Shivani Paliwal
Bailey não apareceu na escola no dia seguinte.
Quando ele não apareceu no portão do prédio em que eu estudava, como vinha fazendo com assiduidade nos últimos meses até a última semana - momento em que sua mágoa o deixou furioso o suficiente para parar de caminhar comigo como antes —, eu não fiquei exatamente surpresa.
Mesmo no dia anterior, em que tive a oportunidade de me desculpar e tivemos aquele momento feliz no piano, na sala, com toda a família naquele dia que deveria ser - e foi - tão eufórico e cheio de luz, Bailey ainda parecia decepcionado.
Raivoso, avoado, triste, confuso... De tudo um pouco, menos contente. E, ah! Como eu daria de tudo para vê-lo sorrir uma vezinha sequer naquele dia!Depois que a última nota preencheu a sala, ele se levantou subitamente do banco e subiu para o segundo andar, onde permaneceu até o fim do dia.
Pensei em ir lá. Cogitei em ir até ele tantas, tantas vezes... Mas não fui. Não fui porque conhecia Bailey o suficiente para saber que de nada adiantaria me desculpar até o último dia de minha vida se não o deixasse ter um tempo pra processar tudo o que precisava. E por mim tudo bem, desde que no final ele me perdoasse por ter dado tanto trabalho e por ter agido de forma tão estupida para aliviar o vazio.
Mas então, naquela segunda-feira monótona e enfadonha, um rosto familiar gentil e alarmado veio à minha procura, perguntando:
— Você sabe do Bailey? Ele sumiu.
Comprimi os lábios em um sorriso fraco, quase rindo da sua ingenuidade ao pensar que Bailey me daria alguma satisfação, levando em conta a turbulência em que a nossa estava.
— Não sei, Liz. Talvez ele já tenha ido embora...
— Ele não veio à escola.
Tudo o que consegui proferir foi um simples e baixo:
— Ah.
Um silêncio se instaurou entre nós. Era esquisito como parecia ter tanto naquele ar pesado, tantas coisas não ditas.
— Perdão por chegar assim, eu deveria ter dito boa tarde... Eu... eu só estou um pouco preocupada. Ele não responde minhas mensagens e pensei que talvez ... como vocês são tão próximos, ele tenha te dito algo.
Ofereci a ela meu sorriso de canto mais simpático antes de tocar levemente seu ombro.
— Não se preocupe, garanto que não há nada com o que se preocupar. Não sei de nada, mas talvez ele tenha se cansado das festividades de ontem e tenha resolvido descansar hoje. Por que não vai visita-lo? Bailey a adora e, pretensioso do jeito que é, vai amar saber que sua falta a preocupou.
Ela deu uma risada fraca, o que foi o necessário para que eu a deixasse ali e fosse para casa sozinha, com a sensação desconfortável de uma solidão que Bailey nunca tinha me deixado enfrentrar. Até então.
E sobre sua falta à escola, era de se imaginar que não ir um dia ou outro era completamente normal, principalmente para alguém com tanta assiduidade quanto Bailey.
No entanto, algo no ímpeto, bem no fundo me falava que alguma coisa não estava certa, que eu deveria tratar aquilo de qualquer maneira, menos com normalidade.
—//—
Eu tinha acabado de sair do banho. Estava penteando meu cabelo molhado em frente ao espelho, apreciando o cheiro de terra molhada proscedente da chuva daquele dia e tentando não pensar nas coisas que me alarmavam.
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Lugar Seguro - Shivley Fanfic
FanfictionApós a tragédia que tirou a vida do seu primo e melhor amigo, Bailey May se vê num difícil dilema: dar suporte aos seus amigos e família enquanto tenta - com muito esforço - seguir em frente. Em seu desespero por utilidade para com as pessoas que lh...