Capítulo 13 _ Caso Arquivado

24 4 0
                                    

Notei que o Aires não reagia, então percebi que ele estava inconsciente.

- O que eu fiz? - falei trémula entre os soluços.

Ouvi passos virem até nós percorrendo o corredor ao lado.

- O que foi Amari? - Tia Kénia abriu a porta bruscamente e se aproximou de nós, também agitada - O que aconteceu? O que foi que você fez? - ela encostou suas mãos no Aires para faze-lo acordar - Vá logo chamar o Francisco. O que tinhas na cabeça?

Senti o meu corpo pesar e a visão a embaçar. A voz da tia Kénia ficava cada vez mais distante. Meu corpo latejava de tanto que bati no Aires, eu sentia doer todo ele. Antes mesmo de dizer alguma coisa, caí desmaiada por cima dele. 

Depois daquele dia nós acordamos no hospital novamente e eu quase morri por isso, foi minha culpa. Sou uma péssima irmã.

Passaram-se duas semanas, eu e o Aires mal falavamos. Quando ele se recuperou mal olhava para mim, evitava cruzar comigo e nunca mais invadiu a minha cama. Quase todas as tardes saía. Era raro o ver sair com frequência sem mim, e isso me incomodava. Eu batia sempre a sua porta e apenas ouvia o som das chaves rodopiando e trancando a fechadura.

As poucas vezes que sua porta se abria para mim era quando ele não estava. Nos encontros ao acaso ele não me olhava nos olhos, colocava o capuz do seu casaco e passava sem dizer nada. Eu ficava triste quando ele não estava, queria correr ao seu encontro, mas não iria faze-lo até que ele converse comigo e se desculpe. Ele pode ter o espaço que quiser, mas talvez quando ele resolver falar eu já estarei cansada.

Após vários encontros no corredor, onde penas recebia uma virada de rosto, passei a aceitar mais trabalhos no centro do B.I.J.E, Cairo ficava boa parte do tempo comigo para, segundo ele, o senhor Mavuide não chegar perto de mim, porém eu saía mais tarde e acaba sempre por aceitar a boleia do senhor Mavuide até casa. E até agora nada do Aires me procurar. Eu sei que ele ainda está abatido, mas não aceito isso de modo algum.

Sei que não tenho o direito de ficar magoada. Estava com raiva, porém não o culpava. Foi um acidente infeliz. Perdi minha mãe por um desejo infeliz do Aires, é isso que me custa assimilar. Poderia ter sido minha culpa. Eu sei que ela viu o teste de gravidez. Esses dias todos eu só pensava na mãe, e sempre que lembrava das palavras do Aires só me apetitecia chorar sem parar. "fui eu" - essas palavras eram massantes demais para os meus ouvidos.

Eu queria acreditar que minhas memórias foram um sonho e talvez o Aires sentisse o mesmo em relação as suas, por isso tem medo de me encarar e aceita a realidade. A verdade é que ambos andamos a nos remoer pelo mesmo crime, pelo que o Aires me contou não foi intencional, ele não sabia o que ia acontecer, como poderia ele saber? o que me doi mais é saber que confiei nele e ele se calou me deixando carregar a culpa sozinha.

O tempo passou bem rápido, já estavamos no tempo de cachimbo, a temperatura era em torno dos 23°C, para uma região tão gente como Luanda aquela temperarura já era bastante baixa. As pessoas já usavam os seus casados ao sair, naquele final de semana.

Eu estava na varanda do meu quarto apreciando as pessoas a passarem na rua, amigos se encontrando, pessoas de mãos dadas, o tempo do frio aproximava ainda mais as pessoas, como se fosse da nossa natureza acalorar o coração com o aperto de alguém próximo.

A porta de correr do meu quarto, que dava acesso a varanda onde eu estava rangeu por trás de mim mesmo sendo empurrada com cautela. A pessoa mais importante para mim, embora estejamos a evitar um ao outra a dias acaba de se fazer presente, me cobrindo com o cobertor que dantes estava vestindo a minha cama.

- Me evitando? - Aires disse sentando ao pé de mim no chão da varanda, com os pés de fora por entre as grades do guarda corpo, tal como eu estava no momento - Ontem Você saiu da mesa quando eu me juntei para o jantar. Eu sei que estas magoada…

Entre irmãos Onde histórias criam vida. Descubra agora