CATARINA
Suspirei, tentando pensar no que fazer quando abri a porta do apartamento de Bernardo. Era uma espécie de estúdio, mas um tanto maior. Não tinha uma parede sequer, a não ser pelos vidros esfumados que tampavam apenas uma parte do banheiro. Tinha uma pegada meio industrial.
A sala era composta por um sofá muito aconchegante, de couro marrom, uma televisão que ficava na parede e diversas prateleiras com discos, alguns livros que ele usava pra decorar, e sua coleção de CDs e DVDs que eu invejava. Tinha um pufe jogado ao lado do sofá, que eu amava deitar de vez em quando enquanto lia um dos livros que ele jamais tocava.
Ao lado, sem nenhuma divisória, a bancada da cozinha que também servia de mesa. O bar improvisado e a pequena churrasqueira ficavam ao lado. Sua cama ficava no meio do apartamento, acessando a mesma TV da sala. Não sei como conseguimos esse resultado final incrível, mas lembro que sempre quis morar em um lugar assim e acabei influenciando um pouco na decoração, apesar dela ter a cara de Bernardo.
Era também a cara de um homem da idade dele, solteiro. Tinha quadros bonitos, e um deles era uma foto minha, que mostrava meus lábios e meu colo. Lembro quando estávamos transando em sua cama e ele fez aquela foto. Prometeu que editaria a ponto de ninguém perceber que era eu. E realmente, o efeito ofuscado não fazia com que parecesse eu. Talvez a pequena pinta no ombro, ou os lábios carnudos. Mas ninguém nunca comentou nada.
Atrás do sofá, uma mesa de trabalho com alguns livros, seu computador que tocava uma música muito baixa que eu não consegui reconhecer e um porta retrato com uma foto nossa.
O apartamento agora parecia outro. Não parecia aquele lugar que eu sempre quis ter. Não parecia o lugar que eu ajudei a arrumar, desde o primeiro momento. Talvez fosse melhor ter pego ele com alguém sem querer, algo que já aconteceu antes. Hoje eu não sei como me sentiria, mas acho que seria menor pior do que ter encontrado o que encontrei.
A luminária da entrada estava caída no chão. Um copo quebrado pairava ao lado da parede da janela com um liquido de tom amadeirado escorrendo ao lado. Bernardo estava ao pé da cama, no chão. Sem camisa. Encarava o nada. O rosto estava vermelho, inchado. Sua mão sangrava. Ele não percebeu minha presença. Ao seu lado, duas garrafas vazias. Uma de Whisky, outra de rum.
Fechei a porta e me aproximei devagar, sem saber o que fazer. Jamais imaginei ver Bernardo naquela situação. Ele nunca perdia o controle em situações estressantes, então me perguntei o que poderia ter acontecido para ele ficar daquele jeito.
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Gravity
Любовные романыDepois de um trauma, Catarina percebeu que não conseguia mais se entregar a ninguém de verdade. Mas será que era pelo que aconteceu? Ou por seu coração pertencer a alguém? "Eu correria, se não fosse tão bom estar em seus braços" NÃO RECOMENDADO PA...