Capítulo 1

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Pov. Rosé

—Rosé! Entra aí.

Ouço Mark buzinar quando estava na metade do caminho pra casa.

Ao olhar para trás pude ver seu carro estacionando próximo a calçada.

— Ah, obrigada Mark, eu acabei perdendo o ônibus— digo ao entrar, e ele logo dá a partida.

Não que minha casa ficasse muito longe, mas estava completamente exausta das aulas de hoje.

— Por nada, que tal aproveitarmos que estamos indo pra sua casa e já fazer aquele trabalho?

Concordo com a cabeça enquanto coloco o cinto. Terminei o colégio a pouco menos de um ano, mas como não queria fazer faculdade — sou indecisa demais sobre o que quero — resolvi que ficaria pulando de curso em curso até achar algo que de alguma forma toque minha alma. No começo tive medo de me sentir deslocada, mas quando Jeno, meu amigo desde o fundamental, decidiu vir comigo, a ideia pareceu menos sem sentido, e menos solitária também.

O curso que estamos no momento abrange quase todo tipo de arte, desde instrumentos e canto até esculturas e cerâmica, e foi onde conhecemos Mark, que apesar de apenas dois meses de amizade se tornou alguém muito presente na minha vida, ele é aquele tipo de cara que quando crescer com certeza vai ser o tio do "é pavê ou pacome?", mas apesar das piadas idiotas, é super compreensível e gentil.

Temos um trabalho em dupla para fazer, precisamos compôr uma arte autoral, não importa de que tipo, música, poema, pintura... Era apenas para semana que vem, mas quanto antes terminarmos melhor, então mandei mensagem para minha irmã avisando que logo estaríamos em casa.

— Jeno respondeu alguma coisa?—Mark pergunta ao me ver mexendo no celular.

Entrei em todas as redes sociais possíveis, Instagram, Twitter, Snap, Kakao... Mas ele não deu sinal de vida em nada. Já faz dois dias que ele não aparece no curso.

— Não, acho que vou na casa dele hoje no fim da tarde, pra ver se está tudo bem.

Mark concorda com a cabeça e então começa a falar sobre as fofocas que pegou da sala ao lado quando "foi tomar água" durante a aula. Certeza que ele era o aluno do Fundão no ensino médio.

                                  {....}


— Ah, esqueci o violão — Mark diz assim que passa pela porta de casa, eu já estava prestes a dizer que poderíamos usar o meu, mas ele já estava voltando para abrir o porta malas do carro.

— Hey, eu estava procurando sua paleta de sombras hoje e achei esses papéis jogados em uma gaveta, pode jogar fora? — minha irmã diz descendo as escadas com uma grossa quantidade de folhas em mãos, e eu não fazia ideia do que eram. Exceto uma.

Caminho um pouco mais rápido que o usual em sua direção e pego os papéis, a maioria já se rasgando,a maioria sendo boletins dos anos passados.

— Na verdade, pode sim, menos essa — digo pegando o papel cor pêssego e devolvendo os outros a ela.

— O que é? — Alice pergunta ao me ver guardar a carta no bolso, mas logo sei uma maneira de desviar de assunto.

— Por que estava atrás da minha maquiagem? Vai sair?

— Vou sim, inclusive já estou atrasada. E seu amigo não pode ficar até tarde, vamos sair pra jantar de noite — ela avisa pegando as chaves do carro e praticamente voando porta afora.

Dou a volta no sofá e me sento nele, tiro a carta do bolso e dou uma olhada naquelas palavras pela centésima vez nos últimos nove anos.

Tenho medo de que haja uma câmera em minha casa e alguém me veja relendo essa carta milhares de vezes. Mas se há prefiro nunca saber, seria vergonhoso demais.

A day in July - CHAELISAOnde histórias criam vida. Descubra agora