ANTERIORMENTE
(Gabriela)
Há cinco anos atrás...
Hoje eu completo dezoito anos. Acabei de vir morar em São Paulo para cursar faculdade pública de administração na USP. Como sou do Rio de Janeiro, vim à São Paulo há duas semanas para conhecer a faculdade e ver um lugar para morar.
Vou morar sozinha aqui, então procurei por apartamentos pequenos, de um quarto apenas. E como disse anteriormente, com toda sorte enviada dos céus, eu achei o meu de primeira. Além do conforto obviamente, eu procurava por segurança.
Quando cheguei para visitar o apartamento, de cara já gostei porque o prédio fica em uma área segura, com porteiros 24h por dia. O apartamento ficava no décimo quarto andar e logo que entrei fiquei hipnotizada com a vista deslumbrante que ele me proporcionava. Fui direto na varanda para admirar a vista do parque do Ibirapuera. Se não houvesse nenhum problema que não fosse solucionável, esse apartamento seria meu só por causa da vista.
Além da vista, o apartamento tinha uma suíte ampla, sala de estar e de jantar conjuntas, cozinha americana, um lavabo e uma área pequena de serviço. Tudo perfeito para mim. Fechei o contrato no mesmo dia, com a promessa de me mudar em uma semana.
Quando voltei para casa no RJ, fiz várias listas relacionadas às compras para o apartamento que eu ia morar, como: eletrodomésticos, móveis, jogos de banho e cama, mantimentos e etc, Como vou me mudar de um estado para outro, eu não tinha intenção de levar nada além das minhas roupas e acessórios pessoais. Então precisaria comprar tudo novo, e ia utilizar o valor guardado em minha conta para isso.
Meus pais desde que eu nasci, sempre investiram dinheiro numa conta, no banco, em meu nome. Esse dinheiro era guardado para pagar minha faculdade, porém como passei em uma faculdade pública em outro estado, o dinheiro seria utilizado para mobiliar meu novo lar.
Eu sou muito organizada, então fiz e refiz as listas incansavelmente para nada dar errado. Após minhas listas finalizadas, eu estava pronta para me mudar.
Eu cheguei a SP num sábado, dois dias antes da entrega das chaves e fiquei em um hotel. No mesmo dia, fui às compras, começando pelos itens mais essenciais, como geladeira, fogão, sofá, cama e guarda roupa. Todos esses itens eu comprei com a promessa de me enviarem na segunda-feira.
O restante eu fui comprando com calma no mesmo dia e até no dia seguinte. Na segunda-feira, após receber, pela manhã, todos os itens combinados, eu sai em posse de vários currículos para tentar uma vaga de emprego. Pesquisei antes e fui a vários locais que estavam com vagas abertas. E me candidatei a todos os tipos de vagas possíveis, até para auxiliar de serviços gerais, vez que não tinha experiência profissional nenhuma.
Na sexta-feira daquela mesma semana, chegaram os últimos itens e meu apartamento estava finalmente do jeitinho que eu sonhei. Até pensei em sair para comemorar, mas eu fiquei tão focada em finalizar todos os detalhes da minha casa, que esqueci, completamente, que não tenho um amigo aqui. Teria que esperar as aulas começarem para fazer novas amizades e aí sim poder sair. Não curtia o fato de sair sozinha na noite. Sem contar que amanhã às 10h tenho outra entrevista de emprego, para a vaga de auxiliar de serviços gerais.
Durante a semana eu fiz algumas entrevistas para vendedora, caixa, atendente, mas nenhuma delas aceitava o fato de eu não ter experiência na área. Com sorte, passarei na de amanhã. Todos que me conhecem à primeira vista dizem que sou estilo patricinha, mas longe disso. Sempre tive uma vida financeira regrada, sem excessos. Na casa da minha mãe, por exemplo, nunca teve empregada ou faxineira, então eu mesma a ajudava nos serviços domésticos, e cá para nós, eu limpo um banheiro como ninguém. E espero que os patrões aceitem isso como experiência.
No dia seguinte acordei cedo, tomei banho e coloquei uma roupa padrão de entrevistas de emprego. Calça preta, blusa preta e uma sandália preta sofisticada, não muito alta porque eu sou alta, tenho 1,75cm. Eu tenho o corpo curvilíneo, com algumas gordurinhas a mais na barriga, mas que mulher real não tem? Só as que se matam na academia ou as que fazem cirurgia plástica, inclusive nada contra, eu mesma tenho vontade de fazer rinoplastia, mas não sou regrada nem na alimentação, nem nos exercícios físicos para querer ter barriga chapada.
Como tenho seios fartos, para essas ocasiões eu sempre escolho blusas recatadas, sem decote. Após mudar a roupa, eu vou a cozinha e faço um sanduiche com requeijão e queijo branco, que eu amo e um copo de toddy. Tomo meu café da manhã ouvindo música e mexendo nas redes sociais para animar meu dia. Resolvo sair na parte da tarde... Vou ao shopping, comprar uns livros novos, ver um filme no cinema e me dar ao luxo de fazer as unhas no salão de lá, já que eu mesma faço minhas unhas e cuido do meu cabelo, indo a salão só em ocasiões especiais.
Quando termino de tomar o café da manhã, escovo os dentes e vou arrumar meu cabelo. Meu cabelo é bem comprido, ondulado e é loiro escuro, então faço luzes duas vezes por ano para mantê-lo saudável e em um tom de loiro mais claro. Como o lavei na quinta-feira a noite, passo um pouco de shampoo a seco e faço um rabo de cavalo simples, mas eficiente para domar as ondas do meu cabelo.
Faço uma maquiagem leve, apenas com corretivo, blush, rímel e um batom discreto. Me olho novamente no espelho e me sinto pronta e confiante. Assim, sigo para minha entrevista, que será no escritório de advocacia Oliveira, que fica em um prédio comercial próximo ao meu.
Saio de casa com bastante antecedência e peço um carro de aplicativo, para não andar por ai de salto. Quando chego no local, fico admirada com a beleza do prédio e com sua altura também, acho que deve ter uns sessenta andares. Ao entrar cumprimento e pergunto a recepcionista:
- Bom dia, tudo bem? Você poderia me informar em qual andar fica o escritório Oliveira Advocacia e Assessoria?
- Bom dia senhorita. Fica no sexagésimo sexto andar. Qual seu nome para que eu informe sua presença?
Em que mundo eu estava que achei que ia subir direto? Claro que em um prédio sofisticado desses a recepcionista precisaria informar a presença de visitantes. Então sorrio para ela, me desculpando e informo meu nome e digo que vim para entrevista. Logo após ela libera minha entrada e sigo para o elevador.
Quando me aproximo da área dos elevadores, percebo que um deles estava prestes a se fechar, com um homem dentro, que estava falando no celular e ficou parado me olhando e sequer segurou o elevador para que eu pudesse entrar. Foi tudo tão rápido que não tive tempo de repará-lo bem, apenas fixei nos seus lindos olhos acinzentados.
Chamei o próximo elevador, xingando o homem, por dentro, por tamanha falta de sensibilidade.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amor proibido
RomanceGabriela é assistente de Pedro em um escritório de advocacia renomado em São Paulo. Os dois são apaixonados um pelo outro, porém sabem que se trata de um amor impossível de se viver. Em razão disso, vivem sua vida paralelamente. Mas um dia o amor do...