Jorge, no momento tive uma branca, mas lembrei de imediato, pensei que ele tinha saído do país há anos. Ele está mesmo a minha frente e tudo que sinto, vem do Aires porque sinceramente eu não lembro nada dele, até agora não consigo acreditar que tivera sido uma menina tão burra e ingénua, que vergonha que tenho de mim mesma.
Ele ficou imóvel criando raízes naquele pavimento, a dois metros de nós, como se estivesse a absorver a informação, depois de um tempo recuperou e simplesmente deu meia volta e tencionava retirar-se.
— Espera, seu… — Aires tenta ir atrás dele, mas impeço-o — o que estás a fazer? Deixa-me, temos uma conversa pendente com ele.
— Temos? — indaguei confusa.
Ele continuava a andar então pendurei-me no braço esquerdo dele, tentando o fazer parar, mas ele continuou vagarosamente a dar os seus passos, relutante, praticamente estava a ser arrastada junto.
— Sim temos, esse assunto também diz-me respeito. — diz e dá mais um passo em direção ao Jorge.
— Desde quando que somos um?
— Desde o ventre da nossa mãe, deixa-me Amari! Eu vou…
— Aires para!
Ele continuou a avançar, o Jorge parou e permaneceu estatístico onde estava, virou-se, mas ao contrário do que pensei ele não parecia querer revidar. Ficou congelado pelo tempo e mantinha um olhar inexpressivo em nós, como se apenas esperasse ser arrastado pela fúria do Aires. Prestes a ser acertado uma segunda vez o Cairo segurou o Aires pelo braço direito o imobilizando
— Para uma pessoa em recuperação tens muita força, não? — Cairo diz ainda o puxando para trás e o Aires fuzilou-o com o olhar. Cairo não disse mais nada, mas continuou o segurá-lo.
— Eu estou bem, larguem-me vocês os dois!
Ele continuava a lutar contra nós, mas sem tirar os olhos do Jorge, eu não via totalmente a expressão do Aires, mas de certeza que não estava com um ar simpático. Comecei a cogitar a possibilidade de soltá-lo e deixar fazer o que quiser, estava a ser tomada pelos sentimentos negativos do Aires, olhei para o Jorge que não demonstrava expressão alguma, parecia que não estava a se importar com o escândalo do Aires. Talvez devesse mesmo saltar a Aires.
— Amari cuidado!
Cairo gritou para mim segundos antes de ser atingida no rosto pelo cotovelo do Aires. Recuei dois passos e coloquei as mãos no rosto para o cobrir, estava a sangrar. Foi aí que o Jorge finamente se moveu e o Aires parou, ele atingiu-me com uma cotovelada no nariz e doía um pouco, se o meu nariz quebrou vou quebrar o Aires também.
— Amari estas bem? — disseram todos quase ao mesmo tempo — Espera eu tenho um lenço, pega. — Jorge se aproximou de mim e estendeu um lenço preto nas suas mãos.
Aceitei o lenço e limpei o rosto, mas depois ele pegou de repente o lenço das minhas mãos e ergueu o meu rosto ao encontro do seu para poder me analisar e limpar onde eu não consegui. Pude ver o seu rosto de perto e ele estava sereno como se nada fosse, será que ele é mesmo o Jorge de há 8 anos? Ele não parecia estar tão intrigado com a situação agora. O momento durou apenas uns meros instantes, pois o Aires se colocou entre mim e ele.
— Ela não precisa da tua ajuda — Aires esbraveja.
— Aires já chega! — ponho-me em frente a ele e o seguro com as duas mãos no rosto, olhei fundo nos seus olhos como se pudesse alcançar a sua alma com isso e ele pareceu seder.
— Desculpa — disse ele após avaliar o meu rosto — não queria magoar você. Eu só queria…
— De-me as tuas mãos — pedi e ele obedeceu sem relutar, inspecionei elas para ver se ele tinha se magoado.
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Entre irmãos
Mystery / ThrillerAmari, Aires e Amir, os trigémeos da família Ngola, sempre tiveram conectados pela dor. Após a morte da mãe, do aprisionamento do pai e do incidente em que perderam o irmão, Amari e Aires mudaram-se para a casa da tia e acabaram por perder parte da...