CATARINA
- Meu Deus! Eu não acredito. - Falei, enquanto pegava o pequeno filhote de cachorro nas mãos. Ele era lindo, de coloração marrom claro mas tinha algumas manchinhas brancas e pretas pelo pequeno corpo.
- Seus malucos, vocês não podiam deixar ele numa caixa, tadinho. - Eu falei, analisando o pequeno cão. Foi a melhor coisa que poderiam ter me trazido.
- Não somos amadores. - Bernardo afirmou, virando o outro lado da caixa de frente para mim. Eles haviam feito vários furos e um buraco um pouco maior na lateral superior. - e além do mais, foi bem pouco tempo. Não se preocupe. Apenas curta. - assenti, olhando para o meu novo bebê.
- Muito obrigada. - disse, me dirigindo a meu irmão. - Eu amei.
- Por nada, princesa. Mas foi ideia do manézão ali. Ele tem dois meses e se você ainda não percebeu, é um machinho.- Olhei para Bernardo, o agradecendo também. Meu irmão deu-me um beijo na testa.
- Eu já venho, vou pegar algo pra tomar e trazer seu celular pra você ligar pro pai. - assenti e ele saiu, dando uma rápida olhada para Bernardo, que estava parado na porta da varanda. Eu o encarei, esperando que falasse algo mas o silêncio reinou.
O pequeno filhote parecia agitado então eu continuei o acariciando até que ouvi uma breve fungada que me fez voltar o olhar para meu amigo, que agora tinha os olhos pressionados pelos dedos.
- Ber? Você está bem? - Perguntei preocupada. Seu corpo estremeceu levemente e ele apenas assentiu. - Bernardo! O que está acontecendo? - Tentei levantar rapidamente, mas de novo senti uma pontada na costela, o que me impediu. Ele percebeu e se aproximou, me ajudando. Os olhos estavam um pouco avermelhados.
- Você está bem, Cata? - Repetiu a minha pergunta e eu assenti. - Eu tive tanto medo de te perder, sabia? Eu fiquei desesperado. Seu irmão também. Não sei como ele ficou tão calmo aqui com você. - Suas palavras fizeram meus olhos se encherem de lágrimas, então eu o puxei para um abraço. - Não achei que você ia querer falar com a gente tão cedo depois daquela discussão.
- Obrigada, por ele e por cuidar sempre de mim. Eu não sei o que eu faria sem você. - Falei, emocionada. Passei o dedo pelas suas lágrimas, as secando. - Preciso pensar em um nome para esse lindinho.
- Eu sei que ele não substitui o Banzé, mas também sei que você queria muito um desses, então acho que ele veio em uma boa hora. Vai te distrair um pouco. - Concordei, sorridente. Eu sentiria muita falta do meu antigo cachorro, mas Bernardo tinha razão, o bebê veio em uma boa hora.
- Mateus não falou nada para seus pais, não queria deixá-los preocupados. Só disse que você ficou abalada e ligaria mais tarde. - Suspirei, aliviada. Eles não precisavam de mais uma notícia ruim hoje. E além do mais, iriam ficar muito bravos com meu irmão e eu não queria que isso acontecesse.
Antigamente quando um de nós dois aprontava o outro sempre contava, mas depois de um tempo passamos a ser cúmplices. Eu sempre fazendo mais cagadas do que meu irmão. Não que eu fosse uma irresponsável, mas era uma coisa quebrada aqui, um arranhão no carro, essas coisas leves que pessoas desastradas vivem fazendo.
Pode não parecer muito, mas quando se é algo rotineiro acaba irritando pra caramba. Mateus nunca foi de aprontar muito, só nos quinze/dezesseis anos resolveu ficar rebeldinho e chegou bêbado em casa algumas vezes. Nossos nem imaginam.
- Ah, que bom. Melhor assim. - Afirmei. - Mas vou ligar pra ver como estão, e contar da novidade. - Disquei o número de mamãe quando meu irmão voltou e ela atendeu preocupada com o meu estado logo após saber sobre Banzé. Estranhou eu não ter ido até a casa deles mas dei a desculpa de estar muito chateada para isso.
Não gosto de mentir para eles, mas o que eu falaria? Não estava afim de mais confusão. Contei sobre ter ganhado um novo cachorro de Mateus e ela logo se animou. Meu pai tinha ido descansar um pouco pois havia ficado bastante abalado.
