Capítulo 8 _ Confronto

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A sensação de voltar a casa é maravilhosa e radiante, apetecia-me beijar os moveis, abraçar as paredes e conversar com cada cómodo, parecia que essa manhã estava mais fresca e resplandece em relação as outras. Parte disso sei que se deve a notícia de que o Aires não é mais um caso instável, estou bem mais calma agora. O Francisco despediu-se de mim e regressou para o hospital, levou consigo algumas tigelas com comida que ele mesmo tinha preparado para a tia Kénia, desde aquele dia no consultório da Dra. Carolina que eu e a tia Kénia ficamos no vai e vem, alternando os dias de cada uma ficar perto do Aires assim poderíamos descansar um pouco, o Cairo apareceu por lá algumas vezes e para ser sincera gostei da companhia dele apesar de querer sempre discutir comigo. A Zilpa e a tia Ana também apareceram e fiquei muito feliz de as ver connosco, puderam ver a tia Kénia e se conhecer, já que elas antes só tinham ouvido o nome uma das outras através se mim. A tia Ana tinha uma afeição enorme pelo Aires, ela queria ter um filho homem também, mas depois da Zilpa todas as suas gestações foram interrompidas naturalmente.

Mal entrei em casa fui direito para o quarto tirar o cheiro de hospital que havia se impregnado em mim. Perdi a noção no tempo de baixo do chuveiro, a água estava morna e bastante agradável, o vapor que se apoderava do ar do quarto de banho deixava a minha pele amaciada e os músculos relaxados, ficar de baixo do chuveiro ajudava-me a pensar e a aclarar a memória. Eu queria poder falar com o Aires sobre as memórias que me vieram a mente, estou a começar a pensar que não devíamos confiar nelas parecem armadilhas criadas pela nossa mente, ou então seja só medo que eu tenho. Medo de que elas se confirmem e eu realmente tenha sido a causa do coração da minha mãe ter parado de bater.

Depois de tomar banho fui comer qualquer coisa, já estava com saudades da comida que o Francisco e o Aires preparavam, é difícil de acreditar, mas aquele masoquista do Aires cozinhava bem melhor que eu, como projetista sou uma ótima organizadora de espaços, então arrumação e mudanças é comigo mesmo. O Aires terá alta em breve se a operação correr bem, o Dr Marcos tinha previsto que seriam precisas duas operações, mas o Aires está a recuperar-se três vezes mais rápido que o esperado, ele realmente contradiz sempre as expectativas e isso deixa-me muito feliz.

Bem, como estava sozinha em casa e cansada, fui deitar-me para repor as energias, já na cama olhei para a secretária e lembrei do B.I.J.E, peguei o meu telefone e conectei ao Wi-Fi, instantaneamente começaram a cair imensas notificações, mas a maioria não me interessava e foi então que eu vi a que eu queria.

— Recusado — li em voz alta.

Era um texto de quase 400 palavras, mas só uma chamou a minha atenção, fiquei sem ânimo para ler o resto, deitei-me e dormi com o pensamento de que ao menos tentei e a audácia de se arriscar para conseguir algo já vale muito.

Fui desperta pelo som estridente do meu telefone, a melodia ritmada com a voz da Ana Joyce denunciava uma chamada por atender. Tentei ignorar, pois, estava meio desacordada e tencionava ficar assim mesmo, mas lembrei que poderia ser sobre o Aires então atendi sem nem notar que era um número desconhecido.

— Alô — digo ainda sonolenta.

— Tudo bem Amari? Fala o Mário Mavuide, lembra de mim? — ele respondeu do outro lado da linha telefónica, um tanto animado.

Rapidamente endireitei-me na cama, olhei umas três vezes no ecrã do telefone para ter certeza que não conhecia o número, poderia ser só alguém a brincar com a minha cara, mas não.

— Senhor Mavuide, como conseguiu o meu número?

— Retirei da tua ficha, vim falar em nome do B.I.J.E.

— Em nome do B.I.J.E? Mas fui rejeitada senhor, já recebi o E-mail. — falei um pouco desiludida.

— Rejeitada? Você leu mesmo bem o E-mail? É o seguinte, a tua ideia é que foi rejeitada embora ela seja muito benéfica e inovadora é algo que não podemos financiar sem a aprovação do governo já que no final teríamos que ter a aprovação deles por não ser algo pequeno, entendes-me? A equipa do B.I.J.E mandou o exemplar para ser analisado e a filmagem da tua apresentação também. Porém, liguei por outra razão, a uma semana que espero a tua resposta, como já havia dito o teu projeto foi recusado, mas não você, quero que trabalhes comigo penso que a tua criatividade não pode ser desperdiçada.

Entre irmãos Onde histórias criam vida. Descubra agora