Capítulo 23

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 ENZO

Acordo com um barulho alto de porta sendo aberta, meus olhos estão vendados e não faço ideia de onde estou. Sinto um chute na perna.

-Ai! Reclamo.

-ENZO? Escuto Iara perguntar por mim.

-Iara? Você tá aí? Pergunto.

-Não enxergo porra nenhuma! Ela fala.

-Eu também não. Falo. -Acho que estamos em um carro. Digo sentindo algo se movimentando.

-Eles vão matar a gente. Iara fala com a voz séria. Meu corpo gela só de pensar nisso.

-Não vão. Falo discordando.

-Eles vão! Iara teima em dizer. Me desespero e começo a chuta algo parecido como parede, chuto muito forte até sentir que o movimento do carro parou. Paro, escuto passos se aproximando, um barulho de algo destrancando.

-SEU FILHA DA PUTA! A voz fala, a voz de um dos caras que me pegou. Sou puxado com força para fora, tropeço em algo e caio no chão, engulo um pouco de areia, minha boca sangra, pelo gosto que sinto na língua. Sinto um forte chute na barriga.

-AI! Grito sentindo uma imensa dor.

-DEIXA ELE! Escuto Iara gritar. Ele para. Sinto alguém se aproximando, a venda é tirada de mim, uma luz forte atravessa meus olhos, fecho por impulso, abro aos poucos e percebo que é dia, olho ao redor para identificar o lugar, mas nada, é uma ponte, pelo que parece não muito movimentada, estou quase na beirada da ponte, o chão está ardente na minha pele, embaixo tem um rio imenso. Tento me levantar, mas estou sem forças. Escuto mais passos e vejo mais um dos caras que me pegou e o desgraçado do Diego. Ele me olha, seu olhar é maldoso, ele sorri e se aproxima.

-Enzo, Enzo, Enzo. Ele fala. -Até na hora da sua morte você é teimoso. Ele diz. Cuspo a areia da boca com sangue.

-Vai me matar? Pergunto já sabendo da resposta.

-Eu vou. Ele responde. -Gostou do lugar? Pergunta.

-VAI SE FODER! Grito xingando ele. Diego joga areia nos meus olhos. A dor é muito forte, meus olhos ardem muito. -AI, SEU DESGRAÇADO! Grito. -SOCORRO! Grito mais forte.

-Pode gritar a vontade, ninguém vai dar a mínima, estamos distante da pista, olhe para baixo e você vai ver que está quase dentro do rio. Ele fala.

-ENZO! Escuto o grito de Iara e a vejo com os olhos desvendados saindo do porta-malas e correndo até mim!

-IARA! Grito para fazer ela parar. Um dos caras pega ela e bate com um ferro em sua cabeça, Iara cai no chão desmaiada. -NÃO! Grito e consigo finalmente me levantar. Vou até ela e sacudo seu corpo, sua cabeça sangrando, sinto seu pescoço e sinto que ela está viva.

-Que patético! Diego diz.


JOÃO

Estou exausto da mesma rotina de sempre, acordar, pedalar, ir na boate e trabalhar, meus dias estão sendo os mesmos há quase um ano, desde que me mudei pra cá. Não me envolvi com ninguém nessa cidade, eu esperava mais de São Paulo.

Ainda penso naquele garoto que deixei entrar na boate, ele era lindo, seus olhos brilhavam, não sei, queria muito topar com ele, de novo.

Pedalo mais uma vez pela maldita ponte, sempre pedalo para ir ao trabalho, mas hoje é minha folga, só estou pedalando porque não tenho o que fazer, não conheço ninguém. A paisagem é deslumbrante, o rio tietê logo embaixo, pena que tão sujo.

MERETRÍCIOOnde histórias criam vida. Descubra agora