Capítulo 4

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Eu e minha mãe estávamos a cerca de quatro minutos nos encarando, meu pai desviava o olhar de mim para ela esperando alguém se pronunciar.

Confesso que achei que minha mãe fosse ficar surpresa, mas não tanto.

— Então...— digo ao perceber que se eu não falasse nada iríamos ficar assim por um bom tempo.

— Do que você está falando Rosé? — ela pergunta finalmente.

Ah sim, esqueci que ela não estava em casa quando conversei com isso sobre meu pai. Bem, isso explica o silêncio.

— Minha diretora me indicou para uma empresa de música na Coreia, a minha escola tem parceria com eles — levo até ela o formulário com as informações — E eles me aceitaram.

Pronunciar essa parte em voz alta ainda era um pouco estranho, um pouco incerto.

— Você tem certeza disso?— ela pergunta após ler algumas linhas.

Certeza. Era uma palavra um tanto forte.

— Não — respondo inevitavelmente abaixando um pouco a cabeça.

Meus pais se olharam confusos.

— Como assim não? Rosé, isso é uma viagem só de ida para outro país, não é brincadeira...

— Não quis dizer isso —a  interrompi antes que tivesse a ideia errada — Tenho certeza de que quero ir, só não sei se tenho capacidade suficiente pra isso.

Dou a volta na cozinha e me jogo no sofá. Pronunciar meus pensamentos em voz alta está sendo uma tarefa um tanto complicada hoje.

—Não sei se sou boa o suficiente.

Pude ouvir o suspiro de alívio da minha mãe, apenas por aquele ato eu quase conseguia ver sua cara de "é só por isso?"

— Filha, se sua diretora te indicou é porque com certeza tem talento, e ainda por cima eles te aceitaram! Não iriam desperdiçar essa vaga com qualquer um— ela diz sentando ao meu lado.

— Mas é muito importante que você reconheça seu próprio esforço e habilidades antes de qualquer um.

Acho que sou boa com música, eu sei que sou, mas isso... Ir para outro país com uma cultura completamente diferente, mesmo que eu saiba coreano, faz anos que não treino a lingua, provavelmente vou travar pra falar lá. Sem falar que eu não estou indo lá fazer um intercâmbio, estaria indo para treinar e virar uma cantora, uma idol de kpop. E principalmente, ficaria sozinha.

— Rosé, você já tem 19 anos, sabe que uma hora iria ter que seguir sua vida e se separar fisicamente de nós— minha mãe continua após, com certeza, ler meus pensamentos.

— Eu sei, só vou demorar pra me acostumar — murmuro ainda com a ideia de ficar sozinha em um país novo cravada em minha mente.

— Queremos que você seja feliz Rosé, e se você vê que essa viagem pode te proporcionar isso, então você deve ir —Meu pai bagunça meu cabelo de zoeira ao perceber que eu estava quase chorando, o ato acaba afastando as lágrimas e trazendo um sorriso em meu rosto.

— E não se preocupe com o dinheiro, temos algumas semanas, vamos dar um jeito até lá.

— Obrigada...— digo ao sentir minha mãe me abraçar de lado, e apoio minha cabeça em seu ombro.

É, decisão tomada, agora não dá mais pra voltar atrás.

Tecnicamente dá sim, mas é melhor pensar que não para evitar mudanças de ideia a cada medo novo que se instala em minha cabeça.

A day in July - CHAELISAOnde histórias criam vida. Descubra agora