Capítulo 17

9 1 0
                                    

Gabriela

Eu não sei o que passou na minha cabeça de contar para o Pedro que sou apaixonada por ele, eu sei que ele tem namorada, eu não deveria ter falado. Poderia culpar a bebida, porém eu nem estou tão bêbada assim mais. Mas há males que vem para o bem. O Pedro tem um compromisso de casamento para daqui a cinco anos e disso eu não sabia. E, sinceramente... quem faz compromisso de casamento hoje em dia? Em que século ele está?

- Que história é essa de casar daqui a cinco anos? Você assinou um compromisso de casamento? Em pleno século 21?

- Não precisei assinar nada, foi de comum acordo – diz ele sem entender minha indignação.

- Você a conhece? Está sendo forçado?

- Eu pareço com alguém que seja forçado a alguma coisa? Claro que a conheço, como eu disse, é de comum acordo.

- Eu nem sabia que esse tipo de acordo ainda existia.

- O que você está querendo insinuar Gabriela? Que sou uma donzela em perigo, esperando que você me salve?

Ele tem razão, eu não tenho nada a ver com isso. Não tenho porquê ficar indignada com nada que ele decida sobre a própria vida. O que eu queria? Que ele largasse seus compromissos para ficar comigo? Ele não tem interesse nenhum em mim, não me ama, como que eu quero cobrar alguma coisa dele? Eu nunca fui muito boa em lidar com a rejeição. Aos poucos percebo que realmente não tenho direito de questionar nada a ele, e estou sendo invasiva em relação a vida pessoal dele.

- Me desculpa Pedro. Eu não tenho direito de me meter na sua vida pessoal só porque eu sou apaixonada por você.

- Eu entendo que esteja decepcionada, pois esperava que eu retribuísse seu sentimento e ficasse com você. Mas você, realmente, não tem direito de querer resolver as coisas por mim. Eu não estou sendo forçado a nada, eu conheço a Alice há anos. Ela é uma mulher linda e muito inteligente, e em comum acordo, decidimos que ela iria para a Itália estudar e que quando voltasse, nos casaríamos. É bom pra ela, para mim, para nossas famílias e está tudo certo.

- E a Andréa?

- Andréa é minha amiga há muito tempo. E nos ficamos exclusivamente um com o outro até que minha noiva volte ou que ela encontre outra pessoa que ela queira se relacionar. Você está curiosa sobre minha vida amorosa ou ainda está tentando achar alguma coisa que te dê esperança que eu esteja sendo forçado a isso?

- Desculpa Pedro. Lógico que eu queria que você largasse tudo por mim, mas é mais do que sobre sentimentos aqui. Eu estou chocada com esse acordo. Acordar em casar daqui a cinco anos, com uma mulher que você se quer se encontra? Estar em um relacionamento sério com uma mulher, estando noivo de outra e estar tudo certo? Daqui a cinco anos você termina com a Andréa, se ela ainda estiver com você, se casa com uma mulher que nem vai conhecer mais, porque todo mundo muda dia após dia, que dirá em cinco anos. Eu não consigo entender. Desculpa.

- Quem te disse que eu só vou encontrá-la daqui a cinco anos? – Ele arqueia uma sobrancelha – Eu a vejo com frequência. E antes que pergunte, sim, ela sabe da Andréa. Assim como ela também tem seus casinhos lá, e isso não é um problema para gente. Nossa fidelidade só vigorará quando ela voltar. Simples assim. Você pode não ter visto muitos relacionamentos assim, mas é muito comum entre famílias ricas. Inclusive, casos em que as partes são obrigadas a isso para manter a linhagem das famílias. Mas eu sou livre Gabriela. Eu não tenho pais e minha única tia, não tem o menor interesse financeiro nisso. Eu aceitei unir nossas famílias por vontade própria. Eu sou o dono das minhas decisões e das consequências delas.

- Entendi. Só espero que você seja feliz então. A partir de amanhã, eu não vou falar sobre sua vida pessoal e peço que esqueça tudo que te disse hoje porque eu vou seguir minha vida e te esquecer. E prometo não deixar nada disso afetar nossa relação profissional.

- Eu espero que você não deixe nada disso afetar nossa relação profissional de verdade. Você é uma excelente profissional, está se saindo muito bem no trabalho, aprende rápido, e eu detestaria ter que te substituir.

Eu realmente passei todos os limites hoje. Como que eu tento controlar a vida pessoal do meu chefe só porque eu queria que fosse tudo diferente. Que vergonha. Ele tem toda razão por estar indignado pela minha intromissão. Eu vou esquecer tudo isso e manter meu emprego, nem que seja a última coisa que eu faça.

- Claro senhor Pedro. Obrigada por toda a ajuda de hoje, amanhã logo pela manhã eu mesma vou marcar um horário com o chaveiro após a consulta que marcou para mim. Não precisa mais se incomodar com nada, seu voo é logo cedo amanhã. Muito obrigada por tudo, mas vá tranquilo.

- Tem certeza? Eu posso ficar para te ajudar.

- Não. Você é meu chefe e não deveria estar envolvido em nada disso. Vá encontrar sua namorada e seu sogro – coloco todo meu sarcasmo na voz ao dizer as últimas palavras.

- Eu sou seu chefe, mas posso ser seu amigo se permitir. E não pense que não percebi o sarcasmo ao se referir a Andréa e a família dela.

- Você tem uma namorada e uma noiva ao mesmo tempo e quer que eu não julgue?

- Sim. Você não deveria julgar algo que não conhece, que não vive. Achei que tinha dito que ia ser profissional.

- Você tem razão e se quer saber, acho tudo isso uma pouca vergonha, mas não vou julgar mais. Eu disse que ia ser estritamente profissional, a partir de amanhã.

Ele gargalha. Ele é lindo, meu príncipe inalcançável, mas que preciso superar.

- Tá certo. A partir de amanhã então. Quer me dizer mais alguma coisa enquanto ainda tem chance?

- Eu queria ter perdido minha virgindade com você. Passei meses sonhando com isso.

- Ah é? – Ele está me olhando com os olhos arregalados.

- Sim. Você não será meu primeiro, mas agradeço imensamente por ter impedido que tenha sido outro a força.

- Eu espero que tenha a primeira vez que sempre sonhou e que seja com um cara que possa te dar o mundo porque você não merece menos do que isso – vejo um relance de tristeza em seus olhos, mas ele disfarça e continua – boa noite Gabriela, se você não acordar antes do meu horário para ir ao aeroporto, minha governanta estará aqui e pode fornecer tudo que quiser. Vou deixar um papel na mesa da saída com os dados da doutora, a consulta é as 10:30. Assim que sair da consulta, você deve passar na delegacia daqui do bairro mesmo para prestar depoimento. Chame Ricardo para ir com você, ele além de seu amigo, é advogado. Se precisar de qualquer coisa, me ligue.

- Você pode deixar o número do Ricardo junto com os dados da doutora? Eu não sei de cabeça.

- Claro, deixo sim. Peça o celular emprestado a dona Maria, se precisar.

- Muito obrigada por tudo, mais uma vez. Boa noite.

- Boa noite.

Ele sai do quarto e eu desabo na cama... Que noite! Eu só queria abrir um buraco e me esconder por lá até o voo do Pedro sair.

Amor proibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora