Capitulo 4

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CATARINA

Meu irmão precisava que se decidir. Ou ele tem amigos irresistíveis ou ele é ciumento. Parei na porta do seu quarto e sorri, pensando no quanto eu amava aquele infeliz e fui ler um pouco. Resolvi algumas coisas, me arrumei até que vi que já estava na hora de saírmos.

Acordei ele com um carinho leve no meu rosto.

- Acorda, chatinho. Precisamos ir. - Falei. 

- Ir aonde? - Perguntou sonolento.

- Hoje é sábado. Lembra? - Dia de almoço na casa dos meus pais. 

- Tinha esquecido. Que horas são? 

- 11h40 - Ele levantou, e foi abrir a janela. 

- Ah, ótimo. Obrigado. - Joguei um beijo para ele e saí. - Vou me arrumar rapidão. - Gritou ele do quarto. Enquanto isso, preparei um café para ele. 

- Ei, você não quer me contar nada? - Perguntei enquanto me apoiava em meus cotovelos. Olhando ele bebericar o café. Mateus parou, me olhou e sorriu ao levantar as sobrancelhas.

- Te conto no caminho, ok? - Morava em um apartamento com meu irmão há dois anos e era muito bom. A sensação de liberdade era enorme, apesar de Mateus ser três anos mais velho, ele me enchia mas não tanto como a maioria dos irmãos.

A campainha tocou duas vezes e eu fui atender a porta enquanto comia uma banana. Só podia ser Bernardo. Abri a porta, confirmando o palpite.

- Que sugestivo. - Ele me olhou todo sorridente.

- O que? - perguntei com a boca cheia.

- Você com essa banana na boca. - Eu ri e permiti que ele entrasse. - Pensei em vir buscar vocês. - Depois que meu irmão e eu crescemos meus pais decidiram comprar uma casa em um lugar um pouco mais afastado e um pouco mais verde, não que o litoral não fosse um bom lugar para eles morarem mas agora que eles não tinham mais os filhos pequenos que amavam a praia decidiram que precisavam ir para um lugar ainda mais afastado e no meio do mato. 

Quase toda vez que íamos pra casa deles Bernardo e seus pais iam também. Nossos pais se conheceram na faculdade e eram amigos desde antes de nós nascermos. Meus pais se mudaram quando eu ainda tinha 1 ano, e meu irmão 4, mas voltamos para cá dez anos depois. Eu e Bernardo nos encontramos quando éramos quase adolescentes e nossos pais se reaproximaram desde então.

- Ótima idéia. - Mateus surgiu e nós três descemos.

- Ei, esse é o lugar da Cata. - Bernardo disse ao ver meu irmão abrindo a porta da frente do passageiro. Eu ri e empurrei meu irmão levemente para que ele se afastasse.

- Que saco vocês dois. - Mateus reclamou, entrando no carro.

- Desembucha moleque. - Falei para Matheus quando já estávamos na estrada.

- O que aconteceu? - Bernardo perguntou.

- Seu amigo chegou praticamente desacordado em casa, às 7h30, sendo carregado por um cara que estava com o rosto ensangüentado. - Bernardo assobiou e logo depois riu.

- Eu não estava desacordado. - Disse, em sua defesa.

- Não? - Eu olhei para trás. - Como não? Eu quase tive que te carregar.

- "Eu não te conheço, mas queria" blá blá blá. Pensa que eu não ouvi? - Meu irmão começou a rir. - Minha memória é ótima, inclusive quando tô bêbado.

- Que fofoqueiro. - Eu disse, também rindo. Bernardo estava sério.

- Quem era o cara, afinal? - Ele perguntou.

- Quem será? Frederico, o garanhão. Não perde a oportunidade. - Meu irmão respondeu. E eu balancei a cabeça negativamente.

- Nada a ver. Cala a boca, Mateus. - Falei, tentando me defender.

- Tudo a ver, Catarina. Ele deu em cima de você na cara dura. - Bernardo falou.

- Não deu, não. E outra, você nem tava lá. - Respondi, sem paciência.

- Deu sim. - Disseram juntos.

- Parem, por favor. Eu não aguento mais vocês dois se metendo na minha vida sexual, puta que o pariu. Eu não fico falando das pessoas que vocês pegam apesar de, as vezes, eu não gostar delas. Não fico comentando, não fico reclamando porque eu sei que vocês tem noção, apesar de terem o gosto meio estragado. - Disse, olhando pra estrada.

- Primeiro, que a gente escolhe bem, sim. Segundo, você não precisa ficar tão irritada assim. - Meu irmão falou, nitidamente afetado.

- Só estou desabafando. Estou cansada disso. Vocês não vão me atrapalhar mais, não mesmo. - Percebi que os dois me encaravam, mas ninguém falou nada. Estava cansada de sempre ser a menininha no meio dos dois, sabia que eles só queriam cuidar de mim, mas na maioria das vezes as reações de ambos eram exageradas.

Bernardo conseguia ser pior que meu irmão. Os minutos que se passaram até chegarmos foram longos. Finalmente avistei a entrada e me alegrei por não precisar ficar sob os olhares de ambos. Bernardo estacionou na frente da casa e eu desci rapidamente depois de pegar minha bolsa que estava jogada em meus pés.

Abracei meu pai, que nos esperava na porta e fui atrás de minha mãe, que estava na cozinha, junto com a mãe de Bernardo. Dei oi para as duas e fui atrás de Banzé, o cachorro de meus pais. Ele pulou em mim ao me ver e eu acabei caindo no gramado. Ele me lambeu e ficou sentando ao meu lado enquanto eu fazia carinho nele.

- Tem 25 anos na cara e ainda não aprendeu a se comportar quando usa vestido. - Ouvi a voz de Bernardo atrás de mim e ri. Minha mãe sempre brigava comigo por causa disso quando eu era pequena e ele sempre tirava sarro.

- A culpa não foi minha dessa vez. - Me defendi, o observando.

- Eu vi. Ele te derrubou. - Bernardo se aproximou e passou a mão na cabeça de Banzé. Seu cheiro me inundou, fechei os olhos por um instante, prestando atenção nele pela primeira vez no dia. O cabelo estava crescendo, parecia bem maior do que de costume, o que o deixava bastante charmoso.

Não pude evitar as lembranças de ontem a noite, enquanto algumas mechas estavam emboladas em minha mão quando ele me chupava. Balancei cabeça tentando afastar os pensamentos.

- Tem 27 anos na cara e continua espionando garotas? - Perguntei, brincando.

- Vim atrás de você porque queria conversar. Não quero que fique um clima estranho entre a gente. Ai vocês dois estavam brincando e... - ele parou de falar, balançando a cabeça negativamente enquanto tinha o olhar fixo no cachorro a nossa frente. Fiquei esperando uma continuação.

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