Capítulo 15 - Lápis e Histórias

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BRYAN


Bocejo novamente e pisco tentando entender o que está sendo dito a minha frente. Um homem (que eu esqueci o nome) está discorrendo sobre os riscos de confidencialidade que existe dentro do âmbito jurídico enquanto do meu lado uma mulher com o cabelo amarrado de forma brusca está escrevendo tudo o que ele está dizendo, fazendo um som de lápis irritantemente irritante.

Olho para trás tentando averiguar se Arabela está vindo e meus ombros caem quando não vejo nenhum movimento suspeito. Estalo o pescoço voltando a prestar atenção e me afasto assustado quando a mulher maluca do lápis me cutuca com suas unhas cumpridas

- Sim? – eu pergunto confuso e ela se inclina para o lado

- Você é advogado?

- Sou

- Você não parece advogado – ela diz e eu me viro de lado

- E o que eu pareço?

- Não sei, mas não parece um advogado quando todos estão prestando atenção e anotando as informações enquanto você está bocejando a cada 5 minutos e olhando para trás como se quisesse fugir daqui

- É porque eu realmente quero fugir daqui – respondo e ela balança a cabeça parecendo nauseada. Reviro os olhos e me viro para frente, mas não antes de olhar para trás.

Nada ainda

Resmungo e checo as mensagens no celular tentando ver se ela mandou alguma coisa.

Nada também

Inferno


✴✴✴✴✴✴✴✴✴✴✴


Massageando as têmporas me movo entre as mesas onde vai ocorrer o almoço e paro quando vejo Arabela do outro lado conversando com um senhor de aparência tediosa. Ela está assentindo brevemente enquanto ele continua falando, aproveito a distração dela e a observo de longe.

Ela está com um vestido batendo um pouco acima dos joelhos, de cor verde escuro fazendo com que seus cabelos longos e ondulados sejam ressaltados. Um sorriso automático aparece me chamando atenção e eu vou até ela.

- Boa tarde – anuncio e ela se vira suspirando baixinho. O senhor se vira para mim e eu estendo a mão – Bryan Seymour

- Roger Wilson – ele diz com um aperto firme e eu olho para Arabela

- Você não veio na reunião, estava ficando preocupado – começo e olho de lado para Wilson – Ficou presa com...

- Desculpa – ela diz apressada me interrompendo e eu arqueio uma sobrancelha quando percebo que ela entendeu minha intenção de colocar a culpa em Roger – Eu estava cuidando de algumas coisas na sua agenda da semana que vem

- Não sabia que podia trazer assistentes para esse tipo de conferencia – Wilson fala chamando nossa atenção, contraio os lábios já prevendo voltar ao mesmo assunto.

- Não sabia que era proibido – ressalto com a voz dura e ele franze a testa

- O senhor Wilson estava me explicando sobre os diversos fatores que correspondem a advocacia na América – Arabela comenta cortando o assunto – E ele foi muito gentil em me explicar sobre as relações que existem entre um país e outro

Franzindo a testa me viro para ela e a vejo lançando um sinal que eu escolho ignorar

- Tenho certeza que você também tinha algo a dizer, já que é especialista em relações internacionais – Wilson pigarreia e eu nem ao menos me viro, já Arabela se vira com aquele sorriso automático e prático

- O sr. Seymour gosta muito de exagerar – ela diz e continua – Enfim, estamos com certeza impedindo o senhor de ir almoçar. Agradeço bastante o seu tempo sr. Wilson

- Quando estiver com tempo livre posso com certeza explicar melhor sobre tudo o que se relaciona ao que eu estava dizendo – Roger diz e com um aceno de cabeça vai embora.

- Já vai tarde – comento e Arabela pisa em meu pé – Aí

- Você sabe quem ele é? – ela pergunta resmungando e eu dou de ombros

- Tenho certeza, pelo seu tom, que eu deveria conhecer

- Sim, deveria – Arabela suspira e se vira indo para o buffet – Ele é dono de uma das maiores empresas de advocacia empresarial europeia

- E o que isso tem a ver com...

- Você deveria vir a essa conferência com o intuito de fazer seu nome – Arabela continua me interrompendo de novo – E é isso o que nós vamos fazer

- Não gosto disso – respondo e arrasto a cadeira de Arabela, ela se senta e apoia seu prato na mesa

- Muito menos eu, mas tudo tem seu sacrifício

- Você não deveria se prestar ao papel de menos inteligente para ganhar favores para mim Arabela – comento estalando a mandíbula e ela pisca parecendo confusa

- Eu não estou fazendo esse papel

- Está sim, quando eu disse que você era especialista você me contradisse

- Seymour, preciso que entenda uma coisinha – ela diz e se inclina – Homens como ele, poderosos além da conta, sempre vão querer representar força e distinção. Quando alguém, e esse alguém pode ser qualquer um daqui, demonstra ter um pouco mais do que ele oferece como único, ele começa a ruir, e essa ruína pode afetar os que estão a volta.

- Então está dizendo que devemos sempre estar um passo atrás?

- Não você, mas eu sim – ela diz como se não fosse nada. Me inclino também e olho para aqueles olhos cinzas tão escuros

- Preciso que você entenda uma coisinha também Arabela Turner – minha voz sai sussurrada e ela arqueia uma sobrancelha esperando – Você nunca deve ficar atrás de ninguém e nunca deve ocultar quem de fato você é. Não importa se o homem for o maldito rei, se imponha

- Eu não...

- Você pode, sabe que sim – eu falo interrompendo-a – Faz isso o tempo inteiro, maldição, você parecia uma maldita general comandando tudo pela frente. Nunca vi meu escritório tão organizado em anos trabalhando lá

Arabela sorri revirando os olhos e eu observo seu corpo relaxar depois de alguns segundos

- Vai fazer isso? – pergunto suavemente e ela estreita os olhos pensando, depois de alguns segundos ela assente levemente e eu me afasto – Ótimo, e da próxima vez não me deixe sozinho na bendita conferencia

- Porque? Fez algo de errado? – ela pergunta maliciosamente com um sorriso e depois para quando vê minha expressão – Ai meu deus, o que você fez?

- Eu não fiz nada – falo e corto um pedaço da carne – Mas tinha a mulher maluca do lápis que me assustou

- Mulher maluca do lápis? – ela repete desconfiada e eu explico

- Você tinha que ver, ela ficava a todo tempo escrevendo e juro que quando o palestrante espirrou ela escreveu isso também

Arabela ri baixinho e eu sorrio apreciando o som

- O que foi? É verdade – eu falo fingindo estar magoado

- É claro que não é, você ama inventar histórias – ela diz bebendo um gole de sua água

- Eu não invento histórias

- Inventa sim, e com perfeição, devo acrescentar

- Eu só conto fatos – ressalto e ela balança a cabeça negando

- Mentira, você ama inventar

- Que afronta – eu falo chocado e ela ri de novo

Cores da TentaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora