Shivani Paliwal
O sábado chegou num sopro. Para ser bem sincera, eu estava bem melhor do que achava que estaria. É claro, eu ainda não tinha enfrentado a escola, nem os olhares de pena, nem tinha passado muito do limite do quintal. Durante toda aquela semana longa e melancólica eu permaneci encolhida na minha bolha, tentando espantar a dor e ao mesmo tempo deixando que ela me consumisse.
No entanto, me encarando no espelho naquele momento, mesmo tendo uma visão bastante nítida dos meus olhos inchados e nariz vermelho, eu sentia que estava começando a vencer aquela batalha ainda assim. Pelo o menos por enquanto.Na segunda-feira eu teria que ir ao colégio, falar com as pessoas, tentar voltar à rotina e ao ciclo normal das coisas — se é que algum dia as coisas se normalizariam novamente —, enfim tocar com a minha vida. Eu sabia que quando esse dia chegasse seria oficialmente o começo de uma nova fase. Uma com certeza mais vazia e solitária. Porém, naquele segundo, diante do meu reflexo naqueles trajes escuros, por alguma razão, eu simplesmente acreditei que estava começando a superar. Não, não superar.
Entender. Aceitar.
Eu sabia que provavelmente a sensação não duraria muito, uma vez que meu destino era a celebração da missa de sétimo dia do meu namorado. Falecido namorado. Mas até aquele momento eu não tinha chorado, ou sentido aquela vontade absurda de sumir do mundo. É certo que qualquer situação seria melhor que aquela, ou qualquer outro lugar universo em que eu pudesse me esquecer de tudo, mas a verdade é que mundo já não era o mesmo desde sábado e até onde eu sabia, não dá pra simplesmente apagar lembranças, não importa o quanto machuquem. Não importa o quanto a gente queira que elas não existam.
Dei um suspiro antes de abandonar o lugar em frente ao espelho, não havia muito a ser feito quanto a minha aparência. Eu estava destruída da cabeça aos pés, maquiagem ou roupa alguma esconderiam isso.
De repente, um "plin" da notificação chegou aos meus ouvidos e como todas as malditas vezes, meu coração começou a bater num ritmo frenético, numa esperança ridícula de que seria uma mensagem Noah.
Droga, até quando?!
Era uma mensagem de Savannah.
"Já estou passando aí."
Meus pais estavam presos no trabalho. Pelo que entendi, tiveram que trocar de turno com outros dois funcionários da farmácia e passariam a noite lá.
Minha mãe, além de brava pela troca de turno repentina, estava preocupada como louca. Ela — mais do que ninguém — queria me acompanhar, queria estar lá comigo e dar suporte para a família de Noah.
Com muita — muita — insistência ela conseguiu explicar os motivos e ser liberada por algumas horas, mas ainda assim chegaria um pouco mais tarde do que o previsto. Então lá estava Savannah, pronta para ir comigo.É claro que minha melhor amiga me acompanharia de qualquer maneira, mas agora parecia que aquilo — estar lá para me dar força — tinha se tornado uma responsabilidade tremenda pra ela.
Quando eu escutei a campainha depois de alguns minutos e Savannah entrou na minha casa com seus graciosos olhos azuis passeando pelo meu rosto com certa urgência, transbordando uma preocupação imensurável, não hesitei em sorrir. Era importante pra ela que eu estivesse bem, e depois de tudo o que ela tinha feito por mim nos últimos dias, tentar parecer bem era o mínimo que eu podia fazer.
— Está pronta? — ela perguntou. Eu sabia que a pergunta não era apenas em relação à minha roupa.
Puxando uma grande lufada de ar e depois exalando, peguei meu sobretudo preto no cabideiro da parede e respondi com toda a firmeza que consegui:
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Lugar Seguro - Shivley Fanfic
Fiksi PenggemarApós a tragédia que tirou a vida do seu primo e melhor amigo, Bailey May se vê num difícil dilema: dar suporte aos seus amigos e família enquanto tenta - com muito esforço - seguir em frente. Em seu desespero por utilidade para com as pessoas que lh...