Capítulo 11

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Bailey May

Quando uma criatura carrancuda entrou no carro de braços cruzados, a testa franzida e as sobrancelhas arqueadas em um formato de V quase adorável, eu não pude fazer nada se não gargalhar.

— Sei que minha presença geralmente mexe com os sentidos das pessoas, mas não sabia que era de forma tão intensa — brinquei antes ligar o carro. Shivani olhou pra mim beirando à fúria, o que definitivamente não me ajudou a parar de rir.

Se existia alguém no mundo que odiasse mais ser contrariada que ela, eu sinceramente duvidava. E era um prazer inigualável tirá-la do sério.

— Eu disse que não precisava se dar o trabalho, minha mãe pediu pra que eu ligasse quando...

— Ah, isso tudo é porque você não queria me dar trabalho? — Sorri. — Sei que só a ideia de ter sua companhia parece uma tortura, mas eu sobrevivo.

Ela me encarou incrédula, quase ofendida. Eu estava esperando que ela refutasse, que me detonasse com alguma resposta sagaz e atrevida, tão típica dela, mas tudo que ela fez foi cruzar os braços e bufar, pedindo:

— Me dê seu telefone. — Vendo a confusão clara em meu rosto, completou: — Eu só quero pôr uma música, seu bobo. Não vou fuçar sua galeria e encontrar...hmm... fotos íntimas.

— Eu não tenho fotos íntimas na galeria! — refutei depressa, ultrajado.

— Ah, claro, alecrim dourado dos homens! Só... me empresta por favor.

Ofendido, hesitei um pouco antes de me esforçar para pegar meu celular no bolso enquanto mantinha os olhos na direção. Ela pegou o objeto rapidamente e conectou com o rádio.

E então eu me lembrei...

Eu odiava seu gosto músical. Inferno.

— Já que só a ideia da minha companhia já é um baita sacrifício... Vou me esforçar pra que você curta cada. Fração. De. Segundo. — Ela sorriu. Um sorriso largo e cínico, mas encantador na mesma proporção. — Espero que você sobreviva.

Ah, aí estava o atrevimento.

— Sua esperança me comove.

E então ela escolheu uma música e pôs no volume máximo. Uma melodia começou a tomar conta do ambiente, e eu sabia que uma infinidade de baboseiras, coisas românticas e dramáticas viriam em seguida.

Rá, e surpresa? Eu estava certo.

And I'll maaaake suureee to keep my distanceeeee! ( minuto 0:43 ) — ela começou a cantar no refrão. A gritar, melhor dizendo. Sua mão servia como um microfone invisível e meus ouvidos como... uma espécie de penico. — Todo mundo!

— Ah, minha nossa... — murmurei, apoiando meu cotovelo na janela e pressionando minha têmpora, me perguntando onde eu tinha me metido.

— Se divertindo, moço?! ( minuto 0:53 ) How looooooong ... Can we keep this up, up, uuupp?!

Olhei de soslaio para Shivani, cantando desafinadamente com toda a alma, totalmente na vibe da música e daquele grande show imaginário que ela fazia para uma multidão, aparentemente. Só aquilo explicaria a altura na qual berrava.

Meus lábios se esticaram e eu já estava admirando aquele espetáculo a parte bem do meu lado antes mesmo que meu cérebro pudesse pensar no que dizer ou fazer.

— Oh, você nem faz ideia do quanto...

Se ela me ouviu, não pareceu. Apenas continuou naquela tarefa árdua de levar entretenimento ao seu público, e eu tive a certeza de que fossem lá meus pecados e de toda aquela gente imaginária, já tínhamos conseguido uma passagem direta para o paraíso. Não se pode ser castigado tantas vezes.

Lugar Seguro - Shivley FanficOnde histórias criam vida. Descubra agora