— Como não? Todo o mundo sabe que estive grávida, está nas minhas memórias e até a Dra. carolina confirmou.
— É o seguinte, você não perdeu nenhum bebé porque ele nunca existiu. Por isso não quis falar desse assunto.
— E as minhas memórias? Lembro que estive sim grávida, na verdade, não só eu, o Aires também lembra disso. Até a Dra. carolina disse-mo. Eu abortei ele no acidente, não é?
— Ele realmente não existiu. Ouve, após o acidente vocês foram socorridos e o médico que vos atendeu disse que sofreste um aborto espontâneo, mas um tempo depois o Dr Marcos checou o teu quadro e era apenas um saco gestacional vazio sendo expulso do teu organismo.
— Mas eu fiz o teste, eu tinha certeza. — na verdade, nesse momento já não tinha certeza de nada.
— Chama-se gravidez anembrionária, acontece quando o óvulo fertilizado se implanta no útero da mulher, mas não desenvolve um embrião, não é comum acontecer, mas aconteceu com você — diz ela apreensiva — Neste tipo de gravidez, o corpo continua agindo como se a mulher estivesse grávida, a placenta se desenvolve e produz os hormônios necessários para a gestação, por isso, se for feito um teste de gravidez é possível obter um resultado positivo.
— Espera! Então eu estive ou não estive grávida?
— Não estiveste, aquilo era apenas um embrião fantasma que após o corpo identificar que estava vazio ele seria expulso naturalmente como um aborto espontâneo. Só o Dr. Marcos sabia, como vocês tinham esquecido de tudo não vi relevância em contar. — ela sorriu torto, parecia cansada, não pelas horas, mas pelo assunto — Não quis preocupar você, eu tive duas gestações anembrionárias e depois disso nunca mais tentei ter filhos, meu marido dizia que estava amaldiçoada e com o tempo nosso casamento ruiu.
— Não sabia disso tia, ele não a merecia.
Lembro que o casamento da tia Kénia acabou pouco tempo depois de irmos viver com ela. Na altura pensava que tinha sido por nossa causa, já que ela dava total atenção para nós e se desvinculava cada vez mais do marido. Mas agora percebo que ela só buscava em nós apoio para esquecer da realidade.
— Não te preocupes com isso, estou bem assim. — ela sorri abertamente, mas era um sorriso forçado para não chorar. — Se sou dura convosco é porque não quero vos perder. Não queria que lembrasses disso, pois é difícil aceitar que a vida que crescia dentro de ti não passa de uma ilusão e um saco vazio. Foi difícil para mim acordar aquele dia e ver o teu quarto arrumado, o armário vazio e nenhum sapato espalhado, como se nunca tivesses preenchido aquela casa. Foi difícil, mas me conformei com a tua decisão.
— Desculpa… Eu não sabia que sair de casa iria abrir as suas feridas. — chego mais perto e seguro as suas mãos — Eu só queria andar por mim mesma, sem ter ninguém a controlar os meus passos.
— E não é isso que as mães fazem? Assegurar a boa caminhada dos seus filhos?
— Provavelmente — falo e ambas rimos — Tia és o modelo mais próximo de mãe que eu tenho, infelizmente esqueci-me parcialmente da mãe que um dia tive, mas de certeza que ambas fizeram devidamente o seu papel — sorrio com as lembranças que tive recentemente da minha mãe — Obrigada por tudo que já fez e faz por nós — falo entre o abraço — Eu posso ter outra gravidez do tipo?
— Não, como eu disse, não é algo comum. É difícil um raio cair duas vezes no mesmo lugar, mas de todo não é impossível, aconteceu comigo. — disse com a voz baixa — Porém não deves te preocupar com isso.
— Porquê não tentaste outra vez? Dizem que a terceira é de vez.
— Não estava pronta emocionalme, o meu marido só me punha mais para baixo e quando o casamento acabou, me fechei para os relacionamentos conjugais.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Entre irmãos
Misteri / ThrillerAmari, Aires e Amir, os trigémeos da família Ngola, sempre tiveram conectados pela dor. Após a morte da mãe, do aprisionamento do pai e do incidente em que perderam o irmão, Amari e Aires mudaram-se para a casa da tia e acabaram por perder parte da...