Capítulo 26

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Pedro

Quando eu chego, o escritório está vazio, exceto por Gabriela, que nesse momento está sentada na mesa dela olhando para o nada, e percebo que ela está esgotada só de olhar pelas suas feições. Ela tentou disfarçar com maquiagem, mas se tem uma pessoa que eu conheço em detalhes, é ela.

Anos se passaram e eu nunca a esqueci, mas como nunca poderia a ter, aprendi a lidar com o fato de que ela é e sempre vai ser uma grande amiga e uma das pessoas mais importantes na minha vida.

Nesses anos nós fomos mais que amigos, fomos confidentes. Gabriela passou a ser a pessoa que eu mais confio no mundo, tudo na minha vida gira ao redor dela. Ela organiza meus dias, todos os meus compromissos e minha vida. Poucas são as coisas que eu mesmo cuido, e assim mesmo são coisas extremamente pessoais.

Nós sempre estivemos presentes um para o outro, nos momentos tristes, alegres, de diversão, de perda.

De uns anos para cá ela namora o Alex, e pelo que conheci e percebi dele, ele aparente ser uma boa pessoa e parece ser bem apaixonado pela Gabriela, mas quem não seria? Gabriela é incrível, tem seus defeitos, óbvio, todo mundo tem, além de ser uma ótima companheira, quem não seria extremamente grato por tê-la?

- Está encarando o nada por quê, Gabriela?

Ela se assusta e quase cai, virando a cadeira para trás.

- Quer me matar, porra?

- Olha, começamos o dia tecendo palavrões?

- Não, mas você me assustou de verdade.

- O que você tem hoje? Está abatida e visivelmente abalada.

- Me aborreci na sexta passada e tive um final de semana péssimo. E, sinceramente, ainda estou mal.

- E o que te aborreceu?

- Eu não quero conversar sobre isso aqui, você sabe que sou emotiva e vou acabar chorando e daqui a pouco o pessoal do trabalho chega. Não gosto de demonstrar...

Antes dela terminar de falar, eu completo...

- Demonstrar vulnerabilidade. Eu sei. Vamos lá para minha sala, não vou deixar ninguém entrar.

Estendo a mão para ela, que aceita e vamos para minha sala. Fecho a porta com chave e pego um copo d'água para Gabriela, que se joga no meu sofá, já sem nenhuma cerimônia a essa altura do campeonato.

- Sexta-feira eu saí mais cedo porque você viajou e resolvi almoçar no Joe's, depois que eu comi, comprei uma das quentinhas fitness para o Alex e levei até o hospital...

Dai ela me contou tudo o que tinha acontecido e eu estou genuinamente chocado. Poucas pessoas conseguem me surpreender e ele conseguiu. Um caso abertamente público no local de trabalho, onde a mulher dele conhece muita gente e tem livre acesso ao lugar? Muito esperto.

- Eu não estou acreditando nisso.

Ela está chorando e ela sempre fica muito vermelha quando chora. Eu passo a mão no rosto dela, limpando suas lágrimas.

- Não chore.

- Eu chorei muito sábado e ontem, hoje eu estou chorando uma quantidade aceitável para quem já chorou tudo que tinha para chorar. Eu não falei sobre isso com ninguém.

- Podia ter me ligado.

- E acabar com sua viagem? Não... eu passei o final de semana todo pensando no que eu fiz de errado. E cheguei à conclusão de que não fiz nada além de ser uma mulher do caralho para ele. Desde o inicio do nosso relacionamento, eu sempre tive que abrir mão de fazer as coisas que eu queria, de viajar para onde queria, de ir a lugares que eu queria, por causa dos horários apertados dele. Sempre fui compreensiva, companheira, sempre. E agora começo a me perguntar se ele realmente tinha horários apertados ou se ele mentia desde o início.

- Os horários dele são realmente apertados, eu chequei quando você começou a sair com ele.

- O quê?/ - Ela me olha com os olhos arregalados.

- Não me olha assim, eu precisava saber se estava segura.

- Você e seus contatos – ela sorri para mim e limpa as últimas lágrimas – Você acredita que esse caso é recente?

- Talvez... Não acredito que ele tinha muito tempo para manter uma amante, mas é bem conveniente a amante trabalhar no mesmo lugar que ele. Ele não precisaria nem sair do serviço para se encontrar com ela.

- Eu nem o deixei falar nada, e, sinceramente, o que ele poderia me explicar? Ele disse que não queria isso, e realmente pareceu muito arrependido, mas se não queria fez por quê?

- Você realmente quer uma resposta para isso? Se sim, liga para ele e marca um encontro, Essa semana ele acaba os plantões obrigatórios, ele vai ter tempo para conversar com calma. Se não, o bloqueia em tudo e siga em frente e esquece esse assunto. Fica solteira, ou arruma outro, homem não vai te faltar, o que você quer?

- Eu preciso de férias. Eu preciso me afastar de tudo isso por uns dias.

- Tudo bem, de quantos dias precisa?

- Não sei, duas semanas?

- E vai para onde sozinha?

- Para praia.

- Me passa todos os horários das suas passagens, o hotel que vai ficar e me manda mensagem todos os dias.

- Por quê?

- Porque eu preciso saber que está segura já que quer ir sozinha.

- Eu vou na sexta que vem. Essa semana, eu vou ficar aqui trabalhando e mantendo minha cabeça ocupada.

- Tudo bem, fica trabalhando daqui da minha sala hoje, não fica sozinha lá for não.

- Tá.

Ela pega o celular para ver a mensagem que acabou de chegar e me mostra após ler.

"Gabi, meu amor. Eu sei que você está chateada e coberta de razão. Eu sei que é por estar tão chateada que não atendeu, nem retornou minhas ligações. E eu sei que tudo que você viu não deixa brechas para explicações. Nem é o que eu pretendo fazer, porque eu sei que nada justificaria isso. Mas minha carreira estava em jogo. Você me daria a oportunidade de explicar o que aconteceu de fato? Se mesmo depois do que eu te contar, você decidir que não pode me perdoar, eu vou entender e assumir toda responsabilidade com nossos pais e deixar você livre."

- O que eu faço?

- Eu não sei. Me diz você, o que sente vontade de fazer?

- Ouvir o que ele tem para dizer.

- Então ouça.

Amor proibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora