Capítulo 5

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(Pedro)

Quando a mulher entrou na minha sala, eu tive que me conter. Seu perfume doce tomou conta do ambiente, me cegando momentaneamente. Ela me olhou e me deu bom dia.

- Bom dia senhorita, pode se sentar, eu sou o Pedro Oliveira, qual seu nome? - eu disse a ela, me controlando para manter minha voz estável.

- Olá senhor Pedro, meu nome é Gabriela Martins.

Ao ouvir ela me chamar de senhor, meu pau ganhou vida, lembrando das experiências de dominação que já tive e agradeci internamente por ter uma mesa a minha frente. Querendo esquecer esses pensamentos incoerentes, respiro fundo e digo:

- Então você se candidatou a vaga de auxiliares de serviços gerais daqui? Desculpe pelo julgamento estereotipado, mas porque se candidatar a essa vaga?

- Eu sempre enfrento esse tipo de julgamento no meu dia a dia, todos que me pensam que eu sou uma dondoca. Mas não sou senhor. Eu vim do Rio de Janeiro para cursar administração na USP e me mudei na semana passada para cá, quase todo dinheiro que eu tinha guardado eu usei para mobiliar meu novo apartamento aqui e preciso de um emprego para manter meu aluguel e as contas em dia sem depender dos meus pais para isso. Então durante os últimos dias, eu venho procurando um emprego, mas não consegui nada ainda porque não tenho experiência profissional. Assim como não tenho experiência para serviços auxiliares de serviços gerais, mas tenho esperança de que o senhor leve em consideração que eu sempre ajudei minha mãe nos serviços domésticos em casa.

Quando ela terminou de falar eu me recriminei por julgá-la pela aparência. A Gabriela além de linda, se mostrou uma mulher responsável e inteligente, e que estava em busca de uma oportunidade para manter sua independência financeira. Será que o apartamento dela era no prédio que a vi no outro dia? Então a questionei.

- Você disse que precisa manter o aluguel e as contas do seu novo apartamento, onde é seu prédio?

- No edifício Solar do Engenho.

Bingo.

- Esse edifício é meu, foi bem atendida pelos funcionários da minha imobiliária?

- Você possui prédios e imobiliária? Achei que o senhor fosse advogado.

Ao terminar de falar, ela ruborizou e disse:

- Me desculpa a indiscrição, não deveria ter perguntado isso ao senhor.

- Não tem problema senhorita, entendo a surpresa, você é nova na cidade e não deve ter ouvido falar de mim ainda – dou um sorriso de canto de boca e continuo – eu sou advogado sim e meu escritório é o mais renomado da cidade, além de prestar assessoria e serviços jurídicos eu desenvolvi um projeto para estagiários e advogados iniciantes para que os mesmos possam ter experiência profissional. Contribuir para no início dessa profissão tão difícil de acesso no mercado de trabalho, sempre foi um dos meus sonhos e esse projeto, graças a Deus, inspirou muitos escritórios a fazer o mesmo. Além do escritório e do meu projeto, eu tenho muitos prédios, imobiliárias, até hotéis como forma de investimento e geração de lucro e empresas.

Ela está me olhando boquiaberta.

- É muto altruísmo o senhor pensar em tantas pessoas quando o status que possui – ela diz.

- Muito obrigada, mas acredito que se todas as pessoas que possuem condições financeiras e poder, fizessem projetos que ajudassem as pessoas menos favorecidas, viveríamos em um país melhor. Mas voltando a você, porque administração?

- Eu sou muito organizada senhor. Tudo que eu faço, faço metodicamente, buscando sempre a perfeição, então conclui que posso usar isso a meu favor e contribuir para administrar empresas e quem sabe, um dia ter a minha própria.

- Entendo. Me fala mais de você. Já que não tem experiência profissional, não tenho a quem pedir referências.

- Bem, eu sou uma mulher simples, com gostos simples. No RJ saia com meus amigos às vezes. Mas sou mais caseira. Gosto muito de ficar em casa lendo. Gosto de música e séries. Sempre fui estudiosa. Não dei muito trabalho a meus pais, nem mesmo na adolescência. Começo a faculdade na próxima segunda-feira e é isso. Não há muito para saber.

- Vamos aos clássicos das entrevistas então, qual seu pior defeito?

- Eu sou perfeccionista, não consigo conviver com bagunça, tenho obsessão por organização. Agora mesmo não consigo parar de reparar que o vaso na estante, a esquerda do senhor, não está centralizado – ela sorri, se desculpando.

- Não quero nada te incomodando – levanto e coloco o vaso no centro do nicho da estante – e sua melhor qualidade?

- Como já disse, eu sou muito organizada e presto atenção nos pequenos detalhes. Então dificilmente o senhor vai ter do que se queixar do meu trabalho. Mas em relação a convivência, eu sou uma pessoa extremamente fácil de lidar. Entrego o que tenho de melhor para as pessoas a minha volta. E as únicas coisas que não aceito e que me tiram do sério é mentira, desonestidade e grosseria.

É fato agora. Eu estou de quatro por essa mulher. Não tenho nenhuma vaga que se enquadre melhor para qualificar sua educação na faculdade, a oferecer a ela, por enquanto, mas não vou deixá-la ir. Quando vou dizer a ela que está contratada, Renata bate na porta, anunciando sua entrada e diz:

- Senhor Pedro, desculpe a intromissão, mas preciso falar com o senhor com urgência

Ela está pálida e me preocupo imediatamente.

- Gabriela, a senhorita pode me esperar na sala de espera por alguns minutos? Eu já tenho uma resposta para você, mas preciso falar com meu assistente agora.

- Claro senhor Pedro, aguardarei o tempo que for necessário.

Amor proibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora