Shivani Paliwal
Meu corpo balançava para frente e para trás, como uma canoinha em um lago, enquanto eu abraçava minhas pernas no pé da escada.
Muita coisa havia acontecido nos últimos dias e eu me dei conta de que não tive muito tempo para absorver tudo. Não tive tempo de absorver nada, para ser franca, porque quando não me afoguei em álcool e fiquei bêbada como um gambá, me afoguei em um tipo preocupação que quase nunca tinha experimentado, tão profunda e dolorida que parecia me engolir à medida que os segundos passavam. Uma preocupação que não foi amenizada até Bailey cruzar a porta, saudável e bem, como eu precisava que estivesse.
E eu nem sabia como eu queria tanto tê-lo de volta até de fato tê-lo ali, à metros de distância de mim, com seu olhar quente e - daquela vez - mais apreensivo do que nunca.
Meu primeiro instinto foi correr até ele, abraçá-lo com as forças que me restaram daquela madrugada torturante e interminável, e permanecer ali até que se enjoasse de mim, até que me implorasse para largá-lo e, mesmo assim, não estava certa se consideraria seu apelo.
Porém me mantive estática no mesmo lugar porque, em seguida, meu campo de visão se tornou uma confusão de braços saudosos e desesperados para fazer o mesmo que eu.
Eram de sua família.
Meus olhos se mantiveram fixos à imagem de Bailey enquanto o apertavam e choravam e brigavam com ele. Enquanto faziam perguntas e ele as respondia com frases que não passavam de múrmuros abafados e distantes para mim. O mundo inteiro parecia distante para mim.
E seus olhos estavam fixos aos meus também.
Sua expressão mudou, ele levemente arqueou a sobrancelha daquele jeito tão típico Bailey May e apertou os olhos, como se questionasse "Você está bem?"
Até então, eu não tinha entendido. Então eu pisquei. Pisquei e senti uma lágrima quente e gorda descer pelo lado esquerdo de minha bochecha, lenta e dolorosamente, até cair entre minhas mãos, que estavam unidas com força rente à barriga. Eu nem percebi a força com que as apertava até aquele momento. O momento em que me dei conta de que estava assustada demais com a ideia de Bailey nunca mais cruzar aquela porta.
Dei as costas às pressas para toda aquela gente - que estava ocupada demais abraçando Bailey para sequer perceberem que eu saíra da sala - e entrei no cômodo mais próximo.
Me debrucei sobre a bancada da cozinha, abrindo a pia com as mãos trêmulas e lavando o rosto da maneira que pude, me livrando do rastro daquela lágrima tola enquanto uma enxurrada de lágrimas parecia decidida a cair de qualquer jeito. Mas não permiti.
— Shivani, por favor — falei para mim mesma e me recusei a chorar. — Não é como se ele estivesse desaparecido do mundo, esteve fora por apenas um dia. Apenas um dia.
Noah se foi em apenas um dia. — uma vozinha irritante me lembrou.
De costas para a bancada, segurando firme na beirada, fechei os olhos e respirei fundo, tentando acalmar o turbilhão de sentimentos que ameaçavam me jogar no chão. Talvez eu tenha ficado ali por uns vinte minutos, não tinha certeza.
Quando voltei para onde todos estavam algum tempo antes, percebi que estava sozinha no andar debaixo, mas resolvi ficar ali. Não estava pronta para subir. Subir significaria encarar Bailey e eu não estava preparada para isso. Algo no âmago me dizia que as coisas jamais seriam as mesmas depois que eu subisse, depois que conversássemos, depois que eu o entendesse, que eu me entendesse. Por isso sentei no pé da escada e fiquei ali, embalando minhas pernas e tentando não pensar no cadeado que tinha acabado de abrir dentro de mim, tentando não acreditar nos sentimentos que jamais imaginei que poderia vir a sentir.
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Lugar Seguro - Shivley Fanfic
FanfictionApós a tragédia que tirou a vida do seu primo e melhor amigo, Bailey May se vê num difícil dilema: dar suporte aos seus amigos e família enquanto tenta - com muito esforço - seguir em frente. Em seu desespero por utilidade para com as pessoas que lh...