Capítulo 27

172 66 13
                                    


Maria Eduarda

Passei a viagem de volta da fazenda para casa ensaiando mentalmente o que um dia falaria a Pedro sobre as minhas inseguranças, só não imaginava que no dia seguinte estaria frente a frente com ele.

Um Pedro quase feroz me aguardava que falasse algo. Nós dois de pé, digladiando em olhares.

— Eu tive um namorado, talvez um pouco a mais do que isso, já que praticamente fomos morar juntos. Resumindo a história, em um determinado dia tocou a campainha do apartamento dele e eu descobri que o meu namorado tinha uma esposa. Depois fiquei sabendo que eles estavam em processo de separação e ela ainda estava grávida. Eu me senti traída. Fiquei mal, Pedro. Durante dois anos minha vida se resumiu à faculdade e ao trabalho na BTeng. Eu não queria nunca mais me envolver com outro homem, não podia deixar que me machucassem novamente. A primeira vez que saí de casa para encontrar minha turma de amigos foi naquela vez que ficamos juntos na casa dos gêmeos. Eu viajei no dia seguinte bem mexida e, até você ir à Alemanha, eu tinha muitas lembranças daquela noite. Mas ao mesmo tempo, tudo o que passei quando descobri a verdade sobre o meu ex ainda me assombrava. Até estarmos juntos na Alemanha. Ao seu lado eu não me lembrava de mais nada da minha antiga relação, Pedro. E aí experimentei outro sentimento, o medo. Você então voltou ao Brasil... — Fiz uma pausa, os olhos ardendo, pois eu segurava bravamente as lágrimas, meu coração palpitando dentro do peito. — Quando você foi embora eu senti saudades, queria você lá. E isso me assustou.

Ele não desviou o olhar em nenhum momento, sua feição estava impassível, soltou os braços e colocou as mãos nos bolsos da calça.

— E o jeito que arrumou para resolver o seu problema foi me tirando da jogada. Me ignorava e quando resolvia responder alguma mensagem minha era grosseira. Tenho vinte e sete anos, Maria Eduarda, você também não é criança. Sinto muito pelo o que passou com o seu ex-namorado, mas eu não sou ele. Agora preciso ir finalizar a reunião com o seu pai.

Doeu sua indiferença, ainda mais por ter feito pouco caso da intimidade que lhe contei. Eu queria chorar de raiva, mas nunca que faria isso na frente dele. Pedro caminhou em direção à porta, antes tendo pegado o celular sobre sua mesa de trabalho. Ele deu espaço para que eu passasse e fui, um tanto incerta em meus passos.

Pedro

Não queria ser injusto com Maria Eduarda, eu, inclusive, era o cara que sempre buscava o diálogo, mas me pareceu uma puta coincidência ela me procurar em minha sala justamente no dia em que teve um embate com Grazi, sendo que eu observei como o seu olhar grudava em mim a cada vez que minha funcionária tentava demonstrar certa intimidade entre nós dois. Eu pesquei tudo, até as reviradas de olho que Maria Eduarda lhe direcionou.

Após o seu desabafo em minha sala, me adiantei até a sala onde Eduardo e Alexandre nos esperavam. De soslaio vi quando ela entrou no banheiro do corredor. Na certa iria disfarçar para não chegarmos juntos. Não foi fácil encará-la. E o incômodo me pareceu ser recíproco, pois Maria Eduarda me evitou durante os longos sessenta minutos seguintes, na verdade, estava também bem aérea, recebendo olhares desconfiados do pai. Já Alexandre erguia a sobrancelha e ostentava uma careta ridícula, como se dissesse que sabia que estava rolando algo.

— Não gosto de ser precipitado, mas será difícil para qualquer outra empresa concorrer com a Casa Salomão. O trabalho que você preparou está redondo e extraordinário. Você vai longe, garoto! — Havíamos finalizado a reunião e nos despedíamos no hall da presidência, próximo aos elevadores.

— Mais uma vez, obrigado por ter confiado em mim e aberto essa porta, Eduardo. Como te disse naquele dia no churrasco, irei fazer valer a pena. — Eu não falava da boca para fora. Eduardo confiou em meu trabalho e eu precisava correspondê-lo à altura. Além disso, me sentia verdadeiramente grato pela oportunidade que recebi.

Duda e o CEO - Série Irmãs Klein - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora