Capítulo 3

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Da primeira carteira na fileira do meio, eu observava a neve derreter em um galho de cerejeira pela grande janela da sala. A nova professora se apresentava e explicava algo sobre o nosso último ano escolar, mas o fato era que eu realmente não conseguia prestar atenção em nenhuma palavra. Minha cabeça martelava em uma única pessoa e nada conseguiria fazer Andrew Musgrove — que felizmente não havia entrado na sala — desaparecer dos meus devaneios.

Estávamos a um ano nos encontrando — transando — e foi com ele que descobri minha sexualidade, mesmo que tudo tenha sido tão confuso no início. Confesso que nunca imaginei que um dia estaria com Andrew, o garoto problema de Arcadia Petals e dois anos mais velho que eu. Eu tinha 16 e ele tinha acabado de completar 18 quando ficamos sozinhos no vestiário masculino. A um ano atrás eu não compreendia o desejo que sentia por ele. Seu corpo e lábios eram tão chamativos e eu não conseguia aceitar o que estava sentindo. Se eu soubesse que ele retribuiria o beijo que o dei por impulso, talvez eu nunca o teria beijado.

O fato de Andrew não sair da minha mente me assusta. Eu já deveria ter encerrado aqueles encontros há muito tempo. Eu não posso me apaixonar por ninguém que não seja Florence Pringle, muito menos se esse alguém for um garoto. Lewis não faz a mínima ideia de que sou bissexual.

Sou arrancado dos meus devaneios quando a porta da sala é aberta bruscamente, atraindo não apenas a minha atenção. Esperei que Andrew entrasse furioso, seja lá qual fosse o motivo, ele nunca estava de bom humor na primeira aula. Não entendi quando em vez do cheiro característico de cigarros e perfume masculino barato, um cheiro suave de lavandas tomou a sala.

— Bom dia. Meu despertador não tocou sabe, então eu me atrasei um pouquinho. Sou nova na escola e demorei um bocado para descobrir a sala da primeira aula e...

— Tudo bem senhorita, entre por favor. — A professora interrompeu a garota, talvez para fazê-la parar de falar como um papagaio.

A visão seguinte foi realmente agradável para meus olhos. A garota era baixa, sua pele era bastante pálida e seu rosto possuía algumas marcas de acne. Usava um casaco felpudo rosa, sua calça jeans era aparentemente uma flare de cintura alta, que situava seus quadris largos e sua cintura. Seu corpo era de uma beleza renascentista. Mas o que mais chamou minha atenção — além dos diversos anéis coloridos em seus dedos delicados e suas unhas pintadas de um amarelo claro — foram seus olhos castanhos esverdeados, tão expressivos e cheios de alegria que no fundo os invejei.

Ela já sorria para os quatro cantos da sala, mas em especial, quando seus olhos se encontraram com os meus, senti ter recebido o sorriso mais genuíno e largo do mundo. Seus dentes não eram perfeitamente alinhados ou perfeitamente brancos como leite, mas eram lindamente únicos.

— Eu me chamo Cassidy Stewart, acredito que meu nome já deva estar na lista professora...? — Seus olhos não desviaram um segundo de mim enquanto ela falava.

Corei com seu olhar intenso sobre mim e ainda mais quando senti os outros nos encarar. Desviei meus olhos para a janela novamente e tentei fingir que não me interessava nem um pouco por ela, que não estava curioso.

— Auristela. Cassidy, escolha uma carteira disponível para se sentar. Até agora apenas me apresentei, você não perdeu nada. — O tom da nova professora era gentil.

Muitos cochichos irradiavam pela sala, mas meus ouvidos pareciam querer focar apenas nos passos lentos da garota que se chamava Cassidy. Quando me dei conta, ela estava sentada na segunda carteira da primeira fileira, o que tornava o meu campo de visão bastante confortável. Nosso olhar se cruzou novamente, já que eu não fiz o mínimo esforço para desviar os olhos dessa vez. Ela sorriu mais uma vez mostrando os dentes e por algum motivo desconhecido, senti algo estranho no peito. Desviei o olhar para a lousa, tentando ignorá-la, momento algum sorrindo de volta.

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