03 de Maio, o dia da minha viagem, faltavam menos de quatro horas para meu voo quando eu comecei a arrumar minhas malas. Lembro que Nayeon me mandou uma mensagem perguntando quando eu iria chegar, mas minha casa estava uma zona então eu nem lembrava mais aonde estava meu celular.
— Roseanne, eu te avisei pra fazer a mala antes!— ouço minha mãe gritar do primeiro andar ao mesmo tempo em que meu pai grita um "achei".
Ele para na porta do meu quarto e arremessa o aparelho em minha direção.
— Obrigada pai.
Mando uma mensagem pra Nayeon avisando que já tinha saído de casa.
Ela não precisa saber dos detalhes.
— Mãe, meu violão já está no carro? — grito do topo da escada pra minha mãe, que por sinal não ouve já que estava tirando o carro da garagem, mas recebo uma afirmação de Alice.
Depois de voltarmos para casa duas vezes porque esqueci meu passaporte e depois minha identidade, o caminho de meia hora até o aeroporto foi repleto de sermões e lições de moral por parte de minha mãe.
— Como pretende morar sozinha em outro país sendo irresponsável desse jeito?! — ela me repreende e olha para meu pai, esperando que ele reforce a bronca.
Ele não dizia nada, porque eu sabia muito bem que ele havia esquecido o celular em casa e só não falou nada pra não correr o risco de um divórcio.
[.....]
— Finalmente chegou! Achei que fosse me deixar sozinha — Nayeon diz me dando um abraço assim que me vê na porta do aeroporto. Já estava me acostumando e gostando dessas demonstrações de afeto, mas ainda me pergunto se ela age assim com qualquer pessoa que conheceu a poucos dias.
— Tive uns probleminhas com a bagagem.
Minha mãe bufa nada discretamente ao ouvir minha fala.
— Bom dia meninas, animadas com o voo? — Sra. Minhwa, nossa (ex?) diretora diz ao se aproximar, e eu nem sabia que ela estaria aqui. Informação que provavelmente também constava nos documentos.
E não, eu não li todo o documento que Nayeon me entregou. Só as partes que julguei importantes, no caso a data do voo.
— Sim! Na verdade tive que tomar dois calmantes antes de sair de casa — Nayeon diz como se tivesse acabado de contar um segredo.
O que na verdade é meio chocante, pois ela ela parece tão animada quanto sempre.
— Pelo visto ainda não fizeram efeito — Sra. Minhwa brinca, e eu tento segurar a risada. Nayeon finge estar ofendida, mas logo acaba rindo do comentário — De qualquer forma, ainda preciso instruir vocês de alguns detalhes do voo e fazer o check in — ela diz mais para meus pais do que para nós, e eles entendem que já é hora de se despedir.
— Claro, está na hora de ir, não é? — minha mãe diz ao me olhar com o maior carinho do mundo, e logo as lágrimas tomam conta de seus olhos.
— Já estou com saudades de vocês... — digo abraçando minha mãe, seus olhos brilhavam com as pequenas lágrimas se formando, prestes a chorar.
— Prometo que vou mandar notícias sempre que possível e vou tirar foto de todos os lugares que eu for — sei que eles estão com saudade do país natal, então minha promessa acabou deixando eles mais emocionados ainda.
— Não importa o que aconteça daqui a pra frente, já estou muito orgulhoso de você, filha — meu pai sussurra ao me abraçar, baixo o suficiente para que apenas eu ouça.
Não consigo segurar a vontade de chorar quando diz isso. Apesar de saber o quanto meus pais me apoiam nas minhas decisões, é bom ouvir diretamente deles. As vezes, é necessário ouvir para acreditar.
—Prometo que não vou te decepcionar — em hipótese alguma. Não importa o que aconteça lá fora, tenho que enfrentar de cabeça erguida, não posso deixar na mão a pessoa que mais me apoiou e acreditou em mim a minha vida toda.
— Prometa que não vai decepcionar a si mesma, você não tem que ter a aprovação de ninguém. Nem a minha.
Mal tenho tempo de agradecer as suas palavras por logo ser abraçada por trás pela minha irmã.
— Comprei uma coisa pra você — Alice diz balançando no ar uma caixa cor de rosa. Ela me entrega o objeto e observa minha reação com um sorriso enorme no rosto. E eu só tento adivinhar o que é pela sua ansiedade ser maior que a minha.
Bom, de todas as hipóteses que se passaram pela minha mente, nenhuma sequer chegou perto.
— Meu Deus Alice, é lindo! — digo ao abrir a caixa, colocando a mão na boca pela surpresa.
Ela me olha com uma animação contagiante, fazendo sinal com o olhar para que eu pegasse.
Com toda a delicadeza guardada em meu corpo, deslizo a mão pela superfície rosa clara do microfone, uma pequena parte preta divide a base do microfone em si, e nela havia escrito meu apelido Rosé no mesmo tom de rosa que o resto do objeto.
As lágrimas acumuladas simplesmente transbordaram.— Obrigada, Ali! Obrigada obrigada!! — repito sem parar lá praticamente pular em seu pescoço, o que a faz explodir em risadas.
— Nos ligue quando chegar — concordo ainda um pouco cega pelas lágrimas, e logo sou sufocada por um abraço triplo da minha família.
— Obrigada pela confiança — Sra. Minhwa agradece aos meus pais e eles ss despedem brevemente, não leva cinco minutos para que eu os veja atravessando a porta de saída do aeroporto
Nayeon e eu fomos orientadas pela diretora Minhwa sobre o processo de voo e aterrissagem durante os poucos minutos que faltavam até embarcarmos, segundo ela, infelizmente eu e Nayeon teríamos de nos separar logo na aterrissagem.
Sinceramente achei que fossemos ficar em um hotel na primeira noite, mas iríamos do aeroporto direto para nossas empresas.
Não sei se fiquei mais chateada por temos entrado em empresas diferentes ou por eu ter demorado tanto para conhecê-la melhor. Seria muito bom ter uma alma alegre e contagiante como a de Nayeon por perto.
Nosso voo foi chamado cerca de meia hora depois, e enquanto caminhava em direção ao portão de embarque já comecei a sentir aquele frio na barriga pela ansiedade de estar voando de novo. A última vez que viajei de avião foi para o mesmo destino que estou seguindo agora.
Nayeon me cede a cadeira da janela felizmente, e posso observar quando o transporte toma velocidade e parte para os céus. Como não há muitos passageiros o ambiente está bem silencioso, o que para Nayeon parece ser bom já que assim que olho para o lado a vejo tirando um pequeno travesseiro da mala.
As mil ideias e perguntas não param quietas em minha mente mesmo depois de meia hora de voo, como sei que com esse silêncio tudo o que conseguiria fazer era ficar ainda mais nervosa, coloco o modo aleatório de minha playlist e apenas observo o caminho traçado entre tudo o que amava e a incerteza do desconhecido.
Só espero estar preparada.
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A day in July - CHAELISA
RomanceRoseanne nunca foi do tipo que acreditava em destino. Mas não é possível que aquela garota desconhecida que encontrou em suas férias de julho não fosse parte de algo maior.