Pedro
Quando eu chego, o escritório está vazio, exceto por Gabriela, que nesse momento está sentada na mesa dela olhando para o nada, e percebo que ela está esgotada só de olhar pelas suas feições. Ela tentou disfarçar com maquiagem, mas se tem uma pessoa que eu conheço em detalhes, é ela.
Anos se passaram e eu nunca a esqueci, mas como nunca poderia a ter, aprendi a lidar com o fato de que ela é e sempre vai ser uma grande amiga e uma das pessoas mais importantes na minha vida.
Nesses anos nós fomos mais que amigos, fomos confidentes. Gabriela passou a ser a pessoa que eu mais confio no mundo, tudo na minha vida gira ao redor dela. Ela organiza meus dias, todos os meus compromissos e minha vida. Poucas são as coisas que eu mesmo cuido, e assim mesmo são coisas extremamente pessoais.
Nós sempre estivemos presentes um para o outro, nos momentos tristes, alegres, de diversão, de perda.
De uns anos para cá ela namora o Alex, e pelo que conheci e percebi dele, ele aparente ser uma boa pessoa e parece ser bem apaixonado pela Gabriela, mas quem não seria? Gabriela é incrível, tem seus defeitos, óbvio, todo mundo tem, além de ser uma ótima companheira, quem não seria extremamente grato por tê-la?
- Está encarando o nada por quê, Gabriela?
Ela se assusta e quase cai, virando a cadeira para trás.
- Quer me matar, porra?
- Olha, começamos o dia tecendo palavrões?
- Não, mas você me assustou de verdade.
- O que você tem hoje? Está abatida e visivelmente abalada.
- Me aborreci na sexta passada e tive um final de semana péssimo. E, sinceramente, ainda estou mal.
- E o que te aborreceu?
- Eu não quero conversar sobre isso aqui, você sabe que sou emotiva e vou acabar chorando e daqui a pouco o pessoal do trabalho chega. Não gosto de demonstrar...
Antes dela terminar de falar, eu completo...
- Demonstrar vulnerabilidade. Eu sei. Vamos lá para minha sala, não vou deixar ninguém entrar.
Estendo a mão para ela, que aceita e vamos para minha sala. Fecho a porta com chave e pego um copo d'água para Gabriela, que se joga no meu sofá, já sem nenhuma cerimônia a essa altura do campeonato.
- Sexta-feira eu saí mais cedo porque você viajou e resolvi almoçar no Joe's, depois que eu comi, comprei uma das quentinhas fitness para o Alex e levei até o hospital...
Dai ela me contou tudo o que tinha acontecido e eu estou genuinamente chocado. Poucas pessoas conseguem me surpreender e ele conseguiu. Um caso abertamente público no local de trabalho, onde a mulher dele conhece muita gente e tem livre acesso ao lugar? Muito esperto.
- Eu não estou acreditando nisso.
Ela está chorando e ela sempre fica muito vermelha quando chora. Eu passo a mão no rosto dela, limpando suas lágrimas.
- Não chore.
- Eu chorei muito sábado e ontem, hoje eu estou chorando uma quantidade aceitável para quem já chorou tudo que tinha para chorar. Eu não falei sobre isso com ninguém.
- Podia ter me ligado.
- E acabar com sua viagem? Não... eu passei o final de semana todo pensando no que eu fiz de errado. E cheguei à conclusão de que não fiz nada além de ser uma mulher do caralho para ele. Desde o inicio do nosso relacionamento, eu sempre tive que abrir mão de fazer as coisas que eu queria, de viajar para onde queria, de ir a lugares que eu queria, por causa dos horários apertados dele. Sempre fui compreensiva, companheira, sempre. E agora começo a me perguntar se ele realmente tinha horários apertados ou se ele mentia desde o início.
- Os horários dele são realmente apertados, eu chequei quando você começou a sair com ele.
- O quê?/ - Ela me olha com os olhos arregalados.
- Não me olha assim, eu precisava saber se estava segura.
- Você e seus contatos – ela sorri para mim e limpa as últimas lágrimas – Você acredita que esse caso é recente?
- Talvez... Não acredito que ele tinha muito tempo para manter uma amante, mas é bem conveniente a amante trabalhar no mesmo lugar que ele. Ele não precisaria nem sair do serviço para se encontrar com ela.
- Eu nem o deixei falar nada, e, sinceramente, o que ele poderia me explicar? Ele disse que não queria isso, e realmente pareceu muito arrependido, mas se não queria fez por quê?
- Você realmente quer uma resposta para isso? Se sim, liga para ele e marca um encontro, Essa semana ele acaba os plantões obrigatórios, ele vai ter tempo para conversar com calma. Se não, o bloqueia em tudo e siga em frente e esquece esse assunto. Fica solteira, ou arruma outro, homem não vai te faltar, o que você quer?
- Eu preciso de férias. Eu preciso me afastar de tudo isso por uns dias.
- Tudo bem, de quantos dias precisa?
- Não sei, duas semanas?
- E vai para onde sozinha?
- Para praia.
- Me passa todos os horários das suas passagens, o hotel que vai ficar e me manda mensagem todos os dias.
- Por quê?
- Porque eu preciso saber que está segura já que quer ir sozinha.
- Eu vou na sexta que vem. Essa semana, eu vou ficar aqui trabalhando e mantendo minha cabeça ocupada.
- Tudo bem, fica trabalhando daqui da minha sala hoje, não fica sozinha lá for não.
- Tá.
Ela pega o celular para ver a mensagem que acabou de chegar e me mostra após ler.
"Gabi, meu amor. Eu sei que você está chateada e coberta de razão. Eu sei que é por estar tão chateada que não atendeu, nem retornou minhas ligações. E eu sei que tudo que você viu não deixa brechas para explicações. Nem é o que eu pretendo fazer, porque eu sei que nada justificaria isso. Mas minha carreira estava em jogo. Você me daria a oportunidade de explicar o que aconteceu de fato? Se mesmo depois do que eu te contar, você decidir que não pode me perdoar, eu vou entender e assumir toda responsabilidade com nossos pais e deixar você livre."
- O que eu faço?
- Eu não sei. Me diz você, o que sente vontade de fazer?
- Ouvir o que ele tem para dizer.
- Então ouça.
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Amor proibido
RomanceGabriela é assistente de Pedro em um escritório de advocacia renomado em São Paulo. Os dois são apaixonados um pelo outro, porém sabem que se trata de um amor impossível de se viver. Em razão disso, vivem sua vida paralelamente. Mas um dia o amor do...