Concha Holmes

296 26 54
                                    


"Sherlock Holmes mantinha o olhar sempre recurvo para Sirius Black e para o professor Lupin. Eu imaginava que teríamos uma batalha ali mesmo, mas meu amigo já estava preparado para evitá-la. Sua mente havia desvendado o mistério do prisioneiro de Azkaban a uma velocidade surreal. Era impossível não pensar como aquele brilhante bruxo poderia se tornar muito perigoso se não estivesse do nosso lado."

John lia seu mais novo artigo publicado no Pasquim sentado na poltrona da sala, a cabeça num dos braços do móvel e as pernas em outro, assistindo ao noticiário da noite. Tudo para não se deixar levar pelo nervosismo. Vez ou outra olhava para o relógio de parede com os dois ponteiros em cima do número seis e seu estômago revirava, mesmo ele não tendo comido nada desde o almoço. Harry e Clara estavam abraçadinhas no sofá, o que o incomodava ainda mais. Não sabia se tinha sido a influência de Sherlock ou se era algo dele mesmo, mas definitivamente detestava testemunhar casais se engalfinhando amorosamente e ter que fingir que está prestando mais a atenção na TV ou na revista.

— Querem procurar um quarto?

Clara riu muito vermelha e Harry se desenlaçou dela.

— Calma, John. – a irmã brincava – Se você tivesse namorada, nem estaria se incomodando.

— Se eu tivesse uma, não estaria acasalando com ela na sua frente.

Clara ficou ainda mais vermelha, mas Harry apenas se levantou:

— Vem, Clara. Meu irmão ta enfezadinho hoje.

As duas foram para a varanda de mãos dadas e John voltou a olhar para a TV. O programa não parecia tão interessante quanto o relógio. Cansado de se virar para o lado e para o outro, levantou-se, desligou a TV e subiu para o seu quarto para checar, pela sétima vez, se todas as suas coisas estavam arrumadas.

O malão estava bem fechado. Em cima dele estava a gaiola com uma coruja bufo real dentro, Sentinela, e a vassoura de segunda mão que já fora de Harry. Uma boa olhada no espelho o fez notar, mais uma vez, que o tempo o transformou num adolescente de quatorze anos troncudo (talvez por causa do quadribol), mas sem crescer muito em tamanho. Sherlock disse uma vez que ele era um garoto bonito. Bom, ele não usou essas palavras. O termo utilizado foi "vantagens naturais".

Numa tentativa de passar o tempo, sentou-se na cama e pegou o pergaminho que Sherlock enviara no começo de julho. Já era a quinta vez que o lia.

Caro John

Primeiro de tudo, feliz aniversário. Lembra que eu falei que talvez meus pais consigam ingressos para a Copa Mundial de Quadribol? Bem, eles foram sorteados para assistirem às finais. Elas acontecerão no segundo domingo de Agosto e eles me deixaram levar você, então, se ainda estiver interessado, responda essa carta e passaremos aí no penúltimo sábado de Agosto, às dezoito horas.

S.H.

Ele guardou o pergaminho no bolso, torcendo para que sua resposta não tivesse extraviado.

Ao perceber que uma discussão havia começado no andar de baixo, se jogou na cama, estendendo os braços em forma de T, já imaginando o motivo. Provavelmente os pais haviam chegado e agora brigavam com Harry. Não por causa de Clara, John sabia, mas provavelmente porque sentiram o cheiro do Rum de Groselha Vermelha que ela e a namorada estavam bebendo fazia meia hora. Ultimamente a irmã havia se afeiçoado a essa bebida, mas como a garota ainda tinha quinze anos, os pais reprovavam a conduta.

John rogou a alguma força cósmica que a família não resolvesse brigar justamente quando Sherlock iria visitar sua casa.

De repente ouviu-se um rojão e, depois, vários gritos dos pais. John pulou de onde estava e correu escada abaixo para ver o que tinha acontecido, mas a cena que viu o fez ficar paralisado.

Potterlock - O Cálice de FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora