Shivani Paliwal
Das lembranças que eu mais gostaria de apagar, estava a maneira como fui acordada numa certa madrugada de sábado. Era estranho como parecia que eu já estava esperando pelo momento em que minha mãe entraria no quarto e passaria a mão delicadamente pela minha cabeça, me chamando baixinho, tentando disfarçar o desespero na voz. Eu quase diria que ela foi bem sucedida, se não fosse aquela sensação horrível do meu coração batendo tão forte contra minhas costelas, aquele gosto amargo na boca, me indicando que havia sim motivo para desespero.
Era tarde demais para tentar esconder algo, eu já sabia que havia algo errado no momento em que o clarão invadiu meu quarto escuro, mas jamais imaginaria que havia algo errado com Noah. Com o meu Noah.
O que aconteceu entre o caminho da minha casa até o hospital ainda é um mistério. Quando penso nisso, tudo o que vêm à mente é um borrão e vários flashes. Minha pulsação acelera e um nó se forma na garganta como se eu revivesse aquele pesadelo todo de novo.
Não me lembrava de ter falado com alguém, apenas de esbarrar em muita gente e escutá-las dizer coisas que não passaram de sons abafados.
O mundo parou de girar quando eu finalmente vi Noah. Não sabia ao certo se era por causa da quantidade de feridas, se era por causa da grande faixa branca em sua cabeça indicando a gravidade da situação, ou se era por ele parecer tão vulnerável e fraco naquela cama enorme, mas de alguma forma, eu sabia que ele já não estava mais ali. O monitor de sinais vitais permanecia constante, fazendo "pi... pi... pi...", mas, ainda assim, parte de mim estava certa que não duraria muito.
No entanto, ainda havia a outra. Aquela outra parte que não tentou nem um pouco lutar contra a esperança, a outra parte que me fez sentar ao seu lado e sussurrar palavras de conforto, palavras cheias de fé de que ele sairia dali com vida, que voltaria a abrir seus olhos verdes brilhantes e que voltaria a sorrir pra mim. Aquela outra parte que me fez rezar durante toda a noite, que praticamente me deixou cega para não assistir Noah partir.
Porque ele estava indo embora. A cada minuto ele ficava mais perto de nos deixar. Os restos dele, na verdade, porque aquele ser inconsciente não se parecia em nada com o ser humano cheio de vida e alegria que meu namorado era.
E não era justo, não poderia ser justo. Noah só iria à um show, iria se divertir, cantar e dançar e me contaria tudo quando voltasse, mas nem chegou na metade do caminho. Ele não podia simplesmente me deixar assim.
E no começo do dia ele se foi. Se foi para sempre, sem sequer se despedir. Nem sei quanto tempo precisei para absorver aquela informação, mas aos poucos a solidão foi conquistando seu espaço, cavando um vazio tão fundo dentro de mim que chegava a fazer eco.
E em toda aquela confusão, quase me esqueci de que Noah não estava sozinho. Jeremy, nosso amigo, estava com ele dentro do carro, estavam indo juntos para o show, e ele estava vivo. Estava ferido e tinha quebrado mais partes do corpo que eu seria capaz de dizer, mas estava vivo.
Eu fui vê-lo no hospital uma vez, quando a poeira abaixou, mas Jeremy estava sedado e não pudemos conversar. Ao longo dos dias, minha mãe e minhas amigas me davam notícias dele. Boas notícias, já que ele que parecia melhorar aos poucos.
Eu não sabia o que conversaríamos caso nos víssemos. Eu nem pensava nisso, na verdade. Mas lá estava ele, a poucos passos de distância, se equilibrando em suas muletas. Eu nem notei que tinha começado a andar em sua direção até o segundo em que parei diante do garoto moreno, de longos cabelos negros e olhos escuros. Olhos escuros e melancólicos meio escondidos atrás da franja comprida.
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Lugar Seguro - Shivley Fanfic
FanficApós a tragédia que tirou a vida do seu primo e melhor amigo, Bailey May se vê num difícil dilema: dar suporte aos seus amigos e família enquanto tenta - com muito esforço - seguir em frente. Em seu desespero por utilidade para com as pessoas que lh...