Capítulo 10 - Farpas e Etapas

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BRYAN


Ficar doente era uma droga

Mas meio que ser cuidado tão carinhosamente por Arabela me fez querer ficar um pouco mais doente. Só para que ela continuasse acariciando meu cabelo enquanto colocava panos quentes em minha testa sem saber que eu a via e sentia ela.

Certo que tem a parte chata que é ela discutindo comigo a cada cinco minutos. Mas eu poderia sobreviver com isso.

- Ah vejo que melhorou – Noelly nos recebe no balcão com um sorriso e eu aceno

- Sim, a srta... - Paro e pigarreio fingindo uma tosse – Arabela me disse que você lhe deu aquele tônico, muito obrigada

- Ah não há de que – ela diz abanando a mão e eu assino o cheque entregando para ela que sorri e aceita – Vão para Paris agora?

- Sim, vamos pegar o próximo trem – Arabela responde e Noelly assente

- Então boa viagem pombinhos, e da próxima vez pensem em uma estádia maior aqui em Estrasburgo – ela comenta e nos acenamos indo em direção ao táxi

Olho com uma careta para a chuva que continua caindo e deixo que Arabela entre primeiro.

Esse lugar só chovia?


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Os nossos assentos reservados ficavam do lado esquerdo, Arabela decidiu se sentar no banco a minha frente enquanto eu me acomodei bem do lado da janela apreciando a vista que passava rapidamente.

Fico em silêncio e vejo os dedos rápidos de Arabela digitando freneticamente em seu tablet pessoal, me viro rapidamente quando vejo ela olhar para cima.

- Lionel acabou de enviar os documentos assinados – ela fala e eu me viro

- Ótimo, ele fez alguma anotação?

- Não, disse no e-mail que aceitava o que você estava propondo junto com o arquiteto

- Marque uma reunião com o arquiteto para quando voltarmos, e providencie um contrato de três meses

Arabela fica em silêncio e eu olho para ela, vendo-a me observar enquanto morde o lábio inferior

- O que? – pergunto e ela olha para o tablet em suas mãos. Vejo seu receio e suspiro aborrecido.

Eu preferia aquela Arabela que falava o que tinha em mente

- Só fale o que está pensando – falo num rompante e ela puxa uma respiração

- Não acho que devia colocar contrato de três meses apenas

- Porque?

- Porque mesmo que seja uma reconstrução acaba demorando, se não mais, do que construir do começo. E se você é quem vai ficar de apoio é melhor que tenha alguns meses a mais

Fico em silêncio e no final dou um sorriso assentindo para ela

- Concordo – ela abaixa o olhar com certeza anotando e eu pigarreio antes de estender minhas pernas apoiando-as ao seu lado no banco – Prefiro quando diz o que vem à mente

- Porque isso não me surpreende? – ela resmunga baixinho, mas eu a escuto do mesmo jeito

- Porque está dizendo isso?

Arabela sobe à cabeça me observando e eu relaxo a postura sobre o olhar curioso dela

- Quer mesmo que eu diga o que eu penso? – ela pergunta por fim e eu dou um sorriso pequeno

- Por favor

- Você sr. Seymour é do tipo que não se restringe a pensar antes de falar

- Está dizendo que eu não tenho um filtro?

- Você quem disse isso, não eu – ela ressalta e eu dou risada assentindo. Uma mulher se aproxima com um carrinho com vários aperitivos e sorri em minha direção

- Gostaria de algo? – ela pergunta com a voz cantada e eu aceno negando

- Obrigada – eu falo e ela seu sorriso aumenta

- Se quiser é só pedir – dizendo isso ela vai embora e volto o olhar para Arabela que olha para as costas da mulher e bate os olhos em mim, em uma expressão consternada

- O que? – eu pergunto assustado e ela revira os olhos

- Isso – ela diz e aponta para a mulher, logo em seguida sua expressão e voz muda imitando a mulher que acabou de passar – "Se quiser é só pedir" – estremeço com a voz dela cantando o francês como se fosse sua língua materna e prendo a respiração quando ela ri parecendo maravilhada – Sempre acontece com você?

- Acredite, as mulheres simplesmente se jogam em cima de mim – falo depois de me recuperar

- Porco – ela diz bufando e eu relaxo aproveitando essa nossa nova situação

- Estou falando sério

- E existe aquelas que se irritam e jogam bebidas em seu rosto? – ela pergunta se virando para mim, esquecendo o tablet em suas mãos

- Isso também já aconteceu – falo meditando sobre a pergunta e lembrando da ocasião – Mas logo em seguida ela disse que foi um acidente

- Quando eu jogar pode ter certeza de que não será por acidente – ela diz baixinho e eu dou risada.

Arabela sorri e meu sorriso aumenta. Até que conversar com ela era refrescante, até mesmo contando com as farpas.

Mas incrivelmente as farpas era o que eu mais gostava porque significava que ela estava brava comigo e estar brava é um sentimento... Qual seria o próximo estágio depois da raiva?

Cores da TentaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora