Capítulo 9 _ Um Feriado Surpreendente _ 1° Parte

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Barulhos estridentes, era tudo que eu ouvia a ecoar nas paredes do meu quarto, abri os meus olhos ainda aborrecida por ter sido acordada com a cidade em festa. Olhei para o lado e vi o Aires a dormir profunda e pesadamente, estava tão bonito e meigo assim sossegado com as tranças a cair-lhe nos olhos quem perguntei-me se além de insensibilidade também sofria de surdez, porque não era possível alguém dormir com tanto barulho assim, até as palancas devem estar a ouvir tamanha barulheira de onde estão.

Fiquei na cama a espera de alguma força ou motivação que me fizesse levantar quando ouvi batidas no vidro da janela e um ruído ensurdecedor que me pareceram fogos de artifício, e o meu aborrecimento aumentou de imediato, sério, quem lança fogos de artifício pela manhã? O relógio marcava 9h, e eu a pensar que poderia dormir até tarde no feriado.

Sentei bem próximo ao Aires e comecei a afagar o seu cabelo enquanto tentava lembrar onde estavam as minhas samakakas, traje africano são que nem rouba preta, tem que ter ao menos uma peça no guarda-fatos.

Aires se remexeu na cama, mas não acordou, devem ser os remédios que o estão a deixar assim sonolento.

- Amari o que você fez - Aires diz chamando a atenção. Olhei para ele e ainda dormia - Amari o que você fez - ele repetia a frase sem parar, pergunto-me se ele também lembrou daquela noite em que eu disse que matei a mãe. Ainda nem tive oportunidade de dizer-lhe que a mãe foi provavelmente envenenada.

Aires se mexia demasiado, senti a sua temperatura a aumentar e a respiração a descompassar. Manti a calma, o Dr Marcos avisou que ele fosse ficar febril as vezes é um dos efeitos colaterais devido à quantidade de remédios diários que ele está a ingerir.

- Hey Aires! Estás a babar na minha perna, fecha a boca, criatura - digo ao tentar o acordar.

- Amari... porque você não gosta de mim, olha o que me fizesse fazer? - ele continuava a dormir, mas não parava de falar.

- Aires? - chamei por ele e nada.

Sai do quarto e fui pegar o remédio. Ele estava acordado, mas não lúcido, estava a delirar. Depois que a febre dele baixou deitei do meu lado da cama e fiquei a averiguar se ele estava consciente ou não. Ele fechou os olhos e não voltou a dizer nada, provavelmente caiu no sono novamente então resolvi começar o meu dia, pois nunca que eu ia conseguir adormecer com Luanda inteira soltando fogos.

Levantei-me da cama rápido de mais e por instantes fiquei com vertigem. Caminhei até a porta-de-correr envidraçada que dava acesso à varanda do meu quarto. Abri as cortinas praguejando 1001 pessoas que provavelmente estariam na rua, o sol que atravessava o vidro aquecia a minha pele e apesar de ainda ser cedo ele já mostrava todo o seu esplendor e calor. Fui a varanda e o barulho aumentou consideravelmente, como suspeitava a rua estava bastante movimenta e com estampas de panos em quase todos os lados, as pessoas andavam trajadas e as que não tinham um traje africano carregavam consigo alguma peça de pano, uma fita de cabelo, um turbante ou um lenço.

Era o dia da África, por momentos esqueci-me que já estávamos em Maio, os dias passaram rápido e eu nem me apercebi, pois, estava no hospital junto do Aires. Em todo o lado que eu olhava tinha panos de várias régios de África: Bologan do Mali; Andikra; kaniki e Kanga, kikoi shuka, kitenge, Nana Bens do Tongo e Shweshwe da África do Sul; mas a que mais se via era a samakaka que era daqui, de origem angolana, aquele padrão com cores da bandeira, vermelho, preto e amarelo, eram inconfundíveis e se destacavam a milhas.

Entrei no quarto e tranquei a porta de correr atrás de mim. Voltei a fechar as cortinas para ver se abafava o som. O meu telefone chamava, mas eu só percebi pelo brilho que saía do ecrã, já que não conseguia ouvir o seu toque abafado pelo barulho vindo da rua. Era uma mensagem de um dos clientes para quem vendi um projeto recentemente, parece que me esqueci de entregar o Croquis de localização e uma das plantas de redes técnicas. Marcamos de nos encontrar em duas horas.

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