Capítulo 18

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CATARINA

As lágrimas teimavam em escapar enquanto eu descia as escadas do prédio correndo. Não precisava que o porteiro me visse nesse estado caso eu entrasse no elevador. Tropecei num degrau, para ajudar. Suspirei. Eu era mesmo um desastre. Entrei em meu carro sentindo o pé latejar, joguei meus pertences no banco de trás e coloquei Cão no banco de passageiro ao meu lado. 

Chorei, acreditando que sem motivo nenhum, mas no fundo eu sabia. Havia estragado minha amizade com Bernardo ao me envolver sexualmente com ele. Isso estava claro para mim. Ficou claro quando observei o ovo quebrado escorrer pelo seu peitoral definido que eu já não o olhava como antigamente e isso acabou comigo. Creio que acabei usando a farinha como desculpa. Antes fosse só isso. Quando Bernardo começou a cantar eu senti que o sonho de ter um cara cantando para mim havia se realizado, mas ai eu me dei conta de que ali, a minha frente, estava o meu melhor amigo. 

Precisava me afastar dele antes que se tornasse algo maior, afinal de contas a última coisa que eu queria no momento era me apaixonar, ainda mais por ele. Me acalmei, coloquei Cão no cinto e fui para casa, decidida a acabar com todo esse rolo que havíamos começado. Coloquei ração e água para o cachorro e fui para meu quarto.

Deitei na cama e chorei. Chorei por ter começado tudo aquilo, chorei por não saber o que fazer, chorei por ter fugido, chorei pela minha infantilidade, chorei por até meu irmão galinha estar praticamente namorando e eu não, chorei por não ter o colo de mamãe no momento, chorei por Banzé, chorei pelo tempo que eu poderia ter passado com meu avô antes de ele morrer, chorei por não saber o que fazer da vida, chorei por ter achado que teria uma chance com meu ex, chorei por ter cogitado Frederico como uma possibilidade, chorei tanto que não sabia mais nem o motivo para tantas lágrimas. Chorei até dormir.

Acordei e corri para o chuveiro, entrando debaixo do jato de água fria que saia inicialmente. Tentei me livrar do rosto inchado mas foi impossível. Coloquei um shorts de pijama e uma regata então me dirigi à cozinha. Não havia comido nada ainda. 

Preparei um almoço rápido e sentei no sofá, ligando a TV. Fazia tempo que eu não fazia isso, já que ultimamente sempre tinha Bernardo me acompanhando. Pensar nisso me deixou de certo modo triste. O sentimento de estar sem falar com ele era horrível. 

Afinal de contas, fugi feito uma criança sem encarar os meus erros e nem liguei para me desculpar. O barulho de pessoas saindo do elevador me chamou a atenção e então a porta de entrada da minha casa foi aberta por Mateus, com Bernardo logo atrás dele. Suspirei, certa de que iríamos ter uma longa conversa. Ele me olhou, parecendo bravo.

BERNARDO

Catarina me encarava aparentemente confusa. Devia estar pensando no que faria. Matheus me ligou achando que ela estava comigo então acabei indo buscá-lo no aeroporto. Confesso que senti um pouco de inveja do relacionamento dele enquanto o meu... Bem, não sei nem se posso chamar aquilo de relacionamento. 

Por mim seria, mas para Catarina parecia apenas diversão. Sempre soube que seu sonho era casar com um italiano que conheceu em uma biblioteca enquanto viajava mas aquilo parecia meio bobo para mim. Ou talvez eu só estava com inveja do cara que teria a sorte de poder passar o resto da vida com ela. Catarina correu até mim, pulando em meu colo. O sorriso foi inevitável ao sentir seus lábios tocarem minha bochecha.

- Me perdoa por ser tão boba. - Pediu em meu ouvido.

- Nossa, dá pra ver que você sentiu bastante saudade do seu querido irmão. - Matheus reclamou. Retribui o beijo na bochecha de Cataria que se afastou para abraçar o irmão. Os dois conversaram brevemente e então Mateus foi para o seu quarto, alegando que precisava de um banho.

