— Muito obrigada Amari — Tsunami Matias diz assim que dou por finalizada a minha apresentação.
As luzes do auditório se acenderam outra vez, seguido de uma chuva de aplausos. Agradeci e retirei-me do palco, procurei o Aires na plateia, mas nada dele, antes das luzes se apagarem ele ainda estava lá e agora desapareceu assim do nada.
Saí do auditório em direção ao hall em que estava mais cedo. Um pouco mais a frente estava o Cairo com duas moças, elas também fizeram a apresentação, não quis incomodar então apenas passei por eles, mas tinha a sensação de que ele me seguia com o seu olhar. Fui ao refeitório procurar pelo Aires, se ele tinha fome devia estar lá, mas minha busca foi sem sucesso, resolvi então ir esperar por ele no carro, mais cedo ou mais tarde ele viria até mim. Na volta ao hall da entrada principal dou de caras com Mário Mavuide, penso apenas passar sem dizer nada, talvez ele não me tenha reconhecido ainda.
— Espera! — ele diz e como só estávamos nós ali calculei logo que fosse para mim.
— O senhor está a falar comigo?
Ele aproxima-se de mim, até demais!
— Sim, você mesmo. — parecia atrapalhado embora sério, como se não soubesse o que dizer a seguir — és muito promissora, a tua proposta foi uma das melhores, seria um prazer trabalhar ao teu lado.
— Obrigado senhor. — estava visivelmente feliz, acabara de receber um elogio desses do homem que detém o título de melhor empreendedor da década. — o prazer seria meu com certeza, uma verdadeira honra ver o meu projeto ganhar vida.
— Não tens de que. Fizeste por merecer.
Ele mantinha os olhos vidrados em mim e quase não piscava, porque queria analisar-me tanto assim?
— Obrigada mais uma vez, senhor Mavuide.
Tanto elogio fazia-me mal. O meu sorriso não cessava, mantinha-se de orelha a orelha e transparecia toda a minha euforia.
— Vai ser um prazer ter-te aqui — ele diz por fim — fique bem… Amari certo? Pode esquecer o constrangimento do outro dia, eu já perdoei aquele incidente.
Incidente? Então ele lembrava de mim, que vergonha. Ele afastou-se calmamente e desapareceu por entre os corredores do edifício. O som de uma porta a bater reanima-me e lembro que, antes, ia para o carro esperar pelo Aires então sigo o percurso anterior.
— Pensei que o teu estatuto social já era suficientemente alto — ouço uma voz grave, era o Cairo na esquina do corredor — ou vais dizer que ele precisava de ajuda também?
— Ele quem? — Pergunto confusa.
— Mário Mavuide, fica longe dele — ele repara-me de cima a baixo com aqueles olhos negros que mais pareciam um vazio infinito, um tanto encantadores — Não vais querer estar por perto quando ele se rebelar.
Ele olha-me desconfiado, só não sei bem o porquê.
— E o que te faz pensar que quero estar perto dele?
— Esse discurso eu já ouvi, poupa-me dele está bem? Sei que não estás aqui por emprego ou patrocínio. Cairo vira-se para mim como se me quisesse confrontar.
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Entre irmãos
Gizem / GerilimAmari, Aires e Amir, os trigémeos da família Ngola, sempre tiveram conectados pela dor. Após a morte da mãe, do aprisionamento do pai e do incidente em que perderam o irmão, Amari e Aires mudaram-se para a casa da tia e acabaram por perder parte da...