Capítulo 17

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 Estou sentada de joelhos na cama, uma neblina extensa preenche o quarto, me inclino pra frente e olho para o chão mas não consigo ver o piso é como se não houvesse nada ali.
  De repente me assusto quando escuto um som ecoando do canto do quarto e percebo que ele vem de uma penteadeira. O único móvel que eu consigo ver com clareza.
  Tem um papel sobre ela, não enxergo bem mas identifico que é um desenho de um corvo. Uma pena preta cai em cima do desenho (Da onde ela veio?)
  Saindo em seguida um líquido escuro transborda de cima da folha sujando todo o móvel. Parece tinta... Uma sombra sem forma se ergue do papel se esgueirando nas paredes, eu entro em pânico mas nenhuma palavra saí da minha boca.
  Me encosto na parede olhando assustada para aquele coisa horrenda que se materializa na minha frente.
  A sombra tem a forma de uma pessoa mas com a neblina não consigo ver se é homem ou mulher. Arregalo os olhos quando a silhueta se desfaz em vários corvos que começam a voar pelo quarto e se jogarem na parede. (Estão se matando!)
  De novo eu tento gritar mas não adianta, o sangue espesso vermelho carmesim das aves começam a escorrer pelas paredes e eu não consigo me mover.
  Uma delas em específico pousa na minha frente e parece olhar no fundo dos meus olhos. Os olhos dela... São familiares.

  – O TEMPO ESTÁ ACABANDO.

  Olho para todos os lados procurando quem disse aquilo e então levanto de uma vez da cama ofegando, meu corpo está coberto de suor. Foi um pesadelo.
  Meu coração está acelerado parece que vai sair pela boca, eu preciso de água. Pego a garrafa que deixei ali e assim que tomo o primeiro gole me lembro do Jake e meu desespero fica maior.
  SERÁ QUE ELE JÁ VOLTOU?! Sem pensar duas vezes pulo da cama saindo do quarto depressa.
  Entro como por um impulso no quarto do Jake. Então o vejo sentado na cama enquanto passa a mão no rosto parecendo cansado. Eu sinto um alívio no mesmo instante que o vejo.
  (Eu quase tive um ataque cardíaco por causa desse idiota com cara de quem não dorme faz 3 meses!)
  O Jake percebe minha presença quando olha para porta.

  – S/n? Eu não pensei que você ainda estivesse acordada.

  Ele me olha surpreso enquanto eu seguro as lágrimas que ameaçam transbordar em meus olhos.

  – Você está... aqui – Falo com dificuldade.

  Ele fica preocupado ao ver minha expressão. Rudy disse que ele iria conseguir e que nada fosse acontecer, mas eu senti tanto medo. Sinto que se eu disser mais alguma coisa vou desmoronar aqui mesmo.
  Jake se levanta de imediato e vem até mim depressa.

  – Meu anjo – Ele segura minhas mãos – Você está tremendo.
 
  Jake me olha com preocupação sua respiração também está descompensada.

  – Vem – Ele me leva para sentar em sua cama e me pede para respirar fundo.

  Mas eu me jogo em cima dele ficando entre suas pernas para lhe dar um abraço. Ele bate as costas na cabeceira da cama com a força do impacto.

  – Wow – Ele dá um soluço de surpresa.

  Quando sinto seu corpo quente contra o meu, e o seu cheiro amadeirado eu permito que as lágrimas de alívio escorram pelo meu rosto.
  Sinto um turbilhão de emoções ao mesmo tempo, o medo de perde-lo, o alívio, a preocupação, a felicidade por vê-lo.
  O Jake demora um pouco, talvez surpreso ou envergonhado pela aproximação repentina, mas finalmente retribui o abraço passando uma mão pelas minhas costas e a outra pelo meu cabelo.

  – Está tudo bem... – Ele sussurra com ternura – Está tudo bem, meu anjo...

  Eu sinto o corpo dele estremecer contra o meu e então percebo que o Jake também sentiu medo.

  – O que aconteceu, S/n...?

  – Foi só... Um sonho ruim.

  Eu saio de cima dele limpando o rosto e me sento ao seu lado.

  – Por que não me avisou que chegou?

  – Você estava dormindo e eu não quis te acordar.

   Ele desencosta da cabeceira e se senta na beirada da cama pronto pra se levantar.

  – Eu vou buscar um copo d'água pra você.

  Não quero que ele se afaste, eu seguro sua mão e o olho pedindo para que não saia.

  – Não. Por favor, fique.

  Ele me olha surpreso então desvia o olhar com seu rosto corando (tão fofo).
  Jake concorda com a cabeça se sentando encostado na cabeceira de novo e me puxa pra si. Eu enterro meu rosto em seu peito e passo meus braços ao redor da sua cintura. Ele me embala de forma acolhedora.
  E enquanto estou abraçada a ele sinto uma lágrima molhar o meu rosto, mas não é minha, é dele. O peito do Jake se enche em um suspiro de alívio.

  – Foi só um pesadelo.

  Aos poucos o medo e a aflição que apertavam meu peito vão se esvaindo. Eu me sinto segura, que nada nem ninguém pode me tocar quando estou com ele.

  – Eu senti sua falta...

  – Eu estou aqui agora, não chore...

  Ele me abraça como se precisasse de mim tanto quanto eu preciso dele. Nós ficamos assim por longos minutos, ele acaricia meus cabelos e eu continuo com o rosto escondido em seu pescoço.
  O calor dele nessa noite gelada me faz sentir segura, que agora tudo vai ficar bem.

  – Eu pensei que você fosse quebrar sua promessa – Eu digo baixo.

  Ele mergulha os dedos no meu cabelo.

  – Ninguém vai me separar de você S/n. Ninguém.

  A voz doce dele me faz ficar sonolenta e aos poucos eu sinto meus olhos pesados, e mesmo que eu lute para não dormir e continuar agarrada ao seu abraço o sono vem violento.

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