Capítulo 41 - Ficar ou Ir

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ARABELA


Seymour dirige o caminho de volta para casa de forma silenciosa e distante, seus dedos se contraindo de minuto em minuto como se um pensamento o assolasse e ele o contraísse com a ponta dos dedos.

Belisco o lábio inferior e puxo uma respiração quando finalmente estacionamos em frente a casa. Desço de forma lenta e vejo com o canto do olho Seymour ir até o porta malas e começar a tirar as compras, com uma só ida ele leva quase todas me deixando somente com uma bolsa média.

Droga

Pego-a e fecho o porta malas me dirigindo tão lentamente quanto eu posso até entrar e fechar a porta com um estalido. Seymour está colocando as compras de forma organizada em cima do balcão me fazendo sorrir pesarosa

- Não precisa fazer isso – eu falo baixinho e ele levanta um ombro sem me olhar

- Tenho que fazer algo

- Ou o que?

- Ou eu vou acabar falando besteira – ele responde sussurrando e eu pisco duas vezes

- Que besteira você poderia falar?

- Do tipo implorar para que você fique – Seymour diz e eu prendo a respiração quando ele para de colocar as coisas em pequenos blocos e se vira para mim com o olhar intenso indo de meus olhos, para a minha boca e de volta para cima – Eu sei o que seu irmão significa para você, só ainda não entendi porque você está indo também

Coloco a bolsa em cima do balcão e inclino a cabeça para o lado apontando para as escadas. Seymour franze a testa, mas me segue escada acima, puxando uma respiração, eu paro em frente a porta desgastada e abro-a antes de encostar na parede do lado esquerdo sem olhar para dentro

- Se você olhar dentro do guarda roupa irá encontrar todas as roupas dela do mesmo jeito que ela as colocou pela última vez – eu falo e engulo o pequeno nó em minha garganta – Se olhar para o lado da cama verá o sapato que ela usou um dia antes de ir para o hospital as pressas

Seymour me olha com os olhos estreitos e eu puxo uma respiração me forçando a continuar.

- Se você olhar para a cama verá a camisola limpa de cor verde que ela usava sempre que podia porque era seu preferido – faço uma pausa e olho para o corredor – Está tudo aí, do mesmo jeito que ela deixou. Nunca conseguimos tirar as coisas dela, achamos que era outra forma de se despedir – uma lágrima se prende em meus cílios e eu olho para baixo com a visão borrada – Eu odeio despedidas

- Sinto muito amor – Seymour diz e eu aceno sem olhar para ele enquanto respondo

- Dante acha que precisamos desse tempo fora daqui, fora dessas paredes

- E você concorda com isso? – ele pergunta suavemente e eu encolho meus ombros

- Eu não sei – falo a verdade e ela se afasta suavemente como um sopro – O que eu sei é que eu não segui em frente, eu somente me afastei. Me afastei de tudo o que me fizesse lembrar... – pigarreio e vejo com o canto do olho as sandálias dela de tiras douradas – Me afastei das ruas, da qual ela sempre comentava, ou das sorveterias que ela gostava de frequentar. Me afastei e fui para tão longe que todos os dias quando ia dormir ficava perdida, como em um pesadelo sem fim

Sinto em um momento a presença de Seymour e com um toque tão simples no queixo ele me faz levantar a cabeça e encara-lo. Uma lágrima quente escorre por meu rosto e ele a limpa com a ponta do polegar, afastando-a, seus olhos sempre presos ao meu

- Preciso que faça uma coisa para mim – ele sussurra e eu pisco fungando enquanto aceno concordando – Vou lhe falar algumas coisas, porque eu preciso fazer isso, necessito na verdade

Franzo a testa confusa e ele beija suavemente minha testa, roçando os lábios em minha pele

- Mas no fim só preciso que você as ignore, que você continue arrumando suas malas e que vá acompanhar seu irmão – ele termina e eu levanto a cabeça balançando a cabeça em confusão

- O que...?

- Faça isso por mim, tudo bem? Só me escute e depois eu vou embora, prometo

- Seymour

- Arabela

- Seymour

- Gatinha – ele diz, um sorriso tocando seus lábios. Porque ele sabe que eu vou escuta-lo e sabe que eu vou fazer isso. Fico na ponta dos pés e o beijo puxando seus lábios para os meus

Ele suspira parecendo atormentado, mas se inclina aprofundando beijo. Inclino minha cabeça para o lado lhe dando mais acesso e ele suga meu lábio inferior fazendo com que nós dois estremeçamos um contra o outro.

Seymour se afasta minimamente e me olha fazendo uma pergunta silenciosa, engulo em seco e o beijo em um selinho rápido. Aceno e ele fecha os olhos antes de encostar sua testa contra a minha

- Não vá – ele começa e eu engulo um soluço – Fique aqui e venha morar comigo, eu amo você, como amiga, como companheira. Mas principalmente como minha Arabela Turner, a menina que comprou um livro sem saber como me faria feliz, a menina que me encontrou no meio do caminho e traçou o nosso destino. A mulher que eu amei desde o minuto em que vi os seus olhos

Ele para com a respiração tão pesada quanto a minha, sua cabeça se move um centímetro e ele encosta a boca em minha bochecha, me beijando lá enquanto sua mão aperta minha cintura naquele gesto tão dele.

- Fique aqui Arabela e vou lhe dizer todos os dias como você me irrita, como você me faz ser um homem melhor, como você me faz sorrir quando me lança esses malditos olhares assassinos – um suspiro e eu inclino minha cabeça para trás encostando na parede atrás de mim, sua mão se move minimamente na minha cintura e outra lágrima escorre em minha bochecha

Sinto ele se afastar e quando eu abro os olhos o vejo de costas para mim indo em direção as escadas. Ele para um centímetro antes de descer e vejo sua cabeça virando minimamente me deixando só com um reflexo de seu rosto

- Amo você gatinha 

Cores da TentaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora