gostar.

Pigarreio de novo e pisco os olhos rapidamente afastando o cabelo do rosto enquanto emprego a voz que ela usava para me contar histórias.

"Se a morte predomina na bravura

Do bronze, pedra, terra e imenso mar,Pode sobreviver a formosura,Tendo da flor a força a devastar?Como pode o aroma do verãoDeter o forte assédio destes dias,Se portas de aço e duras rochas nãoPodem vencer do Tempo a tirania?Onde ocultar - meditação atroz -O ouro que o Tempo quer em sua arca?Que mão pode deter seu pé veloz,Ou que beleza o Tempo não demarca?Nenhuma! A menos que este meu amorEm negra tinta guarde o seu fulgor"


Fico em silêncio e me levanto espanando a terra e os gravetos que grudaram em minha calça.

- É um lindo poema, não é? – eu pergunto inspirando brevemente – É um soneto de Willian Shakespeare, ele sabia bem sobre a vida e a morte, ou talvez ele só soubesse sobre o tempo, e a falta dele – fecho os olhos apoiando a testa no tronco da enorme árvore antiga e sinto o cheiro do orvalho – Não tive tempo o suficiente com você mãe

Uma lágrima solitária escorre por minha bochecha e eu fungo enxugando-a rapidamente

- Sinto sua falta mãe, mais do que poderia contar – sussurro em despedida e me afasto indo em direção a casa, o sol se foi completamente e só o que restou foi o escuro e o frio. Suspiro e entro dentro de casa deixando-a ir.

Ikaros passa entre minhas pernas e eu dou risada quando ele me olha com seus olhinhos brilhando.

- Está com fome, não é? – pergunto e ele mia balançando a cauda de um lado para outro – Tudo bem, vamos lá

Vou até o balcão da cozinha e coloco leite em uma tigela, me abaixo colocando no suporte e Ikaros praticamente pula no lugar antes de correr e ir até lá. Sorrindo pego algumas coisas na geladeira e as coloco no balcão começando a cortar as batatas. Me viro para pegar uma tigela e abaixo a cabeça pegando também um garfo

- Diga que teremos batatas assadas – pulo dois centímetros assustada e bato a cabeça no armário de cima. Rangendo os dentes com força me viro e vejo Dante fazer uma careta – Foi mal

- Idiota – eu resmungo massageando a cabeça e ele se senta no banquinho de madeira

- Não tenho culpa se você é assustada por natureza

- Você já viu o seu tamanho? Ou já escutou a sua voz? – pergunto terminando de tirar as cascas das batatas

- O que tem a minha voz? – ele pergunta franzindo a testa – Ela é normal

- Parece que você está ameaçando alguém a todo instante – eu comento colocando azeite e um pouco de sal

- Talvez eu esteja mesmo

Olho para o meu irmão e dou um sorriso. Dante Turner era o que podia ser chamado de beleza bruta, seus cabelos escuros e seus olhos mais cinzas do que azul davam medo até no cara mais grandão que existia. E eu já tinha visto esse medo bem de perto, o homem literalmente oscilou quando viu Dante na sua frente com cicatrizes e tatuagens cobrindo o seu corpo.

Ele tinha vencido antes mesmo que a luta tivesse começado.

- Como foi o trabalho hoje, Belle? – ele pergunta me desviando dos pensamentos

- Normal, a não ser pelo fator de que terei que ir a Paris por alguns dias – comento com causalidade e Dante arqueia uma sobrancelha enquanto pesca um tomate pequeno que estou cortando e o enfia na boca

- Paris?

- Sim – respondo e ele se encosta na cadeira

- Irá sozinha?

- Não, irei acompanhar o sr. Seymour em uma conferência

- Achei que Seymour não estava mais no âmbito jurídico – ele fala confuso e eu balanço a cabeça negando

- E não está, o sr. Seymour a qual estou me referindo é Bryan Seymour, o filho mais novo

- Uhm – ele resmunga e depois suspira se levantando e vindo até o meu lado – Só tome cuidado, e não suba na torre Eiffel

Me viro para ele que pega uma faca e começa a cortar os legumes para a salada

- Porque eu não subiria? Não é como se eu fosse cair de lá de cima

- Ah eu sei que não – ele diz e me olha sorrindo – Estou receoso em relação a você jogar o jovem sr. Seymour de lá de cima

Arregalo os olhos e vejo ele começar a rir quando eu jogo algumas folhas em seu rosto. Ele joga algumas de volta e eu me afasto quase saindo da cozinha para não ser atingida por sua mira assustadoramente certeira.

Porcaria de irmãos mais velhos

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