Capítulo 23

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BERNARDO

Minha cabeça doía tanto que parecia que eu tinha levado uma paulada. Minha mão latejava tanto, e quando eu olhei, vi um pouco de sangue através da gaze que cobria meu ferimento. Tentei refazer o meu dia, na esperança de lembrar tudo o que aconteceu. 

Levantei devagar do sofá, atrás do celular para tentar descobrir que horas eram. Ainda estava escuro lá fora. Olhei para a mesa de centro, um copo de água e dois comprimidos. Franzi o cenho, e olhei em volta, encontrando a responsável pelo remédio e pelo curativo dormindo em minha cama. Tomei os remédios, uma boa quantia de água e fui para cama para dormir ao lado dela.

Deitei devagar, tentando não acordar Catarina. Ela se aconchegou ao meu lado e dormimos. Quando acordei, Catarina não estava ao meu lado. O cheiro de bacon inundou meu nariz e então a vi, concentrada na frigideira em frente ao fogão. Em um dia normal, eu iria encoxá-la e só Deus sabe o que faríamos depois.

Hoje não era esse dia normal. Ontem eu perdi completamente a cabeça a hora que cheguei em casa, logo depois do bar. Liguei para o meu pai dizendo que não estava muito bem e que trabalharia de casa, como eu fazia as vezes e comecei a beber antes mesmo de terminar a ligação. Lembro de ter terminado uma garrafa de Rum e então fui até o pequeno bar ao lado da bancada da cozinha em busca de mais alguma coisa. 

Comecei a pensar no que Catarina tinha me falado e acabei me irritando. Já bêbado, empurrei o abajur ao lado da porta de entrada na tentativa de diminuir a raiva que eu sentia de mim por ter deixado as coisas chegarem em um ponto lastimável. Com ela, e agora, sozinho. 

Fui servir um copo de Whisky e o copo escorregou pela minha mão. Talvez eu nem tivesse segurado nele direito. Ouvi o vidro quebrando e ao me abaixar para pegar os cacos, escorreguei e enfiei a mão em um deles. Ótimo. 

O sangue escorreu pela minha mão e eu a encostei na camiseta, achando que ia adiantar alguma coisa. Deitei no chão e chorei. Chorei por sentir que a tinha perdido. Tanto como meu par quanto como minha melhor amiga. Chorei por ter me apaixonado tanto. Chorei por não ter tido coragem de me declarar. Chorei porque ela não me quis mais. Lembro dela chegando. Lembro dela tentando me dar banho. Lembro do nosso beijo. Lembro do gosto do café.

Por um momento achei que tivesse alucinando, que a bebida tinha mais do que subido a cabeça e eu estava imaginando coisas. Não estava. Eu usava um roupão. Eu tinha um curativo na mão. Ela estava ali. 

Levantei e fui até ela. Me encostei ao lado do fogão, de frente para Catarina que me encarou, sorrindo. Depois de tudo, ela não queria me matar? 

- Cata, me desculpa. - Comecei. - Não sei o que deu em mim ontem, eu tava...

- Bernardo, eu só não quero que você faça isso de novo. Por favor. Você nunca descontou seus problemas em garrafas e eu espero que isso não se torne um costume, porque foi muito triste te ver daquele jeito. - Abaixei a cabeça, envergonhado. - Eu não sei o que aconteceu, porque do nada você decidiu não compartilhar um problema comigo, mas imagino que não seja algo simples, para você ter reagido daquela forma. Eu vou te respeitar e tentar aceitar que você não quis me contar, mas quero reforçar que eu ainda sou a Catarina, sua amiga desde sempre. 

Eu não sabia o que dizer. Como eu poderia contar que o problema era justamente sobre ela? Que o motivo de tudo que eu fiz ontem foi ter me dado conta que eu a amava de um jeito diferente do que sempre achei que fosse? Vi que ela desligou o fogo e a puxei para um abraço. Não tentei me explicar, só disse que me estressei e acabei perdendo a cabeça. 

Ficamos abraçados por um tempo. Tentamos conversar, mas tudo parecia estranho. Catarina tomou banho, pegou uma roupa das que deixava aqui em casa e foi trabalhar. Eu terminei de arrumar a bagunça que fiz ontem, me ajeitei e também fui para o trabalho. 


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⏰ Última atualização: Aug 17, 2021 ⏰

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