A day in July - CHAELISA

Capítulo 30

Dor de cabeça, foi o que senti assim que abri meus olhos as quatro da manhã.

Tomei uma, duas, e até três pílulas pra tentar fazer essa dor agonizante passar, mas nada adiantou. Quando olhei no relógio, já era quase cinco horas.

Levanto silenciosamente, calço minhas pantufas e me dirijo para fora do quarto, apesar da porta ranger um pouco, o sono das garotas é pesado o suficiente para não acordarem.

Semana passada Jisoo me contou que há uma sala de instrumentos no quinto andar, com guitarra, violão, bateria... E um piano.

Há meses eu não encosto em um. Eu costumava fazer isso quase todo dia na Austrália, mas mesmo assim, há meses eu não toco em um. O que mudou? Eu não tenho mais tempo pra isso? Como é possível eu não ter mais tempo pra música, ao mesmo tempo em que tudo que eu faço vinte quatro horas por dia é música?

Estou com medo de estar me perdendo, de estar esquecendo de fazer música pra mim, e não só para os outros.

Entro na sala e acendo a luz mais fraca, minha visão embaça um pouco pela mudança de claridade, mas logo se acostuma, e consigo enxergar o piano no meio da sala.

Antes de vir pra Coreia eu comecei a aprender uma melodia nova no piano. River Flows in you, essa melodia sempre me ajudava a organizar meus pensamentos, ou ignora-los, seja o que eu estiver precisando no momento.

Apesar de ainda não saber muito, comecei a mover os dedos pelas teclas, tentando lembrar as certas.

— Eu só preciso de um tempo pra botar a cabeça no lugar— Lisa disse olhando diretamente nos meus olhos,  não consegui sustentar o olhar e acabei encarando o chão enquanto ela falava.

— Jisoo me contou o que tem acontecido com você nos treinos. Por que não me disse?

—Porque isso não é culpa sua. Só que tem  muita coisa acontecendo e eu não tô conseguindo lidar com isso muito bem...

E eu sou uma dessas coisas.

— A propósito, eu já resolvi o lance da foto. — Lisa continua.

— Você sabia?

— Bambam veio me procurar, ele disse que Jennie o procurou pedindo um favor relacionado a mim, só veio confirmar. Você devia ter me contado, isso afeta tanto você quanto eu, não podia ter escondido isso.

— Eu sei, eu só achei que... — não terminei a frase, não conseguiria, não agora que o que eu temia estava acontecendo. — como conseguiu? Ela apagou simplesmemte porque você pediu?

— Na verdade eu fui no dormitório dela para conversarmos, comprei um chip novo antes e quando ela foi no banheiro troquei com o dela.

Isso com certeza faz mais sentido do que pedir ao amigo da amiga da minha amiga para roubar o celular da minha inimiga.

— Ah...— murmuro em resposta.

Lisa estava prestes a dizer mais alguma coisa, mas mudou de ideia na última hora, e apenas abaixou o olhar, assim como eu.

Passamos alguns segundos encarando o chão, eu não querendo ouvir uma palavra se quer que ela vá dizer, e ela não querendo dizer seja lá o que tem para dizer.

Até que ela pega minha mão. O toque me conforta, mas também me deixa apreensiva, não sei quando será a próxima vez que o sentirei

— Me dê uns dias, ok? Pra mim poder botar as coisas no lugar.