Capítulo 16

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Bailey May

— Aqui está seu troco, senhor — a mulher do caixa disse de forma simpática ao colocar as moedas na minha mão junto à sacolinha de plástico com pequenos embrulhos amarelos.

Eu agradeci e peguei o que ela me estendia, me segurando para não rir, afinal, era só o que me restava: rir. Eu sabia que se parasse para pensar um pouco, mesmo que por um minuto, de duas uma: ou eu cairia na gargalhada, ou me ridicularizaria até o último dia da minha vida por ter me colocado naquela situação besta.

Era quase inacreditável. Não, era de fato inacreditável. Lá estava eu, indo para a escola com o resto do "pagamento" nas mãos.

As paçocas.

Eu estava mesmo levando aquilo a sério!? Seria engraçado se não fosse tão... tão... tão ridículo! Eu estava realmente comprando o silêncio de alguém por estar envergonhado por causa de camisinhas?! E por que raios eu estaria envergonhado por me proteger? Por que raios eu achava que tinha que dar alguma satisfação pra alguém? E ainda assim, ainda ciente do quanto aquilo era tolo, por que raios eu não conseguia conter o sorriso que insistia em se esticar pelo meu rosto?

Merda.

Eu odiava Shivani. A odiava tanto que mal podia colocar em palavras. A odiava tanto que contei as horas desde o momento que ela entrou na casa dos Urrea e então desde que acordei porque eu sabia, eu tinha certeza que no momento em que ela visse os pequenos pacotes amarelos, abriria aquele sorriso radiante e daria uma gargalhada tão alta que faria o ambiente inteiro sacudir, e...

E por que eu estou sequer pensando nisso?

Por causa dela eu perdi quinze reais e sabe se lá mais quanto naquela paçoca. Naquelas paçocas, na verdade.
Não sabia bem como acabei aceitando aquilo, mas num momento eu estava a encarando pelo retrovisor e vi um rubor intenso colorir até seu pescoço, vi os pacotinhos na sua mão e assisti evitar me olhar o resto do trajeto. Sem contar que depois ela mal conseguiu falar comigo, ou me encarar sem aquele olhar acusatório, e eu estava certo de que no dia seguinte já estaria fazendo piadinhas desconcertantes que me perseguiriam por semanas, porque bem, era Shivani. E eu, sem dúvida alguma, faria o mesmo se fosse o contrário.

Era infantil e tolo, e ainda assim eu a irritaria por dias incontáveis se fosse o caso porque não havia nada mais satisfatório do que ver suas bochechas adquirirem aquele característico tom avermelhado. Poucas coisas no mundo me deixavam alegre do que aquilo. Era uma visão divertida e... encantadora.

Perturbadora. Eu quis dizer perturbadora.

A verdade é que não haviam explicações para o impulso que tomou conta de mim na tarde anterior, ou por que me importava com a "tiração de sarro" que provavelmente aconteceria. Quando vi, as notas já estavam nas mãos daquela... daquela... mercenária, e lá iam quinze reais para o buraco! Tudo por que eu queria evitar a todo custo qualquer menção ao assunto, ou qualquer desconforto, ou qualquer chance de Shivani sequer pensar em qualquer coisinha relacionada a mim e aquelas camisinhas em quantidade um tanto quanto comprometedora embaixo do banco do motorista.

E por quê? Eu não sabia. Geralmente eu não dava a mínima para o que as pessoas pensavam ou deixava de pensar, mas, de alguma forma, eu me importava com o que ela pensava. Que o universo me pagasse por isso, mas eu me importava, e tinha plena certeza de que não suportaria aquele olhar de censura sobre mim, não vindo dela, então tive que me recorrer à meios urgentes ( e bastante dolorosos para o meu bolso).

Lugar Seguro - Shivley FanficOnde histórias criam vida. Descubra agora