Capítulo 13

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Bailey May

Eu sabia que ela dizia alguma coisa importante. Eu observava a boca de Liz se mexer lentamente e um som meio abafado fazia caminho até meus ouvidos, ainda que nenhuma palavra fizesse sentido.
Sei que deveria estar prestando atenção, que deveria me esforçar para me interessar no assunto (seja lá qual fosse), mas viajar por inúmeras galáxias enquanto conversava com Liz, ou qualquer outra pessoa, estava ficando mais normal do que eu gostaria. E merda, não deveria ser assim.
Com certeza ela falava sobre algo inteligente e significativo porque bem, era Liz. Era sensata e  agradável, e eu gostava dela. E exatamente por gostar tanto dela que eu deveria saber a resposta para...

— Não acha? — ela perguntou, seus olhos cor de mel perscrutando meu rosto com atenção, na tentativa de encontrar a resposta ali também.

Cocei minha nuca, um tanto sem graça, sem saber o que dizer. Acho que deve ter significado alguma coisa, já que assisti a compreensão chegar à sua expressão quase que imediatamente.

— É, talvez não tão fácil quanto eu pensei. — Suspirou frustrada. — Mas pelo o menos as pessoas foram discretas, e você se saiu muito bem hoje.

Aaaaah, ela falava sobre o dia! Tudo fez sentido.

A verdade é que eu não sabia bem o que esperava daquela segunda-feira, mas imaginava que receberia muitas condolências e perguntas sobre como eu estava, o que não era um incômodo. A maioria das pessoas ali conhecia Noah só de nome, ou de vista, já que ele era de uma turma anterior à nossa, mas isso não pareceu diminuir a comoção diante da perda que eu tinha passado. Logo que cheguei, havia uma foto do meu primo em um cavalete perto da entrada do prédio. Haviam muitas velas e flores embaixo. Noah acharia aquilo... bem, não sei o que ele acharia. Provavelmente nunca tenha passado pela cabeça dele que nos deixaria tão cedo, assim como nunca tinha passado pela minha.

Os professores foram atenciosos, assim como o diretor, que fez questão de falar comigo naquele primeiro dia de volta à escola depois da semana tumultuada pela qual eu e minha família tínhamos passado. Todos queriam assegurar de que eu estava bem, e eu apenas respondia que estava, mesmo não estando tão certo sobre isso.
Meus amigos foram tão solícitos quanto, parecendo ter estudado cada palavra do que diriam naquele dia para não me magoar. Às vezes Sabina, não muito conhecida pela discrição, mencionava algo relacionado ao acidente, mas era logo censurada por Joalin e ficava sem graça.
Eu queria muito dizer que não precisavam ter tanta cautela, mas minha cabeça estava em outro lugar. Um lugar não tão longe, para ser honesto. Apenas alguns metros de distância, no prédio ao lado.

Shivani.

Passar por aquele dia devia estar sendo verdadeiro inferno pra ela! Noah era amado por cada aluno e cada professor da sua turma, ou do prédio do segundo ano, desde o jardim de infância. E por Deus, saber o quão sufocante deveria estar sendo para ela os olhares de clemência, as perguntas, as menções... Quase me fazia perder o ar.

Ali estava a impotência de novo, me fazendo sentir tão inútil e pequeno quanto um verme.

Eu me preocupava com Shivani. Era minha promessa cuidar dela, e saber que eu não podia controlar as pessoas ao seu redor me matava.
E bem, era essa a única explicação para aquela ansiedade que me pegou desde o começo do dia, quando deixei um bilhete em seu armário avisando que a acompanharia até em casa. Era essa a explicação para aquele formigamento, para aquela distração e a aparição do seu rosto desolado, encolhida na carteira, toda vez que eu fechava os olhos. Era essa a explicação: eu estava preocupado em honrar minha promessa, apenas isso.

Lugar Seguro - Shivley FanficOnde histórias criam vida. Descubra agora