Desde que lembrei que sou um parricida não consigo me magoar, isso pesa em mim, acho que toda a dor que causai com isso vale por aquela que quero sentir. Enquanto a Amari esteve fora de casa, tive o pior dos pesadelos, por isso não gosto quando ela se afasta, minha mente enlouquece e trás atona tudo o que não queria que trouxesse.
"Eu sou culpado, culpado, eu matei a minha mãe". tapei os ouvidos e me rebolei na grama tentanto fazer as vozes na minha cabeça pararem. Ouvia passos a minha volta, mas não os via, recusava-me a olhar para alguém no momento, com certeza devem estar a pensar que sou um retardado. O ar estava com cheiro de água salgada, queria muito entrar no mar nesse momento.
Estava deitado, jogado na relva desse mundo que não me permite viver em condições, algures na marginal, sem preocupar-me com o lugar onde ia me depositar. Estava perto de um campo de basquetebol, percebo que uma das crianças que lá jogava caiu, pois começou a reclamar entre os soluços. Eu sorri mesmo sem abrir os olhos para o ver, isso me acalmava. Ele deve estar a sentir-se bem mesmo sem saber.
Pergunto-me se alguém soubesse do prazer que tenho pelo sofrimento alheio ainda tratariam-me do mesmo jeito, por via das dúvidas não conto isso a ninguém. "Eu queria estar no seu lugar", é o que sempre digo quando tem alguém a queixar-se da sua vida. Ainda de olhos fechados,tive um pequeno vislumbre do sorriso da minha mãe, ela me veio em mente de repende e eu abri os olhos assustado.
- Não sorrias para mim, não depois do que eu fiz, droga. - falo para ela mesmo sabendo que não pode me ouvir.
- E o que você fez de concreto? - dei de caras com uma mulher a minha frente, a olhar para mim abismada,
- porquê estás a chorar? - ela tinha altos níveis de melanina, uma cicatriz nos seios que mais parecia uma tatuagem e o cabelo solto, que baloiçava para o lado com a incidência do vento que eu não podia sentir. Era a Zilpa - pensei que gostavas do meu sorriso.- Gosto? Claro que gosto, espera! Como sabes? - tropecei entre as palavras, surpreendio em vê-la alí - Por favor não pares de sorrir - falei com sinceridade e ela subiu mais ainda os cantos da boca num bonito sorriso.
Limpei minhas lágrimas, que nem sabia que estavam a rolar. Ela sentou no chão ao meu lado, estava com um monte de sacos plásticos consigo, colocou-os de lado e apoiou ligeiramente em mim. Arregalei os olhos, inquito, mas não a impedi.
Sinceramente me senti incomodado com a proximidade dela, eu gosto dela, mas me irrita pessoas que estreitam a intimidade por si, muito contacto físico me deixa... Esquece, até que não é tão mau. Não sei se é o facto dela ser bem próxima a Amari que a faz ficar tão a vontade perto de mim, pensado bem ela tem uma facilidade em confiar nos outros.
- Então... O que fazes aqui? É raro ver-te sozinho, nesse caso sem a tua irmã - falou tirando um pacote de castanhas de um dos sacos e começou a come-las depois de o abrir.
- Só quis sair um pouco.
- Sem a Amrri? Que estranho - disse levando algumas gastanhas a boca.
- Toma - tirei o meu casaco e a entreguei. Tudo que eu menos queria era falar da Amari no momento - veste isso.
Zilpa estava com pele de galinha de tão arrepiada. Estava com uma saia e um blusa de alcança decotada que ainda bem que não é a amari a usar.
- Obrigada, então e tu?
- Não te preocupes comigo.
- Desculpa esqueci.
- Sem problemas.
- Vamos ter uma conversa um pouco mais normal? - ela esticou o pacote para que eu me servisse das castanhas
- Mas que essa?
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Entre irmãos
Mistério / SuspenseAmari, Aires e Amir, os trigémeos da família Ngola, sempre tiveram conectados pela dor. Após a morte da mãe, do aprisionamento do pai e do incidente em que perderam o irmão, Amari e Aires mudaram-se para a casa da tia e acabaram por perder parte da...