Capítulo 14 - Desculpas e Café

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ARABELA


Bato a porta com força e expiro o ar tentando controlar a raiva. Aquele miserável de uma figa.

Tinha que me beijar como se fosse algo instintivo dele? Mas que merda. Fecho os olhos jogando a bolsa em cima da cama e me jogo com roupa e tudo logo em seguida.

Estremecendo com a cama fria recoloco meus pensamentos, ordenando-os e acalmo minha respiração. Ok, ele tinha me beijado. E sim eu tinha gostado e talvez eu tenha reagido, mas isso não significa muita coisa, principalmente para um cara que sai beijando qualquer uma que passe por ele com um sorrisinho no rosto.

Faço uma careta com esse pensamento e decido excluir essa parte da noite deixando apenas as lembranças mais concretas e inocentes, como o fato dele ter arrastado a cadeira e ter me colocado em uma posição de estima.... Tudo bem, isso também não era inocente.

Coloco minha mão no travesseiro apertando-o e abro os olhos quando esbarro no livro que trouxe para a viagem. Sorrindo ligo a luz da cabeceira e abro onde eu tinha marcado hoje de tarde quando cheguei.

O livro era de um escritor chamado Killian Nayrb, e eu o tinha conhecido quando ainda estava na faculdade e encontrei um exemplar seu disposto na estante onde ficavam os romances contemporâneos, nomeado como "Finale". E foi na primeira página, na parte da dedicatória que eu tinha decidido que dali para frente ele seria meu escritor favorito.

Passo o dedo contornando as palavras escritas em um floreio rebuscado e leio as palavras que eu li dezenas de vezes para a minha mãe.


"Para você, que a cada novo por do sol se reconstrói"


Suspiro e abro na página que tinha marcado, o autor escrevia em forma de frases. Elas eram jogadas de forma propositalmente a chamar atenção, as vezes em forma de verso, outras eram somente palavras escritas ao vento e as vezes eram só páginas em branco, com somente uma palavra no meio.

A parte em que eu estava lendo era uma frase, simples e delicada de alguma forma.


"Na maioria das vezes, as respostas não vêm como um grito na escuridão e sim como um suave sussurro no meio da multidão"


- Arabela? – pulo da cama assustada como se ele tivesse gritado o meu nome e me sento colocando a mão em meu coração que ainda está correndo – Arabela? – Seymour sussurra de novo e eu suspiro antes de me levantar e ir em direção a porta.

Abro e prendo a respiração quando vejo Seymour com a camisa social aberta nos três primeiros botões e os cabelos bagunçados como se tivesse ficado contra o vento. Olho para ele arqueando uma sobrancelha e sou recebida por um sorriso pesaroso

- Te devo um pedido de desculpas – ele diz e estende um copo de isopor que eu não tinha reparado que estava em sua mão direita. Pego confusa e ele explica – Achei que uma rosa seria mais como um flerte barato, e que você ia me odiar um pouco mais – Mordo o lábio inferior prendendo um sorriso – Então achei que seria legal te trazer aquele bendito café que você tanto gosta

Olho para baixo espantada e abro a tampinha deixando que o aroma do café com canela e chocolate exalem livremente. Olho para Seymour novamente e pergunto curiosa

- Como sabe que esse é o meu café favorito?

- Você sempre o bebe depois do almoço – ele diz e levanta um ombro – Sempre o mesmo pedido, sempre o mesmo aroma

- Obrigada – eu falo meio hesitante – E você está desculpado

- Sério? – Seymour pergunta e abre um sorriso tão espontâneo como os outros. Eu percebi isso nele.

Bryan Seymour amava sorrir

E eu meio que achava isso completamente atraente

- Sim – respondo depois de um segundo

- Que bom, então sem ódio no coração, não é? – ele pergunta e eu reviro os olhos

- Não odeio você

- Então isso que dizer que gosta de mim?

- Você nunca para de fazer perguntas? – comento divertida e ele inclina a cabeça

- E você nunca para de tentar contorna-las?

Estreito os olhos e ele arqueia uma sobrancelha, suspiro depois de um minuto e seguro o copo com força

- Eu não desgosto de você – acabo respondendo e ele se inclina imperceptivelmente

- Então quer dizer que você está admitindo que reagiu ao beijo

- Ah pelo amor de deus – eu falo e fecho a porta em seu rosto. Encosto minha testa na porta e ouço quando ele volta a falar

- Isso foi um pouco agressivo da sua parte, sem contar que foi mal educado dado que eu lhe trouxe um copo de café

- Tchau – eu falo em voz alta encerrando o assunto e depois de um minuto em silêncio ele responde

- Boa noite Arabela Turner

Seus passos se tornam distante e eu expiro aliviada, dou um sorriso quando trago o café para mais perto e sussurro de encontro a porta

- Boa noite Bryan Seymour 

Cores da TentaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora