Capítulo 8

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Bailey May

— Foi uma cerimônia muito bonita, não foi? — Liz disse, sua voz estava soando um pouco abafada. Sei que falava sobre alguma coisa antes, mas eu não saberia dizer o quê. — Ei, você tá legal?

Me despertei. Estávamos na porta da capela, perto da minha família. Até então minha visão estava meio turva, focada em algum ponto específico e embaçado que eu não sabia identificar.
Eu estava olhando pro nada, pensando em mais coisas do que meu cérebro seria capaz de processar.

E não, eu não estava legal.

— Aham — me obriguei a dizer quando encontrei a expressão extremante preocupada em seu rosto, a puxando pra perto e beijando o topo da sua cabeça. — Não se preocupe. Eu tô bem.

— Certo. — Eu sabia que ela não estava convencida, mas de qualquer forma resolveu não insistir. — Você acha que...

— Bailey! — Maya se aproximou afobada. — Mamãe acha que é melhor você ficar com a gente ali, pra cumprimentar o resto das pessoas.

— Hã, tudo bem. — Pigarrei e encarei Liz. Não fazia sentido convida-la para ficar ao meu lado naquele momento, onde nem mesmo eu gostaria de estar. — Vejo você mais tarde?

— Temos o jantar na casa da vovó mais tarde. Com a família, se lembra? — Maya, que ainda permanecia em nossa frente, fez questão de frisar.

Suspirei e voltei a olhar para Liz, que me encarava com expectativa.

— Segunda, então?

Ela murchou feito uma planta. Será que ela esperava que eu a convidasse? Não, não podia ser. Encontros com a família estava num patamar muito elevado de relacionamento, o qual eu estava certo de que não tínhamos alcançado ainda.

— Segunda então. — Liz se esforçou pra sorrir e sapecou um beijo em minha boca antes de eu seguir Maya para perto dos nossos familiares.

Minha cabeça estava girando, latejando. As peças finalmente se encaixando e processando tudo aquilo. E doía. Caramba, doía como o inferno.

De repente, me vi entre Maya e Linsey. As pessoas nos cumprimentavam, perguntando como todos estávamos, elogiando as homenagens, desejando tranquilidade e deixando suas condolências.
Havia se passado uma semana e eu já estava farto de tudo aquilo. Toda aquela pena e melancolia.

— Ei, o que há com você? — Ouvi Maya sussurrar depois que a sra. Adair passou por nós, nos abraçando com a força impressionante de seus braços magros e enrugados, e deixando aquele cheiro nauseante de bala de café em nossas roupas.

— Não pode me culpar por esse cheiro — me defendi. — Tenho certeza de que suas roupas estão cheirando da mesma forma agora.

Ela virou um pouco o rosto discretamente e cheirou a manga da blusa, fazendo careta em seguida.

— Sem dúvida. Essa roupa vai precisar ser lavada umas três vezes pra se livrar do cheiro. Mas não era disso que eu estava falando... — Ela se deteve, sorrindo pra dona Margareth, amiga da nossa avó, junto ao esposo, que diziam "Que bela cerimônia! Muito conforto à família de vocês!". Eu fiz o mesmo. — Você está tão estranho! Em algum lugar entre a Terra e a lua! Está parado aqui como um vegetal e sorri como um robô pras pessoas!

Lugar Seguro - Shivley FanficOnde histórias criam vida. Descubra agora