- Me desculpa. - Ela pediu logo após a porta do quarto de Mateus ser fechada. Ela estava de costas pra mim e mesmo assim eu podia ter certeza de que ela estava bastante envergonhada. - Eu realmente não sei o que está acontecendo comigo. - Falou, virando-se de frente. 

- Você já se sentiu perdido? Sem saber o que fazer ou querer? - Eu assenti, me lembrando perfeitamente da forma como eu me sentia há algum tempo. Tudo parecia perfeito e de repente faltava algo. Demorei para descobrir que esse algo tinha nome e estava parado a minha frente, com os olhos cheios de lágrimas. Ela não era assim, imatura e  volúvel e sim a pessoa mais decidida que eu conheço. - Eu sei que nada justifica, mas meu trabalho anda acabando comigo e você sabe como eu sempre quis isso. Talvez seja esse o meu problema..- Disse parecendo que falava consigo mesma.

- Eu acho que entendo. - E entendia. Há alguns anos eu soube como era me sentir completo e desde então essa sensação só se repetiu quando eu estava com ela. Quando ela me beijava, me abraçava, quando dizia que me amava e mais ainda quando fazíamos sexo. Não, eu não sou um maníaco, apenas me sinto conectado a ela de uma forma que jamais aconteceu.

- Eu sei que ando meio chata então eu acho melhor a gente parar com esse nosso rolo, tudo bem? - ROLO???? Era isso que nós dois tínhamos?

- Tudo. - Dei de ombros, mentindo. - Concordo que se pra você for um rolo, é melhor mesmo. - Completei, tentando soar natural. - Catarina assentiu, parecendo desapontada. Eu não iria perguntar qual era o problema, eu iria sair dali e encher a cara.

- Tenho que ir. Só vim deixar o Mateus. - disse, indo em direção à porta.

- Você não quer jantar com a gente? Vou fazer batata gratinada. - Balancei a cabeça negativamente. Eu amava as comidas dela mas não conseguiria ficar ali por nem mais um minuto. Fechei a porta e fui até o meu carro que estava estacionado na frente do prédio. O destino? O primeiro bar que eu encontrasse aberto.

As cutucadas me fizeram levantar o rosto e sentir os raios de sol entrarem pela janela do bar. A garçonete sorria, demonstrando para mim as suas intenções.

- São seis da manhã, bonitão. Precisamos fechar. - Assenti e olhei em volta. O lugar estaria vazio se não fossemos nós dois. Faltar academia uma vez na vida não teria problema, certo? Além de que ela era atraente e estava interessada, porquê não aproveitar? Levantei, puxando o corpo da loira de encontro ao meu.

- Desculpa por te fazer trabalhar até mais tarde. - Falei mas não fui sincero.

- Sem problemas, eu teria ficado aqui de qualquer forma. - A loira deslizou as mãos pelo meu peitoral e eu desci o olhar, tendo a visão de seu belo par de seios. Do lado direito havia um pequeno crachá que eu ignorei por completo. Não queria saber o nome dela. Seria apenas sexo, como nos velhos tempos.

Nossos rostos estavam próximos mas eu não consegui beijá-la. A imagem de Catarina com as pernas em torno de minha cintura enquanto eu me enterrava para dentro dela tomaram conta da minha mente. Fechei os olhos com força na esperança de não atrapalhar o momento mas tudo o que consegui foi selar rapidamente os lábios da loira.

- Desculpa, mas você me traria um shot de tequila? - Pedi, com o meu melhor sorriso.

- Claro. - Ela respondeu. Sentei novamente, apoiando o rosto em uma das mãos. A que ponto eu cheguei... Não podia simplesmente encher a cara para tentar esquecer a mulher que eu amo. Eu devia saber que isso não iria funcionar, muito menos ficar com outra. A garçonete sumiu e eu aproveitei a deixa para ir embora. Deixei algumas notas de dinheiro em cima da mesa e sai em direção ao meu carro.

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