Capítulo 6 _ Conta-me mais _ 1° Parte

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— Amari podes se arrumar, recebeste alta.
Uma das enfermeiras, que me examinou, falou assim que se aproximou da cama. Ela começou a mexer no balão de soro e a desvincular aqueles instrumentos de mim.

— Leya, eu assumo daqui, obrigada — a Dra. Carolina diz após chegar repentinamente na sala e as duas enfermeiras que lá estavam saíram com o seu pedido atencioso.

Ela era a médica da família. Foi ela quem acompanhou a gestação da minha mãe e monitoriza de perto, até agora, o quadro a que eles chamavam “o caso gémeos Ngola”. Ela envolveu-se tanto que ficou amiga dos meus pais na época. Era uma senhora de idade avançada, talvez seja só um pouco mais velha que o Francisco, o nosso motorista, mas não tinha como eu saber já que a aparecia do Francisco contradizia a sua real idade.

— Dona Carolina, o Aires também está aqui? — pergunto quando ela chega perto o suficiente e pega a prancheta presa na cama hospitalar.

— Está sim querida, vais poder vê-lo já já.

— fala sem tirar os olhos da prancheta nas suas mãos — Queres ajuda? — ela questiona-me quando se apercebe que queria levantar-me.

— Não é necessário, obrigada.

Sentei-me na cama meio deslocada, olhei a minha volta a tentar acostumar-me ao lugar. Tantas vezes já vim parar aqui, mas era sempre como se fosse a primeira vez, a minha pasta estava numa cadeira junto a cama, peguei nela e tirei o meu telemóvel, tinha se passado 1 dia apenas. Aquela luz florescente que casava com o ambiente do quarto estava a começar a encomendar-me os olhos.

— Vou esperar-te lá fora.

Dra. Carolina tencionava retirar-se, mas eu tinha questões que só ela poderia dizer-me, já que a tia Kénia nunca nos conta as coisas de maneira mais detalhada.

— Espera! — ela para com as mãos na maçaneta e a porta já entre-aberta — podes dizer-me uma coisa? Mas não conta para a minha tia que perguntei, por favor.

— Diga querida, é sobre o Aires?

— Qual foi o real motivo da morte da minha mãe?

Vou logo direito ao ponto, precisava saber disso com urgência porque as minhas memórias estão a matar-me aos poucos. Elas não fazem sentido algum, devem estar erradas, têm que estar. Ao menos era isso que eu queria acreditar.

— Porquê essa pergunta agora? — ela fecha a porta atrás de si visivelmente inquieta — a tua mãe morreu de paragem cardíaca, como já sabes, ela tinha um quadro grave de arritmia cardíaca.

— Se foi realmente isso porquê que houve uma investigação policial?

Era tudo muito estranho, talvez fosse só o meu cérebro a pregar-me uma partida e a desconstruir as minhas memórias, mas lembro que foram policiais várias vezes na nossa casa.

— Como sabes da investigação?

Ela ficou ainda mais nervosa, parecia que tinham descoberto o seu maior pecado.

— Lembrei há dias.

A Dra. Carolina ficou a olhar para mim como se estivesse a buscar as palavras certas. Quando ela finalmente decidiu pronunciar-se fomos interrompidas por batidas na porta e ela pareceu respirar fundo de alívio, pois se tinha livrado do meu interrogatório, mas ainda hei de ter as minhas respostas.

— Dra. a responsável pelos Ngola está aqui e pergunta por si.

— Já vou — ela fala para a enfermeira que estava a porta — Amari depois falamos. Não respondi, pois, ela já tinha se retirado.

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