Capítulo 5

65 5 80
                                    

"Que as flores o faça sorrir
Pois a primavera está a reflorir"

Procurei em todos os cantos daquele pequeno pedaço de papel o número de Cassidy, mas a única coisa escrita era aquela frase... aquela frase estranhamente adorável.

— O que é isso? Você p-parece muito concentrado. — Louisa se inclinou no banco do carro para olhar. Parecia bastante inquieta.

Entreguei o pedaço de papel para Louisa, ela o pegou com delicadeza para ler. Nunca tive problemas em compartilhar as coisas com Louisa, bem... Exceto sobre Andrew, é claro.

— Louis, o que significa r-reflorir?

— Se não me engano é apenas uma variação da palavra florescer. Acho que ela a usou para fazer a rima quando escreveu.

— Ela? Quem escreveu? — Louisa arqueou uma sobrancelha.

Percebi a forma como Royer prestava atenção em nossa conversa, era óbvio que ele contaria para Lewis uma versão distorcida sobre eu ter ganhado um "bilhete" de uma garota que não era Florence. Mas eu já estava acostumado o suficiente com isso para saber muito bem oque responder.

— Florence me entregou ontem.

— Que f-f-fofo

Louisa me devolveu o pedaço de papel e voltou sua atenção para a janela do carro.

Aquilo era curioso. Eu jurava que naquele papel teria o número de telefone de Cassidy. Não que eu esteja desapontado, eu mal uso o celular e confesso ter gostado de receber aquilo dela. A verdade é que minha curiosidade sobre ela aumentava a cada dia.

— Te vejo no refeitório. — Puxei o casaco laranja de Louisa e beijei sua testa, ajeitando seus cabelos longos atrás da orelha.

Ela deu um sorriso fraco antes de caminhar até a escola. Caminhei pelo pátio procurando por Florence e Miranda, mas elas ainda não haviam chegado. Dei sorte de não cruzar com Andrew, apesar de que seria provável dele nem olhar na minha cara. Me pergunto se tudo realmente havia acabado... Eu sei que é a melhor coisa a se fazer, dar um fim nos encontros e aceitar a realidade. Mas eu vou sentir falta do toque dele, eu sei que vou. Suspirei encostando no muro próximo a porta principal, felizmente haviam poucos alunos e ninguém olhava diretamente para mim. Talvez estivesse na hora de queimar aquele quadro que pintei de Andrew, eu não queria nem que ele sonhasse sobre a existência dele.

Ainda faltavam 20 minutos para bater o sinal, eu e Louisa chegamos muito cedo hoje. Ela deve estar organizando seu armário, havia me dito essa manhã que queria fazer isso hoje. Entediado, retirei meu caderno de desenho da mochila e peguei um lápis, pronto para desenhar as paisagens ou pessoas em minha volta. Nunca fui muito bom em desenhos, sempre fiz meros rascunhos. Meu negócio mesmo era pintar em telas, com pincéis ou até mesmo com as mãos.

Uma garota baixa, de cabelos castanhos  claros e curtos e que usava um óculos preto aparentemente desgastado chamou minha atenção. Ela estava sentada, cabeça baixa e acanhada, segurando um livro velho. Tentei desenhar seu rosto no papel, ele era fino e seu nariz um tanto grande. Eu não estava muito inspirado e o resultado final não foi tão bom. Suspirei, fechando o caderno desapontado comigo mesmo.

Como eu poderia ficar inspirado com tantas coisas acontecendo de uma vez só?

— Bom dia.

Virei rapidamente, dando de cara com um sorriso que parecia ainda mais bonito. Cassidy usava um vestido rosa claro, acompanhada de uma meia calça engraçada e um all star amarelo. Um simples suéter poliester amarelo limão cobria seus ombros. Eu não deveria, mas foi impossível não reparar em seus quadris que estavam marcados pelo vestido fofo.

PrimaverilOnde histórias criam vida. Descubra agora