Faltava pouco para chegarmos na casa do Cairo, já conseguia ver o portão ao longe, apressei os passos, pois a Waldíkia estava com bastante sono. Viemos sozinhas já que o Cairo tinha que preencher os dados da internação da sua mãe lá no hospital.
Chegamos, soltei-me um pouco da Waldíkia e abri o velho portão de chapa. Ainda lembrava como a Waldíkia o abriu da primeira vez que aqui vim então apenas fiz o mesmo, mas o portão literalmente desabou das minhas mãos e caiu nos meus pés fazendo um arranhão na minha perna despida com um dos pedaços soltos da chapa enferrujada de que era feito o portão.
Além da corrente que se usava para fechar a porta a prendendo num varão de ferro, tinham duas cordas que prendiam a porta a outro varão de suporte, fazendo a vez das dobradiças e parece que as cordas tinham se rebentado.
— Não se preocupe, isso acontece várias vezes — Waldíkia começou a falar, agora mais desperta pelo barulho que a porta vez — as cordas não prestam por isso duram pouco — diz e passa em cima da porta fazendo barulho com os seus passos amolgando a chapa.
— Podiam usar correntes em vez de cordas para segurar ou se calhar usar outra porta — falei baixo e ajeitei os destroços.
Após endireitei a porta virei-me para adentrar em casa, mas Waldíkia já tinha sumido, deve ter entrado sem mim. Percorri um beco de 1 metro de largura mais ou menos, não dava para passar duas pessoas lado a lado ao mesmo tempo. As paredes não rebocadas daquele beco estavam todas grafitadas e gostei bastante.
No final no beco tinha outra porta de barras de ferro, abri-a e deu-me passagem para a sala, bastante pequena, mas acolhedora. Andei um pouco a chamar pela Waldíkia e sem querer derrubei um quadro, que se encontrava numa mesinha junto do sofá, e rachou logo que encontrou o chão duro revestido de mosaicos brancos. — vão mandar-me pagar de certeza — penso em voz alta.
Pequei o quadro para por no lugar, mas a foto chamou-me a atenção.
— Fica a vontade Amari, serei sua anfitriã — Waldíkia apareceu saindo de uma porta que ficava num hall no fundo da sala, conduziu-me até ao sofá e me fez sentar
— Sabes o que é um anfitrião? Tens certeza que tens oito anos, é que não parece.
— O meu Irmão mais velho me ofereceu um dicionário, como tarefa tenho que aprender o significado de uma palavra nova toda semana. Também sou boa ouvinte e curiosa, se eu ver ou ouvir algo de novo tenho que perguntar.
— Fazes muito bem, nunca deixes que te calem a curiosidade.
— Queres alguma coisa? — disse com a sua voz encantadora.
— De momento não quero nada, obrigada — Tento soar o mais educada possível, pois o que eu queria era comer e dormir.
— De certeza? — faço que sim com a cabeça, seguido de um bocejo — e brincar, você quer? Eu não recebo muitas visitas e só tenho amigas na escola, brinca comigo por favor, Amari.
— Estou um pouco cansada agora e você devia ir dormir, não dormiste nada bem durante a noite.
— Mas quero ficar aqui contigo e não tenho muito sono — falou bocejando também e a acompanhei — posso ligar para o meu príncipe? — ela fala já com o meu telefone em mãos
— Como você tirou ele sem eu perceber?
— Segredo da rua Amari — reponde e entrega-me o telemóvel. — vou buscar um cobertor, já volto — ela saiu e fiquei a olhar para a foto que derrubei a pouco, era uma senhora que estava na foto, tinha traços da minha mãe… — ela é a minha mãe — disse Waldíkia chegando com o cobertor e almofada.
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Entre irmãos
Mistério / SuspenseAmari, Aires e Amir, os trigémeos da família Ngola, sempre tiveram conectados pela dor. Após a morte da mãe, do aprisionamento do pai e do incidente em que perderam o irmão, Amari e Aires mudaram-se para a casa da tia e acabaram por perder parte da...