ENZO
Um cara alto, moreno de voz graça entrou no meio e apartou a briga. Me afasto tentando me controlar.
-VOCÊ VAI ME PAGAR SEU VIADINHO DE MERDA. Falo exaltado, a vontade de estourar a cara dele na porrada é grande.
-SE FODE, ENZO, SEU INÚTIL! Diego tenta me ofender. -Eu vou embora aqui, mas você vai me pagar, namoradinho do Cauã. Ele provoca, ando em sua direção e o cara alto me segura.
-Olha como você fala comigo! Grito. Ele anda e mostra o dedo do meio.
-Foda-se! Diz indo embora. O cara alto começa a rir. Olho pra ele sério.
-Qual foi a graça, irmão? Pergunto.
-Mona, a senhora brigando com um viadinho como o Diego. Ele fala.
-E aí? Pergunto não gostando.
-E aí? E aí que é muito idiota, o Diego caça confusão com todo mundo. Diz. Me sento no banco que tem atrás. Ele vem e se senta ao meu lado.
RAVI
Sento ao lado do garoto, ele me parece que não é daqui, seu jeito, não sei. Acho que vou perguntar. Penso.
-Você não é daqui, né? Pergunto.
-Não. Ele responde olhando pro chão.
-De onde você é, mona? Pergunto olhando pro céu e suspiro fundo.
-Eu não sou mona. Ele fala. Fico em silêncio esperando a resposta e ignorando seu comentário. -Eu sou de Flórida Paulista. Ele diz.
-De onde? Pergunto não fazendo a menor ideia do lugar.
-É um interior. Diz.
-Ahh. Falo. -E você tá aqui a passeio, suponho...
-Não. Ele diz me interrompendo. -Eu fugi de casa e moro aqui, agora. O garoto fala com um tom um tanto melancólico.
-Nossa. Falo surpreendido. -Por que fugiu? Pergunto um tanto me intrometendo.
-Ah, cara, vários motivos. Ele responde seco. É, acho que não é o momento. Penso.
-Entendi. Falo. -Ai, ai. Me despreguiço.
-Você também é viado? Ele pergunta. Olho pra ele incrédulo com a pergunta. Ele me olha. -Que foi? Pergunta.
-Mona, eu sou complicado, mas não sou "viado". Respondo fazendo aspas.
-Como assim complicado? Ele insiste na pergunta. -Você se veste estranho e usa essas linguagens de "mona" "bicha". Ele fala. Suspiro fundo novamente pra não matar esse garoto.
-Eu sou agênero e heterossexual. Falo. Ele me olha com uma cara de que não entendeu nada.
-Não entendeu, né? Pergunto rindo. Ele rir.
-Não, foi mal. Diz.
-Calma, vou tentar ser menos complicado. Falo. -Eu gosto do sexo oposto, ou seja, meninas! Falo. -Porém, eu não tenho gênero, sou um cara que não sou nem menino, nem menina, ou seja, sou agênero, entendeu? Pergunto finalizando.
-Mais ou menos. Responde. -Entendi que é hétero, mas essa parte de não ser menino ou menina. Diz.
-É, é complicado no começo, você só precisa entender que eu não me identifico com nenhum dos dois gêneros. Digo.
-Mas você se veste como menino e menina ao mesmo tempo, é estranho. Ele diz.
-É, pra maioria das pessoas é estranho, mas roupas são só roupas pra mim. Falo.
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MERETRÍCIO
RomanceO que é família pra você? Existe família perfeita? Conheça a história de Enzo, um garoto de 18 anos que foge de sua casa não suportando mais viver com sua mãe drogada e seu padrasto alcoólatra. São Paulo será seu destino, a cidade grande que nunca...