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Acordei bem cedo na segunda-feira. Queria chegar antes no trabalho pois tinha muitas coisas a resolver. Meu final de semana foi tedioso, passei a maior parte do tempo na cama já que meu irmão não me deixava fazer nada.
A única coisa boa foi ter o Cão ao meu lado. Resolvi chamar o filhote assim. Mateus havia providenciado uma almofada para ele dormisse e a colocado em meu quarto, pois de agora em diante ele me faria companhia.
Cão dormia em sua caminha então não mexi com ele antes de sair. Coloquei água e comida em seus potinhos e me dirigi para o trabalho. Hoje seria o tão esperado dia da sessão de fotos de Marina, que deveria chegar no escritório para se aprontar dentro de poucas horas, já que marcamos para as duas da tarde.
Acertei os últimos detalhes do editorial de verão, cuidei de algumas matérias e então o horário de almoço chegou. Resolvi ligar para minha melhor amiga, pois a saudade já estava quase insuportável. Fazia muito tempo que não conversávamos.
- Me diga que você está livre para comer comigo. - Falei, assim que ela atendeu.
- Para sua sorte eu estou. - Joana me respondeu.
- Graças a Deus. Mexicano? - Era nossa grande paixão e ficava mais ou menos ao mesmo tempo de distância para ambas. Ela concordou e eu desliguei, indo até meu carro. Ao chegar lá avistei Natalia em uma mesa, conversando com Camila, uma das garçonetes do local que nos conhecia pelo fato de sempre irmos lá. Abracei minha amiga com força, por um bom tempo. Fizemos nossos pedidos e desatamos a conversar.
- Amiga, você não tem noção! O Vinicius é espetacular. - Falou, enquanto comia. Joana ficou um pouco chocada com os acontecimentos do final de semana, mas eu queria saber sobre o que se passava com ela. Me deixou a par do relacionamento dos dois, do trabalho, e de sua família. E novamente eu voltei a ser o assunto.
- Catarina, você tem que me contar. Quem é esse homem? Você nunca me esconde nada e agora está aí, toda radiante, feliz. Só pode ter um pinto por trás disso. - Eu só fiz rir. Não havia contado a Joana sobre Bernardo ainda.
Ela sabia que eu havia perdido a virgindade com ele e nada mais. Eu apenas queria guardar aquilo tudo pra mim, o medo de que nossa amizade mudasse era grande demais para eu sair compartilhando as nossas peripécias a alguém.
Eu sabia que qualquer pessoa acharia que o que temos não é apenas divertimento, talvez por eu mesma achar isso. Jô nunca me julgaria, ou tiraria conclusões precipitadas, mas eu achava mais fácil assim. Só que não conseguiria esconder aquilo para sempre, então decidi que já havia passado da hora de contar.
- Eu e Bernardo estamos num lance tipo amizade colorida/sexo sem compromisso. - desabafei, fazendo uma referência a dois filmes que eu adorava.
- O QUE? - Ela gritou e eu fiz sinal para ela abaixar o tom de voz. - Desde quando? - perguntou.
- Não sei, faz um tempinho. Rolou. - Falei, mexendo em meu prato, visivelmente desconcertada.
- Amiga, você devia ter me contado. - Ela parecia chateada.
- Eu sei, me perdoe. - Pedi. - Sinceramente eu não sei por que eu não contei antes, eu só achei melhor assim. Nem Mateus sabia. Ele só pegou a gente se beijando esses dias, e ai acabei contando.
- Tudo bem, eu acho que te entendo. Mas ainda assim gostaria que tivesse me contado antes. Nunca escondemos nada uma da outra. E claro que teu irmão deve saber.
- Sabia que iria entender. - Levantei a cabeça, sorrindo. - Afinal de contas, é só sexo.
- Ah, por favor. Não de uma de ingênua, sabe muito bem que não é bem assim, afinal de contas, pelo que eu me lembro você conhece esses filmes muito bem. - Joana me olhava séria.
- Eu sei, mas não vai acabar da mesma forma. Minha vida não é um filme, Joana - disse, convicta. Para falar a verdade nunca tinha parado para pensar sobre a semelhança. Mas a verdade é que eu não ficaria com Bernardo. Éramos melhores amigos e ponto final. Conversamos sobre mais algumas futilidades e nos despedimos.
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Gravity
RomanceDepois de um trauma, Catarina percebeu que não conseguia mais se entregar a ninguém de verdade. Mas será que era pelo que aconteceu? Ou por seu coração pertencer a alguém? "Eu correria, se não fosse tão bom estar em seus braços" NÃO RECOMENDADO PA...